Há gestos de amor para tornar o José Gomes (outra vez) tricolor - TVI

Há gestos de amor para tornar o José Gomes (outra vez) tricolor

Iniciativa está a dar uma nova vida ao mítico estádio da Reboleira

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José Gomes.

Serão poucos os adeptos de futebol português que ao lerem este nome não se lembram imediatamente do Clube de Futebol Estrela da Amadora.

Afinal, ele era a «casa» do clube que andou pelo topo do futebol nacional durante as décadas de 90 e parte dos anos 2000.

Mas e se forem outros os nomes?

Fábio Vincent. Del Negro. Jorge Pité. Samora12. João PT. Bogas Torpes. Diogo Jacinto. Joaquim Castro. Filipe Ribeiro. Nuno Cabral. João Borges. José Ferraz. Magia Tricolor.

Magia Tricolor.

A história tem de começar por aqui. É que foi de uma ideia da claque do histórico clube da Reboleira que nasceu a iniciativa de voltar a dar cor – e nomes - ao velhinho José Gomes.

Porque se aquilo que será o futuro do estádio continua a ser um fundo negro indecifrável – já lá vamos -, o presente não tem de ser cinzento. Pode voltar a ser tricolor.

«Por um José Gomes mais tricolor» é precisamente o título da iniciativa promovida pela claque estrelista e que passa por convidar as pessoas que gostam do clube e do estádio, a devolver-lhe o brilho de outrora.

«A ideia é, aos poucos, ir mudando a cara do José Gomes. Desafiámos as pessoas a adquirirem uma cadeira que será depois colocada no estádio. E cada cadeira terá gravado o nome de quem a comprou.», explica Marco Fernandes, fundador da claque, em conversa com o Maisfutebol nas bancadas da Reboleira.

«Queremos que isto seja uma oferta ao estádio José Gomes. Para voltarmos a dar-lhe vida. Uma cor viva. Porque aquilo que se vê agora é este cenário esbatido», continua Marco Fernandes, sublinhando a importância de proporcionar uma melhor experiência a quem vai ver o jogo.

«Cada vez vemos mais famílias nas bancadas, vir ver o Estrela está a voltar a tornar-se um ritual familiar, por isso queremos dar mais qualidade a essa experiência.»

Marco Fernandes é o líder da Magia Tricolor e o principal promotor da iniciativa

Qual será a casa do Estrela na próxima época?

Na visita ao José Gomes, o Maisfutebol falou também com Pedro Vieira, um dos fundadores do «novo» Estrela – o Clube Desportivo Estrela - e atual vice-presidente.

O dirigente assume que a iniciativa partiu e está a ser promovida inteiramente pela Magia Tricolor, mas garante que a direção a vê com excelentes olhos.

«É uma iniciativa do grupo de adeptos do Estrela que tem apoio total da direção. Porque tudo o que pudermos fazer para deixar este estádio em melhores condições será sempre positivo. Tratamos o José Gomes como se fosse nosso. Não é porque o estádio não é nosso que nos vamos desleixar em relação a ele», garante.

E é aqui que entra o tal fundo negro indecifrável que é neste momento o futuro do recinto.

Tal como tudo o que era propriedade do Estrela da Amadora, o estádio está à «venda» no âmbito do processo de insolvência do clube. E por isso mesmo, o Clube Estrela não sabe durante quanto tempo vai poder continuar a utilizar a estrutura, pela qual paga uma renda mensal.

«Sabemos que até ao final da época a nossa presença está garantida aqui, mas depois disso é uma incógnita», nota Pedro Vieira.

Para já, o clube que milita na 3.ª divisão distrital da AF Lisboa vai contando com o «jeito» que dá à administração da insolvência que o estádio tenha utilização.

Existe, contudo, a esperança fundamentada de que o clube se possa manter no emblemático estádio por mais alguns anos. Sobretudo, tendo em conta a ausência, até ao momento, de interessados em adquirir o estádio que tem uma base de licitação de seis milhões de euros.

A contribuir para isso estará também a garantia dada pela autarquia da Amadora de que não irá alterar o Plano Diretor Municipal do local: ele terá de continuar a ser um espaço de promoção da prática desportiva. E isso, desde logo, afasta potenciais interessados em transformar o velhinho José Gomes numa zona habitacional, o que seria um plano mais apetecível a investidores.

Laços que se imortalizam

Bem ciente da incerteza que é o futuro do espaço, Marco Fernandes assume que a ideia de colorir o estádio é também uma espécie de manobra de charme para que todos percebam o amor incondicional que os estrelistas têm àquele palco.

Porque há laços que são imortais.

Jorge Pité.

Nas bancadas do José Gomes assistimos a uma conversa curiosa entre Marco Fernandes e Pedro Vieira, quando o líder da claque enumerava os nomes que já tinham «encomendado» uma cadeira.

O nome Jorge Pité suscitou a curiosidade de Pedro Vieira.

- É o Jorge Pité que eu estou a pensar?

- Pois. Essa foi exatamente a minha reação. Mas é.

- Que estranho… Mas foram os filhos que pediram?

- Não, foi alguém que se identificou como antiga colega dele.

A admiração de ambos justifica-se com o facto de Jorge Pité ter sido alguém muito conhecido e estimado na Amadora - foi um professor e homem da cultura -, falecido em abril deste ano.

«Quem pediu a cadeira com o nome do Jorge Pité foi uma senhora que me disse acreditar que ele teria muito gosto em ter o nome  no estádio», explicar-nos-ia Marco Fernandes mais tarde.

O miúdo que passou da claque para o relvado

Duas semanas depois de ter sido lançada a campanha, Marco Fernandes revela já ter cerca de 60 cadeiras reservadas – entre as que já estão no estádio, as que estão gravadas, mas ainda não foram aplicadas e aquelas que apenas foram encomendadas.

Os nomes que aparecem nas primeiras linhas deste texto são os de quem, pela forte ligação ao Estrela, não perdeu tempo a aderir à iniciativa.

José Ferraz.

Uma das cadeiras já prontas tem nas costas o nome do camisola 7 do Estrela. Aquele que Marco Fernandes descreve como «a coqueluche» da claque.

José Ferraz foi membro da Magia Tricolor a partir dos 14 anos, correu o país atrás do Estrela da Amadora, e agora representa, no campo, o clube herdeiro do histórico do futebol português.

«No ano passado quando o clube voltou a ter equipa sénior, o Marco perguntou-me se podia contar comigo para vir apoiar nos jogos. Eu como jogava, disse-lhe que queria ajudar era dentro do campo», relata Ferraz.

A verdade é que apesar de aquela frase ter sido entendida como uma brincadeira, Ferraz falava bem a sério. O avançado de 28 anos não iniciou a época, mas apareceu para fazer uns treinos, agradou ao treinador e saltou mesmo da bancada para o campo.

«Foi uma época complicada porque tive uma lesão grave. Mas como não podia jogar, passei para a bancada para apoiar», relata. «Como jogador sinto ainda mais a camisola e tento ser um representante dos adeptos dentro de campo. Sou um jogador-adepto», descreve.

Uma história de amor: Jorge Ferraz fez parte da claque e agora é jogador da equipa principal (foto cedida pelo jogador)

Essa paixão faz com que Ferraz encare a compra da cadeira apenas como mais um gesto do amor que sente pelo Estrela.

«Não é tanto por ficar com o meu nome num estádio que me diz muito, nem pela cadeira, mas por ser mais uma forma de ajudar o clube», confessa.

Tudo faz parte da forma como vive o símbolo que traz ao peito. E a cadeira é apenas um exemplo.

«Nós temos pequenos prémios por vitória e eu decidi abdicar deles. Na época passada aceitei uma vez para me fazer sócio e pagar as quotas. Mas desde então, abdiquei sempre. Como abdico dos convites a que cada jogador tem direito nos jogos em casa. Assim, quando os meus pais e amigos querem vir ver o jogo, pagam o bilhete, que também tem um preço simbólico», confidencia, exemplificando como pequenos gestos podem ajudar um clube que está a renascer.

Jorge Jesus e Mourinho? Sim, mas sobretudo Cuca

Desafiado pelo Maisfutebol, o promotor da ação aponta qual o nome que mais gosto lhe daria ter no estádio. E nem precisa de pensar muito.

«Já falei sobre isso com a direção e eles falaram-me no Jorge Jesus e no Mourinho, pela ligação que ambos tiveram ao Estrela da Amadora. Mas aquele que eu mais gostava de ter era a do Cuca. O senhor António dos Santos.»

«Ele já faleceu, mas toda a gente aqui sabe quem ele era e conhecia a dedicação que ele tinha ao Estrela. Estava sempre disponível para ajudar a fazer o que fosse preciso. Era o que se chama um faz-tudo. E fazia-o por amor ao clube», recorda.

Mas para já, Marco Fernandes está contente com o ritmo com que as pessoas estão a aderir à iniciativa – ainda nos últimos recebeu uma encomenda individual de 50 cadeiras (!) -, mas ainda espera mais.

«Ter as centrais completamente renovadas seria algo que me encheria de orgulho», desvenda sorridente.

 

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