Médicos: “Fomos empurrados para esta greve” - TVI

Médicos: “Fomos empurrados para esta greve”

Sindicato Independente dos Médicos assegura que o protesto não avançou “de ânimo leve”. E sublinha que, se após esta greve, as negociações com o Governo não avançarem, estão previstas “novas formas de luta”

Os médicos em greve esta quarta e quinta-feira acusam o Governo de ser o grande responsável por este protesto de dois dias ter avançado. Estes profissionais de saúde estão em greve, durante dois dias, em “defesa da sanidade mental dos médicos, por um lado, e, por outro, para diminuir a possibilidade de erro”. E acusam o ministro Adalberto Campos Fernandes de não gostar tanto do Serviço Nacional de Saúde como diz.

Fomos empurrados para esta greve. O Sindicato Independente dos Médicos e a Federação dos Médicos têm no seu currículo, em negociações conjuntas, 34 acordos com Governos das mais diferentes cores políticas. (…) Somos os primeiros interessados em que esse acordo seja possível, daí termos aguardado até à última”, assegura Roque da Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), em declarações ao Diário da Manhã da TVI.

“O ministro da Saúde não pode dizer que adora o Serviço nacional de saúde e assistir impávido e sereno a que 20% dos concursos que são abertos para jovens especialistas não têm assistentes seniores, não têm assistentes graduados, porque estão a sair para o privado, sem nada ser feito”, exemplifica o responsável sindical, sublinhando que “nos últimos seis anos foram reformados 1400 seniores e não foram repostos”.

Daí decorre uma falta de hierarquia técnica, uma diminuição da capacidade que os serviços passam a ter na formação de novos médicos e novos especialistas.”

Os médicos asseguram que nenhuma situação de urgência ficará por atender nestes dois dias de protesto.

Estivemos um ano à espera de uma negociação a um bom porto. Um médico não faz greve de ânimo leve, por isso é que é a terceira vez que nós fazemos greve durante a democracia. Causa incómodo aos nossos utentes, mas nós também vamos contar com a compreensão deles, porque as matérias que estão em discussão estão-no para defesa da sanidade mental dos médicos, por um lado, e, por outro, para diminuir a possibilidade de erro”, diz Roque da Cunha.

“A equipa negocial é muito simpática. Aliás um dos problemas que nós exigimos é que passe a ser o ministro da saúde a tomar parte desse processo negocial. (…) Não pondo em causa a simpatia e a agradabilidade dos senhores secretários de estado, a verdade é que é muita parra e pouca uva. E as matérias que pomos em cima da mesa nem sequer são para amanhã. São matérias para a próxima legislatura”, acrescenta.

Veja aqui quais os serviços afetados por esta greve.

Primeiras horas com adesão de 100%

De acordo com o Sindicato Independente dos Médicos, a adesão à greve relativa ao turno das 00:00 às 08:00 desta sexta-feira terá sido de 100%.

Ainda é muito difícil fazer um balanço objetivo da adesão a esta hora, mas estimamos que entre as 00:00 e as 08:00, tenha sido de 100%. Só estiveram a ser cumpridos os serviços mínimos”, adiantou.

Apesar de ainda não ter dados mais concretos, Jorge Roque da Cunha disse que, por exemplo, no Hospital de Braga só funcionaram dois blocos operatórios e em Matosinhos, no distrito do Porto, nenhum dos blocos funcionou.

“Esperamos uma adesão maciça”

No Hospital de São José em Lisboa, as representantes dos dois sindicatos que convocaram esta greve sublinham que “a guerra dos números não interessa, o que interessa são as razões desta greve”.

O povo português conhece os seus médicos e sabe que os médicos estão sempre prontos a dar o seu melhor pela população portuguesa e compreende que todos os profissionais querem um salário justo pelo seu trabalho”, acredita Teresa Fevereiro, representante do SIM no Hospital de São José.

 

Esperamos uma adesão maciça. Os jovens também estão mobilizados e esperamos que eles também se empenhem em defender as carreiras, o seu local de trabalho, a sua dignidade, em defender os doentes”, diz Leonor Paixão, representante da Federação Nacional dos Médicos (FNM) também no Hospital de São José.

A TVI falou com utentes no Hospital de São João, no Porto, que asseguram terem sido atendidos dentro da normalidade e sem grandes atrasos.

“Estive a falar com o meu médico e ele disse-me mesmo que até estava com medo que alguns doentes não aparecessem com medo da greve”, revelou um utente à TVI.

em Faro, a TVI encontrou muitos doentes a queixarem-se que as consultas tinham de ser adiadas ou reagendadas.

As razões da greve

Os médicos cumprem desde as 00:00 desta quarta-feira uma greve nacional de dois dias contra a falta de medidas do Governo em várias matérias, como redução dos utentes por médico de família e diminuição de horas em urgência.

Consultas e cirurgias programadas devem ser as mais afetadas nestes dois dias de greve, com os profissionais a cumprirem obrigatoriamente os serviços mínimos, que contemplam as urgências, quimioterapia e radioterapia ou transplantes.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reivindicam um conjunto de 30 pontos. Limitação do trabalho suplementar a 150 horas anuais, em vez das atuais 200, imposição de um limite de 12 horas de trabalho em serviço de urgência e diminuição do número de utentes por médico de família são algumas das reivindicações sindicais.

Os sindicatos também querem a reposição do pagamento de 100% das horas extra, que recebem desde 2012 com um corte de 50%. Exigem a reversão do pagamento dos 50% com retroatividade a janeiro deste ano.

 

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