Nemanja Gudelj chega à cidade desportiva do Sevilha FC descontraído. Sorri, senta-se no relvado do estádio Jesús Navas e pergunta: «Querem fazer a entrevista em português ou em espanhol? Sérvio? Neerlandês?»
Pergunta e sorri. A boa disposição é uma constante no discurso do médio internacional sérvio de 29 anos, que representa há duas épocas o clube andaluz, comandado por Julen Lopetegui, depois de uma época no Sporting [2018/19].
E foi por aí que surgiu a primeira surpresa: Gudelj fala um português quase perfeito, apesar da curta passagem pelo nosso país. O Sporting ficou-lhe no coração a ponto de fazer uma declaração ao clube e antecipar a possível conquista do título de campeão nacional como se fosse sua.
Gudelj fez a sua formação na Holanda, tendo começado a carreira profissional pelo NAC Breda, passando pelo AZ Alkmaar e Ajax, jogou também na China (Tianjin Teda e Guangzhou Evergrande), antes de regressar à Europa para represnetar os leões, em 2018/19, onde conquistou duas Taças.
O recente Sérvia-Portugal, que terminou em polémica, a época no Sevilha e a eliminatória entre FC Porto e Chelsea dos quartos-de-final da Liga dos Campeões foram temas de conversa, numa entrevista que abordou também um lado pessoal, em que o 36 vezes internacional pelo seu país explica a sua ligação ao seu pai, ex-futebolista, à família, que lhe está tatuada no corpo.
--
PARTE I «Sporting campeão? É como se fosse eu a ganhar, amo muito aquele clube»
PARTE III: «Sérvia-Portugal? A bola entrou, a sorte é que não havia VAR»
PARTE IV: «Ronaldo é uma máquina, não fez um bom jogo contra a Sérvia e no fim estava lá»
--
FC Porto e Chelsea disputam os quartos-de-final da Liga dos Campeões aqui em Sevilha, no Estádio Sánchez Pizjuán, que bem conhece. Acha que o FC Porto ainda pode passar?
No futebol tudo pode acontecer. O FC Porto tem uma equipa forte, não digo mais forte do que o Chelsea, mas desejo-lhes toda a sorte.
No FC Porto tem um companheiro de seleção, o Grujic, que até disputa o lugar consigo no meio-campo da Sérvia. Que relação tem com ele?
Falei com ele quando estivemos na seleção. Ele perguntou-me algumas coisas sobre o Chelsea, porque já jogámos contra eles na Champions, nesta época. Eu disse-lhe que não é uma equipa igual àquela que defrontámos, porque mudou o treinador [Tuchel substituiu Lampard], mas que acreditava que o FC Porto lhes podia ganhar.
Apesar de ter sido afastado pelo Dortmund nos oitavos da Champions, o Sevilha está a fazer um bom campeonato. Ganhou na última jornada da Liga Espanhola ao líder Atlético de Madrid. O que é uma boa época para a equipa este ano?
É conseguirmos ganhar os últimos nove jogos que faltam e entrar na Champions – segurar o quarto lugar, que dá acesso –, que é o grande objetivo do clube. Temos uma equipa forte, com bons jogadores.
Nesse grupo há muitos jogadores que conhece do futebol português. Desde logo o Acuña, que foi seu companheiro de equipa no Sporting…
O Acuña é bom jogador e boa pessoa, tranquilo, trabalha muito, tem muita qualidade…
Tranquilo?
Tranquilo fora do campo. Em campo é o típico argentino. [risos] É um jogador que dá tudo. Gosto muito desses jogadores que deixam o coração no campo e ele é um desses.
Há ainda o Fernando, que joga na sua posição, e também no meio-campo o Óliver Torres, ambos ex-FC Porto.
Damo-nos muito bem. O Fernando é meu amigo dentro e fora do campo. Falamos muito também porque eu falo português e assim até posso praticar. Com o Diego Carlos também.
E Óliver também fala português…
Mas o português do Óliver acho que é fraco. [risos] Fala mais portunhol do que português.
Ele diz que é bom a cantar, não? [Veja a entrevista a Óliver Torres]
Não sei se é bom, mas ele gosta. [risos]
E o Gudelj, não?
Gosto, mas reconheço que não sou muito bom. Sou melhor a jogar futebol.
O que é que canta?
Canto R&B norte-americano, música sérvia, reggaeton em espanhol.
Como é a sua relação com Lopetegui? É um treinador exigente, não?
Lopetegui é um grande treinador e grande um motivador. Taticamente é muito forte. Leva aqui quase dois anos e já mostrou o treinador que é. Conseguimos muitas coisas: ganhámos a Liga Europa na época passada, podíamos agora ter chegado até à final na Taça do Rei. Se este ano garantirmos um lugar na Champions, pode dizer-se que foram dois anos muito bons.
É um treinador que privilegia a posse de bola.
Sim, ele gosta de manter a bola, atacar muito, mas manter uma boa defesa. Somos uma das equipas que menos sofreu golos na Liga. Isso significa que taticamente somos uma equipa sólida.
Em que situações é que ele o chama mais à atenção em campo?
Taticamente todos os jogadores sabem o que têm de fazer quando têm a bola e quando não a têm.
Estamos numa época diferente do habitual, devido à pandemia de covid-19. Sente a falta dos adeptos nas bancadas?
Tem de ser assim, até que a situação melhore. Mas, claro, sinto muita falta. Jogar sem adeptos não é a mesma coisa. Estamos ansiosos que possam voltar ao estádio.