Sete gráficos para compreender as diferenças entre a primeira e a segunda vaga - TVI

Sete gráficos para compreender as diferenças entre a primeira e a segunda vaga

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 17 nov 2020, 15:42
Câmaras de proteção no Hospital de Santa Maria

A segunda vaga de covid-19 chegou com características diferentes: mais internamentos, mais recuperados e recordes na realização de testes. Consulte as diferenças nos gráficos interativos

Primeiro foi descartada, depois considerada como possível e, agora, tornou-se uma realidade. A segunda vaga da pandemia de covid-19 chegou a Portugal com características diferentes e prevê-se que atinja o seu pico no final de novembro. 

Ainda que não tenha uma data de fixa de começo, o dia 8 de outubro pode servir como um bom guia de análise para o ponto de partida desta nova onda de contágio, já que, a partir desta data, Portugal não voltou a ter um número de novos casos diários de infeção por covid-19 abaixo de mil.

O mês de outubro também foi marcado pelo início da curva ascendente do número de mortos que viu atingir valores recorde em novembro. Esta segunda-feira, Portugal registou 91 vítimas mortais da pandemia. 

A ideia de que a segunda vaga seria menos fatal do que a primeira parece agora estar a ser desmentida pelos números divulgados diariamente pela DGS: só em novembro, até ao dia 17, já morreram 1046 pessoas. Em junho, o número total de óbitos situou-se nos 344.

A segunda vaga trouxe ainda mudanças no número total de contágios por grupos etários, com a população com idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos a preencher cerca de 47% do universo de infetados com o novo coronavírus em Portugal.

Por outro lado, é possível denotar um aumento do número de testes à covid-19 a partir de outubro, sendo que neste mês foram realizados 861.334 dos quatro milhões efectuados até ao dia 16 de novembro.

Aglomerando dados do Ministério da Saúde, da DGS e da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, a TVI elaborou sete gráficos interativos, nos quais é possível traçar as maiores diferenças entre a primeira vaga e a segunda.


 

Novos casos: comparação entre novembro e abril

O número ascendente de novos casos na segunda vaga da pandemia de covid-19 levou o Governo a decretar o segundo estado de emergência e a categorizar 191 concelhos como de risco. Uma decisão que não foi totalmente bem recebida por vários autarcas que acusam o Executivo de cimentar a ideia de municípios “bem e mal comportados”, como descreve o presidente da Câmara de Ílhavo, Fernando Caçoilo.

Outro dos passos dados para tentar travar o número de casos diários de infeção foi o encerramento total do comércio e da restauração, a partir das 13 horas, nos fins de semana de 14 a 15 e 21 a 23 de novembro. Uma medida que visa diminuir o risco de contágio entre pessoas fora do mesmo círculo de convivência.

Por outro lado, Portugal não vive hoje um confinamento total, como aquele imposto pelo estado de emergência no dia 18 de março, altura em que o número de infectados no país subiu para 642. 

 

 

Menos de um mês depois, a 10 de abril - dia de renovação do estado de emergência -, Portugal batia o recorde de novos casos diários com 1.516 contágios desde o dia anterior.

Os valores desse dia só voltaram a ser ultrapassados exatamente seis meses depois, no dia 10 de outubro. 

Uma análise comparativa aos primeiros 17 dias dos meses de abril e de novembro, revelam diferenças evidentes no número de novos contágios diários, um valor que chega a atingir os 7497 casos de infeção a 4 de novembro.

Observando o gráfico é possível verificar que a média de casos diários de 1 a 17 de abril foi de cerca de 681 contágios, ao passo que, em novembro, a mesma média atingiu os 4969 mil casos por dia.

 

 

Vítimas mortais em 24 horas: novembro e abril

O mês de novembro tem registado números recorde em termos de vítimas mortais da pandemia de covid-19. 

Do dia 1 ao dia 17 de novembro, o gráfico mostra-nos uma curva ascendente que começa nos 37 óbitos, registados no primeiro dia do mês, e oscila permanentemente em subida até ao dia 16, data de novo recorde de número de mortos em 24 horas - 91 pessoas.

 

 

 
 
 
 
 
 

Em novembro, já foram registados 1046 óbitos, um número que determina uma distinta e clara evolução daquela que era a situação em termos de vítimas mortais na primeira vaga.

No dia 3 de abril, as autoridades de saúde anunciaram aquele que seria um recorde de óbitos em 24 horas, 37, e que só seria quebrado no dia 30 de outubro, dia em que o país registou 40 mortos.

Comparando a evolução do número de mortos nos primeiros 17 dias dos meses de abril e de novembro, conseguimos perceber que, neste último, foram registados cerca de 61 óbitos por dia. Em abril, por outro lado, a mesma média para o mesmo período situa-se nas 28 vítimas mortais.

 

A evolução nos internamentos de doentes com covid-19

Ao contrário da linha que traça a evolução do número de óbitos no último dia de cada mês, o gráfico de barras que compara o número de internados com covid-19 nos hospitais não denota uma subida constante. 

De facto, o maior número de internados foi registado no final do mês de outubro, com as autoridades de saúde a reportarem, no dia 31, 1.972 utentes acamados nos hospitais portugueses. 

Contrastando, o maior número durante a primeira vaga foi no mês de abril, com 968 internados em hospitais, dos quais 172 nos cuidados intensivos. Em comparação, no mês de agosto, Portugal registava 349 internados, dos quais 41 localizados em UCI.

 

Em novembro, a situação é amplamente preocupante, afirma o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública que, em entrevista à TVI, realça a importância de existir um sistema integrado que evitasse que os profissionais de saúde “tenham de ligar para vários hospitais para encontrar uma vaga”. 

Um cenário de pressão ampliado pelos dados de internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos. Das 703 camas disponíveis, 452 estavam ocupadas no dia 17 de novembro.

Os cuidados em UCI são o fim da linha para os doentes covid-19 que viram o seu estado de saúde agravar-se. Já termos ultrapassado 50% dos recursos para internamentos que temos é uma situação que faz soar os alarmes”, explica Mexia, no programa Segunda Vaga.

 

 

Evolução do RT

No dia 13 de novembro, na habitual conferência de imprensa da DGS, Marta Temido informou que o valor do RT está situado nos 1,11, um ligeiro abrandamento, segundo a ministra da Saúde.

Ainda assim, alertou, este índice deve ser “lido com muita prudência, porque é uma variação muito pequena".

O RT, o indicador que define o grau de transmissibilidade de infeção, está longe de ter os valores registados em março, altura em que ascendeu aos 4.91. 

A partir do gráfico, é importante denotar que, no dia 12 de março (quando foi decretado o encerramento das escolas) situava-se nos 2.69. A 18 de março, data do primeiro estado de emergência, o valor estava nos 3.61.

No dia 30 de abril, quando o Governo aprovou em Conselho de Ministros o plano de transição do estado de emergência para uma situação de calamidade, o valor do RT situava-se nos 0,71.

 

Em outubro testou-se dez vezes mais do que em março

Portugal atingiu os quatro milhões de testes PCR realizados no dia 14 de novembro, 861.334 dos quais no último mês, sendo que a proporção de positividade é de 15,3%.

Segundo a DGS, incidência cumulativa a 14 dias é, à data, de 760 casos por 100 000 habitantes, existindo assimetrias regionais. “A região Norte, com 1 304 casos por 100 000 habitantes, continua a ser a mais afetada”.

 

De todos os testes efectuados e transmitidos, 861.334 foram realizados no mês de outubro, mais 252.632 do que em setembro e cerca de dez vezes mais do que os testes realizados em março (80.082).

Os números no gráfico baseiam-se numa contabilização das amostras recolhidas diariamente desde o dia 1 de março até ao dia 31 de outubro e reportadas pelo Ministério da Saúde. É importante alertar que estes números descrevem apenas as pessoas que foram notificadas pelo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, o que não inclui muitas das pessoas que fizeram o teste e que não entraram no sistema.

 

 

Maior número de recuperados registado em outubro

 

 

Portugal conta neste momento com mais de 230 mil infetados, um número em rota ascendente, especialmente nos últimos dias. Porém, também a quantidade de recuperados da covid-19 tem vindo a aumentar sistematicamente.

Do último dia do mês de setembro até ao dia 31 de outubro, recuperaram mais 31.750 pessoas, o maior valor de sempre até ao momento. 

Destaque ainda para o dia 21 de abril, data em que pela primeira vez o número de recuperados superou o número de mortos por covid-19 - uma tendência que tem vindo a ser comum nos últimos meses.

 

 

Evolução por grupos etários: 47% dos infetados têm entre 20 e 49 anos

 

Desde o início da segunda vaga, Portugal regista uma maior incidência cumulativa de novos casos de contágio  nos grupos etários dos 20 aos 49 anos, traduzindo-se em cerca de 47% do universo de infetados com o novo coronavírus.

Na segunda-feira, a DGS realçou ainda que o grupo etário correspondente àqueles que têm mais de 80 anos apresenta, neste momento, uma incidência elevada e compõe cerca de 7% de todos os confirmados com covid-19.

 

 

 

Comparativamente, nos dias 16 de maio e 16 de novembro, a mudança em termos da incidência em grupos etários não é abismal. Mas há diferenças.

Em novembro, o grupo etário dos 40 aos 49 anos regista mais de 37 mil casos. Percentualmente, segue o grupo dos 20 aos 29 anos que, nesta segunda vaga, totaliza cerca de 16% das infeções.

Em contraste, no dia 16 de maio, o grupo etário em que se registava mais casos de covid-19 era o compreendido entre os 50 e os 59 anos. Também aqueles com idades entre os 40 e os 49 anos registavam uma grande parcela do total de infeções (4828 contágios).

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.319.561 mortos resultantes de mais de 54,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.553 pessoas dos 230.124 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

 

Continue a ler esta notícia