Aquele especialista é responsável pelas áreas de psiquiatria e pedopsiquiatria do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (DADIn), organização que sexta-feira acolhe o primeiro Simpósio Português de PHDA no Adulto.
Apesar da PHDA afectar cerca de três em cada cem adultos portugueses - segundo estimativas baseadas em indicadores europeus -, este é um diagnóstico que raramente é colocado em psiquiatria de adultos, explicou o médico.
Pelo contrário, a PHDA é hoje facilmente diagnosticada nas crianças, uma vez que cada vez mais são conhecidos os seus sintomas:
irrequietude permanente, dificuldade em manter-se quieta, dispersão e incapacidade de estar atento, o que conduz ao insucesso escolar.
Estas crianças - cerca de quatro a oito por cento da população infantil portuguesa - terão uma vida praticamente normal após o diagnóstico e o tratamento (medicamentos) e têm fortes probabilidades de obter resultados escolares acima da média, esclareceu Carlos Filipe.
Metade das crianças com PHDA serão adultos com esta perturbação, sendo então muito mais complicada e arriscada a gestão da doença.
O que é aceite facilmente nas crianças - desatenção inquietude - pode dificultar as relações familiares, profissionais e sociais de um adulto com PHDA.
Segundo Carlos Filipe, um adulto com PHDA "salta de emprego em emprego por estar constantemente insatisfeito ou porque a falta de atenção levou ao seu despedimento, não consegue estar sentado à secretária, inicia muitas tarefas ao mesmo tempo, mas é incapaz de as terminar e esquece-se com tamanha facilidade que chega a esquecer-se dos filhos".
Com estas características, a convivência torna-se "dolorosa" e o adulto entra numa procura constante de bem-estar que "pode terminar com o recurso a substâncias como a droga (principalmente cocaína e haxixe) e o álcool para acalmar a ansiedade permanente".
Segundo o psiquiatra, existem estudos epidemiológicos que indicam que mais de metade (60 por cento) dos dependentes de droga e álcool sofre de PHDA.
"As drogas e o álcool são utilizados quase de uma forma terapêutica para «acalmar»", adiantou.
Os problemas que a maior parte dos adultos que sofrem de PHDA não ficam por aqui, existindo igualmente uma relação directa entre esta perturbação e os acidentes rodoviários, devido à incapacidade de concentração.
"A PHDA ao longo da vida" é o tema nuclear do simpósio que decorre sexta-feira no auditório do CADIn, em Cascais, e que contará com a participação de investigadores e clínicos com longa experiência nas áreas do diagnóstico e terapêutica desta perturbação.
Adultos procuram na droga e alcool remédio para «acalmar»
- Redação
- Lusa/RPB
- 9 set 2004, 16:37
A maioria dos dependentes de drogas e álcool sofre de Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA), uma doença que torna as crianças permanentemente irrequietas e os adultos instáveis e de convivência dolorosa, segundo o psiquiatra Carlos Filipe.
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