Andaram de avião e dormiram nos bombeiros para um jogo que não aconteceu - TVI

Andaram de avião e dormiram nos bombeiros para um jogo que não aconteceu

Protesto do Estrela

30 adeptos levaram a paixão pelo Estrela da Amadora aos Açores, apesar da anulação da partida. «Estivemos na bancada do estádio à hora marcada, estamos indignados com a dualidade de critérios da DGS em relação ao futebol»

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E lá foram eles. Três dezenas de adeptos do Estrela da Amadora viajaram para a ilha Terceira, nos Açores, com o jogo frente ao Praiense no pensamento. O histórico da Reboleira lidera a Série G do Campeonato de Portugal e este era um desafio de exigência máxima.

Tudo organizado, tudo prontinho para a viagem de Lisboa aos Açores e, em cima da hora, a notícia inesperada: não há jogo. A DGS ordenou à FPF o cancelamento de todos os jogos não profissionais no fim-de-semana de 31 de outubro/1 de novembro.

O que fazer? Desistir e lamentar as horas perdidas a tratar de burocracias ou seguir em frente com a viagem e fazer da tour aos Açores uma viagem de protesto? Os 30 fiéis do Estrela da Amadora optaram pela segunda via.

«Já tínhamos tudo marcado há mais de um mês», explica Miguel Rebola ao Maisfutebol, um dos adeptos que já acompanhara o Estrela aos Açores para o jogo frente ao Fontinhas, também na Praia da Vitória. E ainda falta jogar contra o Rabo de Peixe e o Sp. Ideal, mais duas equipas açorianas.

Os adeptos do Estrela à chegada aos Açores (Direitos Reservados)

«Fizemos tudo o que nos foi exigido para podermos viajar até aos Açores com o Estrela. Na sexta-feira, véspera da viagem, comunicaram-nos que todos os jogos seriam cancelados. Muitos dos meus amigos ficou revoltado e disse que não ia, mas falámos entre nós e decidimos viajar.»

O que seria ‘só’ mais um jogo de futebol passou a ser, na estratégia dos adeptos do Estrela, um palco perfeito para mediatizar um protesto que já há algum tempo lhes ia na alma.

«Não podemos concordar com nada disto, nem com o desrespeito demonstrado pelos adeptos. Viajámos de avião e alguns de nós ficaram alojados no quartel de bombeiros de Angra do Heroísmo. Receberam-nos sem qualquer custo e com enorme simpatia», conta Miguel Rebola, 23 anos e programador informático.

«Os bombeiros de Angra foram inexcedíveis e perceberam o valor simbólico da nossa visita. Mesmo sem haver jogo, abriram-nos as portas e permitiram-nos ficar naquela que é a casa deles.»

O avião proveniente da Portela chegou à Terceira ao início da noite de sábado e as horas seguintes foram passadas em ambiente de perfeita confraternização nas ruas de Angra do Heroísmo.

Miguel (à direita) já acompanhara o Estrela aos Açores em setembro

No domingo, à hora do Praiense-Estrela, lá estava a entourage tricolor à porta do estádio. Com a devida colaboração da organização local, o grupo entrou e esteve na bancada. Para ver um jogo que não aconteceu.

«Marcámos presença no estádio do Praiense, com o devido distanciamento social, de forma a provar que a dualidade de critérios que hoje em dia acontece em relação ao futebol não faz qualquer sentido», reclama Miguel Rebola, porta-voz dos estrelistas. «Cantámos, gritámos pelo Estrela, fizemos o que faríamos se a bola estivesse a rolar no relvado.»

«Está mais do que provado, com vários exemplos, que os adeptos de futebol conseguem cumprir perfeitamente as normas impostas pela DGS. O futebol pode servir como tubo de ensaio para o regresso gradual à normalidade.»

Sem o plantel principal do Estrela da Amadora na ilha, Miguel e amigos sentiram-se a representar o clube durante dois dias seguidos.

«Fomos sempre bem recebidos. As pessoas faziam perguntas e metiam-se connosco sobre o retorno do Estrela ao futebol profissional. Mostraram sempre uma grande simpatia perante o clube e pela nossa causa.»

Bilhete para o jogo garantido? Feito.
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Exame de despiste à covid-19 despachado? Com lágrimas e tudo.
Papelada e burocracias assinadas? Sim senhor.

Quando é a próxima viagem? O Estrela da Amadora tem quatro jogos feitos, três vitórias e um empate e sabe que eles, os adeptos, estarão sempre lá.

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