Catalina Pestana admite possível continuidade dos abusos na Casa Pia - TVI

Catalina Pestana admite possível continuidade dos abusos na Casa Pia

Catalina explica como funciona a Casa Pia desde 1975

A provedora da Casa Pia de Lisboa admitiu ontem que os abusos sexuais de menores podem continuar a acontecer actualmente na instituição, onde tal prática poderá ter décadas. Catalina Pestana começou hoje a ser ouvida no Tribunal de Santa Clara, em Lisboa.

A provedora falou de casos de abusos que não fazem parte do processo e que envolveram alunos da instituição ou alunos da instituição com educadores, refere a Lusa.

«Esta história é longa, não posso dizer se tem décadas ou mais, nem se houve algum período em que não acontecesse, nem lhe posso garantir que agora não aconteça. É tão duro quanto isto», afirmou a provedora na 29ª sessão do julgamento.

A provedora disse que conhecia o principal arguido, Carlos Silvino, confirmando que se encontrou com ele já depois de ter sido detido, bem como Manuel Abrantes, ex- provedor-adjunto e igualmente arguido, embora tivesse com os dois uma relação apenas de trabalho.

Catalina Pestana disse que teve conhecimento das violações de menores através de um professor de relojoaria (mestre Américo) e que confrontou o provedor da altura, Luís Rebelo, tendo este dito que não havia provas contra Carlos Silvino.

Afirmando que em relação ao abuso de raparigas da Casa Pia há ainda «uma história por contar», Catalina Pestana distinguiu entre jogos sexuais entre alunos, quando ambos estão de acordo com a prática, e os abusos. Quanto a estes, a provedora disse que teve conhecimento de casos esporádicos em reuniões de directores, que pelo que sabe optavam por transferir para outros colégios ou o abusador ou o abusado. «Hoje sei que essa prática era muito mais generalizada do que as notícias pontuais da época».

Sempre em resposta a perguntas da juíza Ana Peres, Catalina Pestana disse que ex-alunos que frequentaram a Casa Pia na década de 70 e 80 lhe disseram «claramente que havia abusos sexuais». «O que me foi relatado por ex-alunos que frequentaram (a Casa Pia) nas décadas de 70 e 80 foram abusos de colegas mais velhos e abusos por funcionários da casa e por terceiros», afirmou, citando depois o nome de algumas dessas pessoas que relataram os factos.

Questionada sobre se teve conhecimento de que jovens da Casa Pia se prostituíam admitiu que sim, acrescentando que teve um primeiro contacto com essa realidade quando era professora em Pina Manique (década 80).

Segundo a provedora, a Casa Pia são dois mundos, um até às 18h00, quando lá estão professores, funcionários e alunos semi-internos, e outro depois, quando nos colégios ficam apenas os alunos internos, ao cuidado de educadores que, por exemplo «iam todos, ao mesmo tempo, tomar café».

Como foi possível acontecer estas violações nos últimos 20 anos? À pergunta da juíza Catalina respondeu com problemas estruturais, com uma «regra informal» entre os alunos que é «de ouro» e que é o silêncio. Culpados, disse, são todos, incluindo o Estado, que exigia que «três adultos assumissem responsabilidades por 25 crianças» 24 horas por dia.
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