Um ano de Abel no Palmeiras: os títulos, a idolatria e o «vizinho chato» - TVI

Um ano de Abel no Palmeiras: os títulos, a idolatria e o «vizinho chato»

  • Bruno Andrade
  • 6 nov 2021, 10:04
Abel Ferreira

Amado e perseguido, o português está à procura do inédito bicampeonato da Taça Libertadores para um treinador europeu. A futura presidente Leila Pereira quer que Abel fique em 2023 e para isso tenta convencer a família a mudar-se para o Brasil, mas essa é uma decisão que o técnico só vai tomar mais tarde.

Abel Ferreira completou nesta sexta-feira um ano no comando do Palmeiras. Foi a 5 de novembro de 2020 que o português fez o primeiro jogo oficial pela equipa alviverde. Superou o Red Bull Bragantino por 1-0, garantiu o acesso aos quartos de final da Taça do Brasil, que depois viria a vencer, e começou então uma trajetória que pode muito m breve garantir-lhe a entrada no hall dos cinco principais treinadores da história do clube. Ou até mesmo o posto de maior de todos.

O percurso de sucesso em solo brasileiro teve como ponto máximo a conquista da Taça Libertadores de 2020, que, por causa da pandemia, acabou por ser disputada em fevereiro de 2021. Passou por cima do Santos (1-0) no palco mais famoso do futebol mundial, o Maracanã, no Rio de Janeiro, e entrou de vez no coração do exigente adepto do Verdão, muitas vezes apelidado de «amendoim» (demasiado crítico).

Mesmo com resultados positivos num curto período, Abel sempre teve de lidar com a pesada e constante exigência da comunicação social, que, poucos meses antes, viu outro português, Jorge Jesus, ser ainda mais vitorioso - e vistoso - no Flamengo. Muitos jornalistas até hoje questionam, por exemplo, a falta de «beleza» nas exibições do Palmeiras. Já outros atacam (direta e indiretamente) a nacionalidade do treinador nascido em Penafiel. Internamente, inclusive, o português nunca escondeu que olha para isto como xenofobia.

Incomodado com a perseguição, Abel Ferreira resolveu criar recentemente o personagem fictício do «vizinho chato». Nada mais é do que um sujeito abstrato, a soma de todos os seus críticos no dia a dia. Isso porque, conforme o próprio treinador já revelou nos bastidores, é adorado e respeitado pela vizinhança real do prédio onde mora na região da Zona Oeste de São Paulo, ao lado do centro de estágio do Palmeiras.

No Brasil, o português lida com um misto de desconfiança, amor e idolatria. No estrangeiro, vê sondagens e mais sondagens de interessados. Desde que pisou na capital paulista, o treinador de 42 anos foi cobiçado oficialmente por pelo menos cinco clubes: Al Rayyan (Qatar), Al Nassr (Arábia Saudita), Fenerbahçe (Turquia), Bordéus (França) e Dínamo Kiev (Ucrânia). Recusou todas as abordagens, mesmo mais vantajosas do ponto de vista financeiro.

Permaneceu firme e forte no Palmeiras, com quem tem contrato até dezembro de 2022 (com opção de renovação automática até dezembro de 2023), porque gostava de sentir outra vez o gostinho de atingir a «Glória Eterna», como é conhecida a Taça Libertadores. Teve que sofrer muito, dentro e fora de campo, mas está próximo de repetir o feito. Vai defrontar na final em um único jogo, no próximo dia 27, no Uruguai, o Flamengo de Renato Gaúcho.

Uma final que deve separar as águas para todos os envolvidos.

Depois de passar em branco no Sp. Braga e também na Grécia, onde dirigiu o PAOK, o treinador está pronto e confiante para soltar o grito de campeão pela terceira vez na carreira e, consequentemente, tornar-se o primeiro europeu a conquistar duas vezes a maior competição do futebol sul-americano. Já o Palmeiras, além de comemorar o terceiro título continental, vai ser obrigado a encarar o complexo desafio de garantir a permanência do treinador pelo menos até junho de 2022.

«O trabalho do Abel é impressionante, especialmente como conseguiu aplicar a sua metodologia e o seu modelo de jogo em tão pouco tempo. Tirou de cada atleta o seu melhor, potenciou muitos deles. O jogo coletivo evoluiu muito. Houve oscilações, é verdade, mas faz parte, visto que são muitos jogos, de três em três dias», destacou o antigo avançado e ídolo alviverde Paulo Nunes, ao Maisfutebol.

«O Palmeiras de hoje é muito objetivo, agressivo e de marcação forte. A qualidade do trabalho mental do Abel tem sido imprescindível para o sucesso. Tem, sim, a possibilidade de ser o maior treinador da história do clube. Os números não mentem, provam isto. Já está entre os cinco, e com uma vantagem: nunca outro treinador havia conquistado a Taça Libertadores e a Taça do Brasil numa mesma época.»

O antigo guarda-redes e ídolo palmeirense Velloso assina por baixo o que diz Paulo Nunes.

«O adepto do Palmeiras tem uma admiração enorme pelo Abel. Ele chegou aqui, ganhou títulos e rapidamente caiu nas graças da torcida. Sabe comunicar bem e gerir o plantel que tem. Se conquistar novamente a Libertadores, sem dúvida que vai ser um dos maiores treinadores da história do clube», destacou Velloso.

«O maior treinador da história do clube? Ainda não diria isto, porque o Palmeiras contou com grandes nomes, como Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e Osvaldo Brandão. Mas o Abel Ferreira entraria nesta lista com duas Libertadores e uma Copa do Brasil no currículo.»

Longe da esposa Ana e das filhas Inês e Mariana e perto de mais uma glória, Abel Ferreira está feliz e cada vez mais realizado no Brasil. Mas não é completo, especialmente do lado particular. Já perdeu a conta à quantidade de vezes que chorou à noite deitado no travesseiro com saudades da família. Ciente disto, a investidora e futura presidente palmeirense Leila Pereira tem ligado com frequência para os familiares mais próximos do treinador, numa tentativa de convencê-los a mudarem para o país.

Deixar o Palmeiras antes do fim do vínculo é um cenário que há meses está em cima da mesa, algo que há meses assombra os dirigentes e os adeptos.Abel Ferreira, entretanto, está tranquilo. Acima de tudo, focado. Quer pensar única e exclusivamente na reta final da temporada. Somente depois vai tomar a (difícil) decisão sobre o seu futuro e, consequentemente, da sua família. A ver os próximos capítulos de uma novela que, até agora, tem sido feliz.

Continue a ler esta notícia