Está a chegar a noite que este português esperou toda a vida - TVI

Está a chegar a noite que este português esperou toda a vida

André Fialho

André Fialho vai estrear-se no UFC com um combate no cartaz principal, perante 18 mil pessoas e transmissão em direto na televisão. Era difícil pedir melhor para um lutador que até aos 18 anos era apaixonado por futebol.

É já amanhã à noite, quando forem três horas da madrugada de domingo em Portugal, que se vai ouvir «Amor a Portugal», de Dulce Pontes, no Honda Center, em Arnheim, na California.

A música escolhida para a entrada em cena, naquele que será, seguramente, o momento mais importante da carreira, diz muito sobre como André Fialho está a viver este momento: são instantes que vão ficar nas páginas da história do atleta e da modalidade em Portugal.

Nesta altura convém dizer que André Fialho é um lutador de artes marciais mistas que vai fazer a estreia no Ultimate Fight Championship. Ele que há muito ambicionava dar este passo.

Era normal até, nas partilhas que fazia nas redes sociais, identificar Dana White, presidente do UFC, com frases como «À procura de Dana» ou «Continuo a esperar por ti, Dana». A mensagem era clara, o português sentia-se preparado para aquele que é o maior campeonato de desportos de luta no planeta: sentia-se preparado para a primeira divisão.

A estreia acontece, portanto, amanhã à noite, frente ao brasileiro Michel Pereira.

Mas não é uma estreia qualquer.

André Fialho não será, aliás, o primeiro português a lutar no UFC: antes dele, já o cabo-verdiano naturalizado português Yorgan de Castro e o luso-angolano Manel Kape tinham passado pelo mesmo. O primeiro já abandonou o UFC, o segundo ainda luta no campeonato.

Dizia-se, porém, que a estreia de André Fialho é especial, porque é em grande. O português vai estar no cartaz principal do UFC 270, perante 18 mil pessoas, e vai subir ao ringue antes das lutas por títulos mundiais, sendo o terceiro combate mais importante da noite.

«De certeza que me vou arrepiar e estou ansioso por desfrutar disto tudo. Quero desfrutar do momento, de ter um público de 18 mil pessoas a ver. Vai ser uma grande oportunidade, acredito que se fizer o meu jogo vou conseguir pô-lo a dormir. Estou zero nervoso e zero ansioso. As estrelas alinharam-se e está tudo a correr a meu favor, desde a preparação ao evento, por isso não existe nada para estar nervoso», confessou ao Jornal de Notícias.

Antes disso, numa entrevista ao programa Superlutas, já tinha deixado também uma pequena provocação ao adversário, o brasileiro Michel Pereira, que tem um estilo de lutar que mistura capoeira e gosta de dançar no ringue, enquanto defronta os adversários.

«Michel Pereira é um ótimo lutador, explosivo, alto, rápido, longo. Vai ser uma grande luta, acho que os nossos estilos encaixam bem. Mas acho também que ele faz muita coisa desnecessária. Aquele estilo pode ser perigoso para ele contra um lutador como eu.»

André Fialho é um atleta que combate sobretudo de pé e que tem uma finalização muito forte. Vem de quatro vitórias seguidas por KO, no campeonato Warriors dos Emirados Árabes Unidos, tendo encerrado o ano de 2021 sem derrotas. Está, portanto, em grande forma.

Nesta altura convém dizer que não foi sempre assim, porém.

Filho de um pai pugilista, começou a ser introduzido na modalidade com cinco anos, numa perspetiva de defesa pessoal. A verdade, no entanto, é que o boxe nunca o seduziu fortemente e enquanto foi jovem gostava sobretudo de futebol. Até aos 18 anos, jogou em clubes da região de Lisboa.

Tudo mudou após umas férias no Algarve. André Fialho era nessa altura lutador de boxe no Benfica, campeão regional da modalidade e avançado em equipas de futebol amadoras. Nessa férias conheceu um treinador que o introduziu nas artes marciais, apaixonou-se pelo jiu-jitsu e lançou-se de cabeça para as artes marciais mistas.

Depois de ganhar um torneio no Porto, resolveu tentar a sorte no The Ultimate Fighter, o programa de televisão em que seis lutadores de duas equipas, treinadas cada uma por um nome grande da modalidade, tentam vencer o torneio e ganhar um contrato chorudo para entrar no campeonato de UFC.

«Eu pensava que ia ganhar o torneio e não consegui entrar. Fui eliminado após a primeira prova, ainda que injustamente. Tinha juntado dinheiro e pedido ajuda aos patrocinadores para poder vir para os Estados Unidos. Como não entrei, fiquei maluco. Não era capaz de voltar para Portugal de mãos a abanar, por isso comprei uma viagem só de ida para a Califórnia e fui bater à porta do AKA. E tudo começou aí, em 2015», revelou ao Superlutas.

O AKA é o American Kickboxing Academy, o ginásio onde treinavam o bicampeão Luke Rockhold e a lenda da modalidade Khabib Nurmagomedov.

«Cheguei numa terça-feira para treinar, treinei quarta e quinta, e na sexta-feira estava lá o Scott Coker, presidente da liga Bellator. O meu treinador falou-lhe de mim, ele foi ver-me a treinar, gostou e decidiu dar-me um contrato. Liguei para casa e disse 'pai, já não volto’.»

André Fialho estava a viver o sonho.

Treinava com as maiores estrelas do MMA e ia competir na segunda divisão da modalidade. Estreou-se em 2016, com duas vitórias seguidas, mas ao terceiro combate veio a derrota. O português confessa que se preparou mal para um combate que nem precisava de fazer, porque o adversário não cumpriu com o peso e portanto ele ganhava o dinheiro.

«Mas quis competir porque era a primeira luta de um português num evento internacional a ser transmitido em direto na televisão portuguesa. Aceitei e perdi em 20 segundos.»

A derrota trouxe muitas críticas e o português lidou mal com elas. Provavelmente porque ainda não tinha a maturidade certa. É verdade que ganhou os dois combates seguintes, mas desiludido resolveu abandonar o Bellator e mudou-se para o Warriors, dos Emirados Árabes.

2021 foi o ano em que tudo se alterou. Ganhou os combates que fez e cresceu mentalmente.

Na base desta mudança este a consciencialização de que precisava de viver de uma forma diferente. Mais focada no cuidado da mente, numa boa alimentação e na dedicação ao treino. O convite para combater no UFC, que tanto sonhara, chegou naturalmente depois disso.

«Agora tenho uma mentalidade de campeão. Antes de seres campeão tens de te comportar como um campeão.»

Na madrugada de domingo, a partir das três horas, com transmissão na Sporttv, a história vai dar uma volta. Vai finalmente viver a noite que sempre sonhou.

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