O 'Fenómeno Abel' visto pelos olhos de outro 'Fenómeno': Ronaldo - TVI

O 'Fenómeno Abel' visto pelos olhos de outro 'Fenómeno': Ronaldo

Abel Ferreira

Treinador português está na final da Libertadores e a fazer pequenos milagres no Palmeiras. Como é que os brasileiros olham para ele? Bicampeão do mundo pelo Brasil fala em exclusivo

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A pergunta que fizemos a vários figuras do universo do Palmeiras e, em geral, no Brasil, foi simples: afinal, a que se deve o sucesso de Abel? Quisemos tentar explicar o «fenómeno» e até falamos com o fenómeno dos fenómenos do futebol brasileiro: Ronaldo Nazário, bicampeão do Mundo.

«O Abel tem um papel muito importante no objetivo alcançado pelo Palmeiras. Ele tem sido muito elogiado aqui em São Paulo pelo trabalho que está a fazer. Na final não consigo escolher favoritos, são equipas muito jovens, com qualidade, espero um grande jogo», explicou o antigo internacional brasileiro, em exclusivo à TVI-Maisfutebol, no lançamento da Final da Copa Libertadores, este sábado, entre as equipas paulistas de Palmeiras e Santos (20h00).

Curiosamente, Abel Ferreira pode suceder a Jorge Jesus, que venceu a última edição pelo Flamengo, no topo do futebol sul-americano. «Não me surpreende o trabalho que o Jesus fez e que o Abel está a fazer. Portugal sempre teve grandes treinadores e enormes jogadores, como o Cristiano Ronaldo, e sempre houve um intercâmbio entre estes dois países irmãos», reforçou Ronaldo, de 44 anos.

Da opinião de um dos melhores jogadores de sempre do futebol mundial passamos para uma visão diplomata. Isso mesmo. O embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, mostrou-nos o quão «maravilhados» estão os brasileiros com Abel Ferreira.

«A crítica brasileira é muito exigente em relação a qualquer treinador e, por aqui, dizem-se maravilhas do Abel. Ele recompôs a equipa do Palmeiras. Tem sido mesmo muito elogiado, tal como aconteceu com o Jorge Jesus, no Flamengo. Se o Abel ganhar é elevado às alturas, mas, mesmo que não ganhe, o percurso e o prestígio dele não ficam manchados.». De resto, Jesus foi mesmo condecorado com o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro… e Abel também será homenageado. Palavra de Embaixador.

«Terei todo o gosto, mas mesmo todo o gosto, em cumprimentar e dar os parabéns ao Abel, seja qual for o resultado. Nós temos de reconhecer e de simbolizar a importância de um treinador português estar, de novo, na final de uma competição com o prestígio da Copa Libertadores», comentou ainda Luís Faro Ramos, embaixador que também já trocou algumas palavras com Jair Bolsonaro, presidente do Brasil e confesso adepto do Palmeiras, sobre o Verdão.

«Aqui, os políticos não têm problemas em expressar as suas cores clubísticas. É um país muito populoso e com uma paixão enorme pelo futebol, como eu também tenho», concluiu.

Pergunta, caro leitor, e com legitimidade: «Mas nem a exigente imprensa questionou a capacidade de Abel?» Pois, nem por isso. Paulo Vinícius Coelho, um dos jornalistas mais conceituados do Brasil, com 1,5 milhões de seguidores no Twitter, explica-nos porquê.

«O sucesso do Jorge Jesus também abriu algum caminho para os treinadores portugueses. O Jesus é muito bom, mas é diferente do Abel. Quando ele chegou cá não era conhecido, mas respeitado. Tinha acabado de eliminar o Benfica de Jesus da Champions, pelo PAOK, e já depois de fazer um bom trabalho no Sp. Braga, então nós chamávamos-lhes 'O Abel do Braga'.»

Abel Ferreira é o treinador português do momento no Brasil, no ano passado esse lugar era de Jorge Jesus. As comparações são inevitáveis. As diferenças são muitas. O sucesso pode ser (quase) o mesmo.

«O Jesus é diferente na abordagem ao jogador. O Abel seduz pela tranquilidade, não é na base do grito, é mais na paz: aquilo a que ele chama a lei das 24 horas: 'temos 24 para chorar ou para celebrar, depois é trabalhar'. Antes dele chegar, o Palmeiras tinha reduzido a massa salarial do plantel em 25 por cento e passou a ter 11 jogadores da formação no plantel, como o Patrick de Paula, o Gabriel Menino. O Abel potenciou jogadores que há um ano eram desconhecidos», assinala o jornalista mais conhecido por PVC.

O Palmeiras é um clube com milhões de adeptos, um dos maiores e mais titulados do Brasil, mas só conquistou a Copa Libertadores em 1999. Por isso, imagine-se a felicidade dos palmeirenses ou palmeiristas (o que se quiser) por estarem perto da maior festa dos últimos 20 anos.

«Ele conquistou-nos a todos. De cada vez que ele fala, eu fico mais fascinado. Gosto muito dele, faz-me lembrar alguns amigos portugueses que tenho e dos quais gosto muito também. O que mais me encantou foi a humildade, o empenho do Abel. Chegou e foi viver para o Centro de Treinos», assinala Otávio Olinto, de 46 anos, confesso adepto «louco» do Palmeiras, em conversa com o Maisfutebol, na qual esteve sempre de sorriso no rosto. Não é para menos: seguem-se, pelo menos, duas finais até ao final da época: a da Copa Libertadores e da Copa do Brasil.

Em tempos de pandemia, que vão (ou devem) afastar as multidões do Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, onde se joga a final, conversámos também com um médico e, claro, adepto do Palmeiras, apesar de o seu pai ter sido uma estrela do São Paulo, rival do Verdão. Chamava-se Rui Campos, jogou o Mundial de 1950 pelo Brasil. Já o Dr. Reinaldo Campos, com 70 anos de Palmeiras, faz o seguinte raio-x à versão atual do clube.

«O Abel está a trazer uma mentalidade diferente. Muitos técnicos brasileiros são muito conservadores, isso aconteceu sempre na história do clube, mas o Abel mudou o comportamento da equipa. O jogo é agora mais vertical e intenso, tal como era o do Flamengo de Jorge Jesus. Só que o Jesus teve mais facilidade em incutir a sua ideia porque o plantel tinha muita qualidade, mais do que o do Abel». Está feita mais uma comparação. Como já dissemos, são inevitáveis, os brasileiros fazem-nas mesmo sem perguntarmos nada. Juramos. Mas seguiram-se mais elogios a Abel

«Para os treinadores, o tempo nos clubes, em especial aqui no Brasil, depende sempre vitórias. Aqui não há trabalho a longo-prazo. Mas a verdade é que, com o Abel, o Palmeiras mudou de patamar, por isso mesmo que ele não ganhe nada e ficar, os títulos vão surgir naturalmente, com o tempo», concluiu o Dr. Reinaldo.

O futuro é este sábado no jogo na vida de Abel Ferreira, que nunca venceu um título como treinador. Dizem que a seguir ao primeiro...

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