Benfica-Marselha, 1-1 (crónica) - TVI

Benfica-Marselha, 1-1 (crónica)

Pequenos passos em tarde de sol Não foi um jogo a sério, foi uma respeitável sessão de trabalho, destinada a reforçar os níveis de confiança de alguns elementos do plantel, a baptizar umas quantas esperanças e a acentuar alguns dos conceitos de jogo típicos do Benfica de Mourinho. Nesse sentido, deram-se pequenos passos. E nesta altura, qualquer pequeno passo que não termine em tropeção tem sabor a vitória para os encarnados.

Só com grande dose de boa vontade poderia tentar encontrar-se alguns pontos comuns entre este particular e o mítico jogo de há dez anos, que a mão de Vata ajudou a imortalizar.  

Apesar de toda a promoção feita nesse sentido, qualquer perspectiva de desforra histórica era um absurdo. A começar pelo pormenor incontornável de nenhum dos jogadores em campo ter vivido essa quarta-feira, mágica para uns, negra para outros, e a acabar na realidade indesmentível de nem Benfica nem Marselha terem, nesta altura, meias-finais de competições europeias nos seus horizontes mais próximos. 

Como é natural, o público foi também dessa opinião. Não chegaram a dez mil os espectadores presentes na Luz, e mesmo esses mais motivados pela perspectiva de acompanhar um novo passo (de reduzido significado, é certo) na reconstrução do Benfica pós-Heynckes do que na ilusão de qualquer reencontro com a história.  

A presença de um Dani que deixara boas indicações na estreia oficial com o Sp. Braga e o chamariz de meia dúzia de jovens promessas vindas da equipa B atraíram o resto dos espectadores, num encontro entre dois grandes da Europa que tentam, por entre enormes dificuldades, recuperar as glórias do passado. 

Passando de largo sobre um Marselha de recurso, privado de oito potenciais titulares (Perez, Leroy, Maurice, Ingesson e Abardonado, lesionados e Issa, Bakayoko e Camara, nas respectivas selecções), fixemo-nos no Benfica.  

Confiança, precisa-se 

Depois da tremenda decepção na última segunda-feira, quando o empate frente ao Sp. Braga acabou por ser castigo pesado para uma das mais encorajadoras exibições da época, José Mourinho encarou esta etapa como um pretexto claro para, por um lado, motivar jogadores que andavam afastados da primeira equipa (Bossio, Dudic, Sérgio Nunes e Uribe) e, por outro, tirar partido de outros que, nos últimos jogos, foram dando sinais de subida de forma.  

Dani à parte - está numa fase em que quantos mais minutos tiver nas pernas, melhor - Carlitos, Chano, João Tomás e Diogo Luís tinham aqui a oportunidade para se aproximarem um pouco mais do estatuto de primeiras opções. A presença no banco de Van Hooijdonk tinha a dupla utilidade de dar descanso ao mais eficaz jogador encarnado na época em curso, servindo, ao mesmo tempo, como uma espécie de apólice de seguro, para o caso de a segunda parte implicar a entrada em campo de artilharia pesada.  

O espírito de treino não podia ter ficado mais claro após 45 minutos jogados, de parte a parte, num ritmo pausado. A preocupação encarnada era não cometer erros primários na circulação de bola, de forma a assimilar melhor o esquema preferido de Mourinho (um 4x1x2x3 idêntico ao utilizado nos últimos jogos, mas com intérpretes diferentes).  

Com Dani a protagonizar as iniciativas mais venenosas pelo centro, e com Carlitos a tirar partido dos espaços concedidos pelos avanços sistemáticos do lateral-esquerdo Dos Santos, o Benfica começou por dispor das melhores oportunidades, mas, sem surpresa, permitiu a subida no terreno dos franceses, impulsionados a golpes de Marcelinho, que com o seu compatriota Adriano dava o toque de alegria abrasileirada aos homens de Abel Braga. 

Bossio deve ter chegado ao intervalo com o moral em alta, após duas ou três intervenções de muito bom nível a remates do brasileiro, mas se Mourinho ia, por certo, recolhendo informações úteis para a definição do futuro, o exercício tornava-se pouco aliciante para os espectadores, acessórios-extra numa respeitável sessão de trabalho, em que o objectivo principal, para o Benfica, era ir criando novas rotinas, para permitir estabilizar os níveis de segurança. 

Pequenos passos 

É claro que face à crise de confiança que os últimos (largos) meses instalaram na Luz, uma nova derrota, mesmo a feijões, criaria mossas mais profundas do que os benefícios colhidos de uma eventual vitória. E foi com este cenário que Mourinho se viu confrontado logo no início da segunda parte, quando o golo dos visitantes - num lance que nada tem de inédito para a defesa encarnada - fez com que a anunciada injecção de juventude se fizesse num contexto preocupante. 

Mas a apólice holandesa funcionou em pleno, e o golo de Van Hooijdonk -dêem-se as voltas que se queiram, a sua contratação foi providencial - estimulou as novas apostas vindas do banco. E o Benfica, com seis jogadores da equipa B e apenas dois titulares habituais (Van Hooijdonk e Maniche), terminou o jogo na mó de cima, carregando sobre um Marselha sonolento e desperdiçando, como de costume, algumas ocasiões claras para chegar ao segundo golo. 

Terminava sem consequências de maior uma sessão de trabalho que, no fim de contas, permitiu a José Mourinho cumprir alguns objectivos importantes: aprofundar os ensaios tácticos, acelerar a evolução de forma de Dani - elemento chave no futuro imediato da equipa - e lançar alguns jovens de sangue na guelra, que sem deslumbrarem, deixaram algumas indicações interessantes para o futuro, tudo isto sem perder o jogo. Não é muito? Não senhores, mas a actual situação do Benfica obriga, por enquanto, os seus responsáveis a satisfazarem-se com pequenos passos, desde que estes não resultem em tropeções.

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