Ex-Inter perdeu-se nas drogas: «Sou padeiro, lenhador e faço mel» - TVI

Ex-Inter perdeu-se nas drogas: «Sou padeiro, lenhador e faço mel»

Fabio Macellari (Foto Facebook)

Fabio Macellari foi um defesa central prometedor e colega de Ronaldo e Pirlo em San Siro. A vida de boémia obrigou-o a parar, a refletir e a escolher o que é de facto importante

Nas montanhas de Bobbio, província de Piacenza, vive o pai de Matteo. Uma vida simples. De manhã é comum vê-lo nas montanhas, machado na mão e botas até aos joelhos. Corta lenha e volta para casa.

De tarde divide-se entre o negócio da família - uma pequena produção de mel, açafrão e queijo – e a padaria do melhor amigo.

O pai de Matteo é apenas mais um dos quatro mil habitantes anónimos de Bobbio, norte de Itália. «Sim, sou padeiro, lenhador, faço mel, açafrão e queijo. Tenho a vida que sempre quis, pelo menos desde que recuperei a lucidez.»

Enquanto abraça Matteo e fala sobre esta vida pacata, Fabio Macellari, 45 anos, pensa no que ficou para trás. Todos os vizinhos lhe conhecem o passado, mas poucos dele falam. Por respeito, por timidez, quiçá por desinteresse.

Macellari com a camisola do Inter na época 2000/01

Macellari, o pai de Matteo, foi futebolista profissional. Vestiu a camisola do Cagliari e, acima de tudo, a do Inter de Milão. Na temporada 2000/01 fez 14 jogos oficiais, dividiu o balneário com nomes superlativos – Ronaldo Fenómeno, Javier Zanetti, Laurent Blanc, Andrea Pirlo, Clarence Seedorf… - e chegou a estar em pré-convocatórias da Squadra Azzurra.

Como se passa do San Siro para o bucólico cenário de Bobbio?

«A resposta não é original. Era jovem, perdi o controlo. Abusei nas saídas para as discotecas e meti-me nas drogas», confessou Macellari em recente entrevista à Mediaset. «Bati no fundo do poço, perdi todo o dinheiro. Felizmente, a minha família deu-me a mão e pude entrar neste negócio. Ou aceitava esta possibilidade, ou morria.»

«Tive diversão para quatro vidas»

Três anos no Lecce, mais três no Cagliari e a oferta para jogar no Inter de Milão. A transferência deixou sete milhões de euros no antigo clube e colocou Fabio Macellari nas manchetes dos jornais desportivos.

Numa temporada de fraco rendimento desportivo do Inter, Macellari ainda apareceu em 14 partida, incluindo a triste eliminação às mãos do Helsingborgs, numa pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Titular na Supertaça, numa vitória por 4-3 sobre a Lazio, Fabio Macellari foi entrando nas opções dos treinadores Marcelo Lippi e, mais tarde, Marco Tardelli. A juventude dava para tudo, mesmo para treinar naqueles dias em que a noite e a manhã estavam demasiado próximas.

«Tive tanta loucura, tanta diversão… maluqueira suficiente para quatro vidas. Mas isso custou-me tudo. A carreira acabou, o dinheiro também. A droga fez-me o resto, até ficar com a própria sobrevivência em risco.»

Matteo e Fabio, inseparáveis em Bobbio

A 20 de maio de 2001, Fabio Macellari fez a última partida pelo Inter de Milão. Foi titular, fez dupla com o melhor amigo, Blanc, e substituído ao intervalo em Parma. A sua equipa perdeu 3-1 e percebeu-se que a sua história no clube estava a acabar.

Seguiram-se aventuras no Bolonha (ainda na Serie A), uma relação atribulada com a primeira vencedora do Big Brother Itália (Cristina Plevani) e a descida ao purgatório do calcio: Pavia, Triestina, Lucchese, Sangiovannese, Villasimius, Vado, Loanesi e Finale Ligure.

Até ao pedido de ajuda. «Divorciei-me, fiquei a cuidar do meu filho Matteo e entregue aos meus familiares. Deram-me a mão e fiquei limpo. Adoro trabalhar, não consigo estar quieto. Tanto estou a ajudar os meus amigos na padaria, como a seguir pego no trator e vou para o monte.»

E o futebol? Onde entra o futebol na vida pacata de Fabio Macellari, o pai de Matteo?

«Vejo-o na televisão. Quando deixei de jogar, em 2010, ainda tentei ser treinador. Desisti. Gostava de voltar à Serie A e colaborar com algum clube, passar a minha experiência. Mas sei que é difícil. Pode ser que alguém no futebol volte a confiar em mim.»

Por agora, o sossego e o trabalho são suficientes para o pai de Matteo. É ele, o menino, o maior responsável pela recuperação do antigo defesa central do Inter. Se não para o futebol, pelo menos para a vida.

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