Tem 84 anos e procura clube: «O segredo? Tocar piano no pub» - TVI

Tem 84 anos e procura clube: «O segredo? Tocar piano no pub»

Dickie Borthwick (Foto Facebook)

Dickie Borthwick tem mais de 1600 jogos e 400 golos numa carreira que se estende há sete décadas. «Você é de Portugal? Diga ao Ronaldo que ainda consigo jogar com ele»

A foto é de 1951 e nela aparecem os juvenis do Torpedo Weymouth. O rapaz destacado pelo círculo vermelho chama-se Dickie Borthwick e era um extremo prometedor. Era? Era não, é. O tempo verbal continua atualizadíssimo, presente do indicativo. 

Dickie tem 84 anos, continua ativo e a jogar futebol. A história é famosa em Inglaterra e despertou o natural interesse do Maisfutebol. Com a ajuda de dois colegas britânicos, o telefone da casa dos Borthwick toca e é o próprio avançado a atender. 

«De Portugal? Arranja-me clube aí? Vou já amanhã», brinca o amistoso octogenário. Mas, afinal, quais são os segredos para esta invulgar longevidade? 

«Conto tudo, não tenho problemas. Primeiro, acordo de manhã e faço exercícios respiratórios. À noite repito tudo, antes de dormir. Segundo, tenho um muro no jardim e todos os dias faço uma hora de passes e remates, sozinho. Terceiro, sou apaixonado, viciado até, em futebol. Quarto, toquei piano no pub local durante toda a vida.»

O último argumento é desconcertante, mas o senhor Dickie explica tudo. «Você imagina a quantidade de cerveja que deixei de beber por estar a tocar piano?»

«As equipas de veteranos acabaram e fiquei sem colegas e adversários»

Weymouth é uma pequena e simpática cidade na costa sul do Reino Unido. Dickie nasceu e viveu toda a vida na mesma casa e é a partir de lá que lamenta a extinção das equipas de veteranos da região. 

«Agora só há quatro ou cinco equipas com tipos de 45/50 anos. Assim é difícil para mim. Jogo com eles uma vez por semana, mas preciso de mais futebol. Nos últimos anos perdi muitos amigos e fui ficando sozinho.»

O problema é que Dickie está a enfrentar um choque geracional. Por um lado, tem receio de jogar com os quarentões; por outro, sente-se demasiado jovem para passar as tardes «a jogar às cartas com os velhinhos do lar». 

«Em Londres há equipas de homens com 60/70 anos, mas é longe daqui. Fui lá há alguns meses para ver uma escultura que fizeram de mim, em honra ao futebolista mais velho de Inglaterra. Mas eu gosto é de estar aqui pela região de Dorset.»

Dickie tem um CV de luxo: jogou futebol federado «quase 70 anos», conheceu «todo o tipo de balneários e campos de futebol». É adepto do Manchester United e chegou a ser profissional na Escócia. 

«Joguei no Ross County e no Invergordon Town FC. Depois voltei aqui para casa, trabalhei como engenheiro e joguei em 11 clubes. Dez, aliás, porque o último era uma anedota.»

O avançado garante-nos ter «à volta de 400 golos e 1600 jogos» na carreira e uma alcunha que está «em dia»: The Tank. 

«O senhor é de Portugal e eu adoro o Cristiano Ronaldo, porque jogou no meu Manchester United. Ainda me sinto em condições de jogar um bocado com ele, fazer uns passes e uns remates.»

E lesões? «Tive uma grave e salvou-me a vida. Fui forçado a ir ao médico e descobri que tinha um tumor na próstata. Era um miúdo de 70 anos, fiz tratamento e recuperei totalmente. Se não fosse o meu amigo futebol, se calhar não estava aqui ao telefone consigo.»

E no futuro? O que espera Dickie do futebol? «Jogar uma vez por semana mais uns anos e aparecer em alguns jogos de caridade. Queria um clube a sério, mas para isso precisava de sair daqui.»

Dickie é viúvo e vive sozinho. Adora ver futebol na televisão e beber chá. «Tenho uma alimentação regrada, apesar de já não ter comigo a minha esposa. À noite basta-me uma chávena e um biscoito. É também por esta disciplina que corro durante 90 minutos.»

Não se acredita, caro leitor? Ora veja este vídeo de Dickie Borthwick, filmado só há dois anos, e roa-se de inveja:

 

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