2001: quando um galo em aflição matou a águia - TVI

2001: quando um galo em aflição matou a águia

Benfica-Gil Vicente

Uma tarde de muita chuva, um Benfica a cair para o sexto lugar e um petardo de Pinheiro a abater Carlos Bossio, guarda-redes de uma equipa que fez «uma época miserável». 3-0 em Barcelos

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A situação era aflitiva em Barcelos, tal como a de hoje. Em lugar de despromoção à 32ª jornada da edição 2000/2001 do campeonato português, o Gil Vicente recebeu o Benfica no velhinho Estádio Adelino Ribeiro Novo.
 
Em maio de 2001 o triunfo sorriu aos barcelenses, que acabaram por se livrar da descida. Foi, de resto, o último triunfo do Gil Vicente sobre o Benfica: 3-0. Luís Campos (na foto), atual diretor desportivo do AS Mónaco, treinava os minhotos.

O Maisfutebol falou com Bessa e Pedro Pinheiro, jogadores que alinharam de galo ao peito nessa tarde chuvosa de há catorze anos. Pedro Pinheiro fez mesmo o gosto ao pé, ao apontar o terceiro golo do Gil, num enorme frango de Bossio.
 
«Desse jogo só temos boas recordações. Foi uma vitória muito importante para as nossas aspirações de permanecer na Liga. Apontei um grande golo, penso que foi o coroar de uma grande exibição de toda a equipa do Gil Vicente», relembra Pinheiro.
 
Bessa também recorda esse jogo de forma positiva; não podia ser de outra forma. Mas o antigo lateral reconhece que o Benfica não estava muito forte nessa temporada. Aliás, os encarnados terminaram mesmo o campeonato num impensável sexto lugar.
 
«Na altura o Benfica fez uma época miserável e isso ajuda sempre as equipas mais pequenas, que é quando têm mais hipóteses de vencer. O Benfica nessa altura não tinha boa equipa, mas este ano tem uma grande equipa, tem cilindrado toda a gente», defende Bessa, fazendo a ponte para o jogo do próximo sábado.

3-0 em 2001: a última vitória do Gil sobre o Benfica

 

«É preciso um Gil Vicente de outro mundo»
 
O jogador que se formou no FC Porto e que conta com passagens por clubes como o Gil Vicente, V. Guimarães e Boavista diz que o favoritismo está do lado da equipa de Jorge Jesus para o jogo do próximo sábado.

«Claramente que o favoritismo está do lado do Benfica, mas têm de fazer por isso porque certamente não vão querer deixar fugir o título outra vez como há dois anos, em que tinham o título na mão e deixaram-no escapar», aponta Bessa, que diz que do ponto de vista do Gil Vicente era preferível receber outro adversário.
 
Ainda assim, Bessa acredita que o Benfica também tem a sua pressão neste jogo.

«Neste momento, pela perspetiva do Gil, era preferível uma equipa do seu campeonato. Mas, do  lado do Benfica também há muita ansiedade. Se o Gil tem a pressão da manutenção eles têm a pressão de ter o Porto à perna»
, atira.
 
Os dados estão lançados, a margem de manobra do Gil Vicente é bastante curta, se quer ver o seu nome figurar entre os grandes do futebol português na próxima época. O Benfica tem caminho aberto para o título, não podendo, contudo, escorregar.

Nada que não possa acontecer, refere Bessa que aponta a exibição encarnada no último clássico como exemplo.
 
«Não há impossíveis, mas é muito difícil. É preciso um Gil Vicente de outro mundo e um Benfica com uma exibição menos conseguida. O que pode acontecer, claro. Ainda no domingo, no clássico, o Benfica não fez propriamente um grande jogo», menciona o ex-jogador natural de Valongo.
 
Pedro Pinheiro junta-se à conversa. Ao que Bessa rotula de «difícil», o médio que ainda joga no Coimbrões acrescenta um «extremamente», antevendo uma tarefa hercúlea por parte do Gil Vicente. Ainda assim, e tal como Bessa, nada que seja impossível.
 
«É extremamente difícil repetir a vitória de 2001, então um triunfo tão dilatado acho que está fora do alcance da mente dos profissionais do Gil Vicente. Mas, tal como nós, vão entrar com o intuito de ganhar e é possível, mesmo o adversário estando motivado pelos últimos resultados», diz Pinheiro.  
 
A «motivação total» e a «adrenalina» que sobe
 
No futebol não há dois jogos iguais. Se a situação do Gil Vicente é muito idêntica à de há 14 anos, do lado do Benfica qualquer semelhança é pura ficção. Olhando pelo foco do Gil Vicente, como se perspetiva um jogo desta natureza, em que é preciso fazer peito a um grande para lutar pela sobrevivência?
 
«Quando se está com a corda na garganta é sempre difícil, porque os índices de confiança estão em baixo e os jogadores não se conseguem soltar tanto como noutras situações. Na luta pela manutenção, a parte psicológica dos jogadores torna-se complicada e um golo pode fazer tudo ruir», diz Bessa ao Maisfutebol, numa visão mais negativa da coisa.
 
Mas, e nestas coisas há sempre um mas, o antigo lateral direito refere que os jogadores do Gil têm muito a ganhar:

«O foco de todo Portugal está naquele jogo. Nestes jogos a adrenalina sobe e os jogadores vão buscar forças onde não existem. Têm que pensar que tudo o que fizerem acima da derrota já é bom»
.
 
A visão de Pinheiro é semelhante. O favoritismo é do Benfica e as dificuldades do Gil Vicente serão enormes.

«No futebol sabe-se que nestes jogos há motivação extra», diz Pinheiro, fazendo um paralelo com o tal jogo em que bateu o guarda-redes Carlos Bossio com um remate do meio da rua.
 
«O campo era mais pequeno e também pelo facto de estar muita chuva, não havia muita gente nas bancadas. No sábado o estádio deve encher, há uma enorme carga emocional e os jogadores vão ter motivação total», no entender de Pinheiro.
 
«Gil na primeira? Dá para acreditar»
 
O Gil Vicente chega ao jogo com o clube da Luz com a certeza de que a permanência da Liga dependerá muito daquilo que os pupilos de José Mota forem capazes de fazer diante do Benfica.
 
É um facto. Bessa e Pinheiro têm convicção da dificuldade da tarefa, como já o referiram, mas continuam a acreditar que o Gil pode fugir à despromoção.

«Apesar de o calendário não ser favorável, porque o Gil tem dois jogos seguidos contra equipas grandes, esta vitória em Coimbra motivou muito; de tal forma que dá para acreditar», conclui Pinheiro.
 
«Acreditar» é a palavra comum no discurso de Bessa. Os dois jogadores que fizeram parte da equipa gilista em 2001 acreditam. «O Gil Vicente ainda tem uma réstia de esperança, depois do último jogo. Se tivesse perdido em Coimbra penso que a questão ficava logo arrumada, assim, com o triunfo, ainda tem que acreditar», menciona Bessa.
 
Um galo de corda ao pescoço foi então suficiente para abater uma águia, que em 2001 tinha dificuldades em voar. Desta vez a mesma águia respira confiança, voa com todas as suas forças e já vê o seu destino num horizonte não muito distante, que é como quem diz o 34º título de Campeão Nacional.
 
A situação da águia é diferente, a do galo nem por isso. O que pode um galo muito debilitado fazer para travar o Benfica?

A bola rola no Estádio Cidade de Barcelos a partir das 18horas de sábado, naquele que é o jogo da jornada 31 da Liga.
 
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