A tarde em que o Benfica caiu em Faro com um golo de barriga - TVI

A tarde em que o Benfica caiu em Faro com um golo de barriga

Farense-Benfica (Arquivo Paco Fortes)

Águias voltam ao Estádio de São Luís, 20 anos depois. Venceram em menos de metade dessas 23 visitas. Paco Fortes esteve em quatro das cinco vitórias farenses

Relacionados

A História de Um Jogo é uma rubrica do Maisfutebol. Escolhemos um dos encontros da Liga portuguesa e partimos em busca de histórias e heróis de campeonatos passados. Às quinta-feiras, de 15 em 15 dias.

O regresso do Sporting Clube Farense ao escalão maior permite reviver duelos de outros tempos. Tempos em que o Estádio de São Luís se revelava uma armadilha muitas vezes mortal. O Benfica que o diga.

As águias visitaram os leões de Faro 23 vezes para o campeonato nacional e venceram menos de metade: apenas 11. Empataram sete e perderam cinco, com um nome a servir de denominador comum a esses desaires: Francisco Fortes Calvo, o genial Paco Fortes.

Paco, aliás, estava no Algarve há poucos meses quando se estreou a vestir a pele de carrasco das águias. A 18 de novembro de 1984, o Farense recebeu e venceu o Benfica por 1-0. Golo, claro, o avançado que trazia no currículo quatro épocas de Barcelona – lado a lado com Johan Cruyff, por exemplo – e passagens posteriores por Espanhol e Valladolid.

Nessa segunda vitória do Farense contra o Benfica em Faro – a primeira aparecera logo no duelo de estreia, a 15 de novembro de 1970, golo de Nunes -, o momento decisivo nasceu numa jogada incomum.

VÍDEO: o golo de Paco Fortes com a barriga

«O golo de barriga? Claro, foi o único da minha carreira», diz Paco Fortes ao Maisfutebol, quase 37 anos depois desse triunfo. E a poucos dias de mais um Farense-Benfica. «Mas o Rui Lopes é que fez tudo. Houve um lançamento lateral na esquerda [Bukovac], a bola chegou ao Rui, ele fez um chapéu ao Bento [dois, na verdade] e eu aproveitei para marcar.»

Apesar de estar reformado e a viver em Barcelona, depois de alguns anos a trabalhar nas docas portuárias da cidade catalã, Paco Fortes continua a visitar Faro e o São Luís regularmente. Miroslav Djukic e Hassan Nader dizem que representará para sempre «a alma e o coração da equipa».

A equipa do Farense que venceu o Benfica em 84 (Paco é o primeiro à direita, em baixo)

Paco chegou ao Algarve em 1984 e só partiu em 2007, quatro anos depois da última época como treinador do Farense. Nesse período esteve em quatro das cinco vitórias dos farenses sobre o Benfica. Quase todas com consequências graves para os lisboetas.

A exceção, curiosamente, acaba por ser a de 84, a do golo de barriga, pois o Benfica conseguiu ser campeão nacional do final da temporada.

Em abril de 1988, com Paco Fortes a jogar os 90 minutos e Ademar, o médio que nasceu no circo e era filho de um palhaço, a selar o 1-0, o Benfica entrou a seis pontos do líder FC Porto e saiu a oito – a vitória valia apenas dois pontos. Faltavam sete jornadas para o fim e o título acabou mesmo no Estádio das Antas.

As equipas do Farense-Benfica de 88, decidido por Ademar

Sete anos depois, abril de 1995, cenário idêntico: sete jogos para acabar a liga, o Benfica começou o jogo a dez pontos do FC Porto e acabou-o a 13, vergado a um pesado 4-1. Já com Paco Fortes no comando técnico farense.

Última vitória do Farense? 21 de setembro de 1998, ainda no início do campeonato. Golo de Hassan Nader aos 86 minutos, ao grande Michel PreudHomme. Graeme Souness era o treinador do Benfica e Paco Fortes o do Farense.

«Não gosto que digam que esse Farense era meu. Não era. Era de uma política fantástica, que mesclava estrangeiros de grande qualidade com jovens algarvios e outros portugueses mais experientes. O meu discurso era sempre igual, fosse o Benfica ou, com todo o respeito, o Belenenses: pressionar bem alto desde o início, aproveitar as bolas marcadas, ser muito forte na marcação e jogar também com o ambiente do São Luís.»

Desde o regresso ao São Luís, o Farense soma três vitórias, dois empates e duas derrotas na Liga 2020/21. Mesmo sem público, a equipa agora de Jorge Costa está a ser capaz de tirar proveito do fator-casa. Seja como for, o cenário nada tem a ver com aquele que pintava as bancadas de cabeças ao sol, esmagadas umas contra as outras.

Esse será menos um adversário para o Benfica ter em conta. As águias estão longe do primeiro lugar, jogam na casa de um Farense que começa a crescer e sabem que as visitas a Faro implicam sempre uma boa dose de sofrimento. Ou quase sempre.

Exceções à regra? Um 7-2 em março de 1984 – ainda sem Paco Fortes no Farense – com Chalana, Manniche e Nené a bisarem, e Stromberg também a marcar (Mário Wilson Jr. e Rogério Silva fizeram os golos farenses) e três goleadas ainda na década de 70, com quatro ou mais golos para o lado benfiquista.

Paco está longe, as bancadas estarão despidas, esta equipas de Jorge Jesus dificilmente chegará ao título, mas um Farense-Benfica é sempre um grande jogo dentro do calendário nacional. E um jogo que até já foi decidido com a barriga.

FICHA DE JOGO:

Estádio de São Luís, 15 mil espetadores
Árbitro: Carlos Valente

FARENSE: Amaral; Hernâni, Leonardo, Quim Manuel, Bukovac, Carraça, Miguel Quaresma (Bio, 76), Gil, Nélson Borges, Paco Fortes (Mário Wilson Jr., 60) e Rui Lopes.

Não utilizados: Peres (GR), Fernando Martins e Rogério
Treinador: Fernando Mendes

BENFICA: Bento; Pietra, Oliveira, Samuel, Nivaldo (Diamantino, 46), Shéu, Carlos Manuel, José Luís, Wando (Nené, 76), Jorge Silva e Manniche.

Não utilizados: Silvino (GR), António Bastos Lopes e Padinha.
Treinador: Pál Csernai

Golo: Paco Fortes (30)

FOTOS: arquivo pessoal de Paco Fortes

Continue a ler esta notícia

Relacionados

Mais Vistos

EM DESTAQUE