«Diabo no corpo» e o Famalicão sobreviveu a 47 tiros nas Antas - TVI

«Diabo no corpo» e o Famalicão sobreviveu a 47 tiros nas Antas

FC Famalicão (Facebook oficial)

Líder do campeonato visita a casa do FC Porto, onde só por uma vez venceu. Lembra-se de um herói chamado Tó Ferreira e de uma noite fria e violenta em março de 1993?

A noite foi feia e acabou mal. Três adeptos do FC Porto saltaram da bancada das Antas para o relvado e agrediram o repórter da RTP, Paulo Martins. A surra, nojenta e cobarde, roubou por minutos o protagonismo ao maior herói da noite: Tó Ferreira, o guarda-redes do Famalicão.

Estávamos em março de 1993, há mais de 26 anos, e o histórico emblema minhoto celebrava a única vitória registada na casa do dragão. Uma memória, uma reminiscência dos 90’s, uma boa forma de assinalar o jogo de domingo próximo a contar para a Liga 2019/20.

O Famalicão, líder competente e surpreendente, volta a visitar o FC Porto. Um jogo para mais heróis, heróis como Tó Ferreira.

Túnel do tempo, flashback, viagem à temporada 92/93 e a mais um ano de glória nacional portista. As exceções são raras e uma delas é mesmo essa, a receção ao Famalicão.

À sétima tentativa, os famalicenses venciam na casa do dragão, sobrevivendo a uma rajada de mais de 47 tiros. Tó Ferreira, o anjo da baliza do Famalicão nessa noite, está agora ligado ao Gil Vicente e limitado nas palavras. Explica ao Maisfutebol que não pode infringir o código interno, aceitando apenas deixar breves recordações.

«Dou sempre esse exemplo aos meus jogadores. O FC Porto obrigou-me a fazer 47 defesas e fez mais de 50 remates. É quase impossível repetir um número assim», conta o homem escolhido pelo treinador José Romão para parar Kostadinov e companhia.

«Fui campeão do mundo de sub-20 em 1991, mas essa exibição nas Antas lançou em definitivo a minha carreira. Curiosamente, assinei contrato com o FC Porto na tarde do jogo. Fiquei motivado, mas infelizmente nunca tive uma oportunidade lá, fui sempre emprestado.»

«Pouco mais podíamos ter feito»

Tó Ferreira parou tudo o que era humanamente possível. Aliás, possível e impossível. As imagens da RTP ajudam a celebrar a lendária atuação do suplente de Fernando Brassard no Campeonato do Mundo de sub-20 em 1991.

Vejam bem. Fernando Couto, Kostadinov e, especialmente, Ion Timofte obrigaram Tó a ser um gigante. Por instinto, com voos espetaculares, com palmadas impossíveis, o dono da baliza do Famalicão manteve o score em 0-1 até ao fim.

O resumo VÍDEO é impressionante:

Para finalizar a realização do filme do escândalo falta chamar à cena outro herói. Vieira, José Vieira. O defesa central saltou do banco logo no início, devido à lesão de Celestino, e fez de cabeça o único golo do jogo.

Seria curioso escutar as palavras do atual dirigente do Desportivo das Aves. Vieira não se mostrou disponível para recordar um golo e um jogo com 26 anos. Sinais dos tempos e da pequenez comunicacional de alguns clubes do futebol português.

Se Vieira não fala, fala Ion Timofte. O romeno foi, provavelmente, o homem que mais vezes disparou sobre o corpo de Tó Ferreira. De perto, de longe, a meia distância. Nada a fazer, nada a fazer.

«O Tó estava com o diabo no corpo», recorda o genial romeno, perfeitamente recordado de um dos jogos «mais estranhos» ao serviço do FC Porto.

«Perdemos, é verdade, e o Porto não pode perder em casa. Nunca. Mas foi daqueles jogos em que chegámos ao balneário e percebemos que pouco mais podíamos ter feito.»

FICHA DO JOGO:

Estádio das Antas, 7 de março de 1993

Árbitro: Fernando Correia

FC PORTO: Vítor Baía; João Pinto, Fernando Couto, Aloísio e Vlk; Tozé (Jorge Couto, 38), Semedo, Paulinho Santos e Timofte; Toni (Domingos, 60) e Kostadinov.

Treinador: Carlos Alberto Silva

FAMALICÃO: Tó Ferreira; Carlos Fonseca, Celestino (Vieira, 18), Freitas, Jorginho e Lila; Marito (Rebelo, 67), Augusto e Lito; Mihtarski e Barnjak.

Treinador: José Romão

Golo: Vieira (64)

Os golos dos saudosos Quinzinho e Fehér

O Famalicão é o comandante supremo do campeonato. Com surpresa, sim, e até alguns segredos. O Maisfutebol tem procurado desvendá-los ao longo das últimas semanas.

Apresentámos o lado mais pessoal do treinador João Pedro Sousa, ele próprio um rookie; visitámos Vila Nova de Famalicão para perceber o investimento feito pelo israelita Idan Ofer, um famoso colecionador de arte; entrevistámos Rúben Lameiras, um extremo que é uma das grandes figuras da equipa e que já teve de limpar as chuteiras a Luka Modric; e estivemos no gabinete do departamento de scouting a perceber como o clube tem identificado e escolhido futebolistas.

Tudo isto explica um presente carregado de sucesso, mas o presente de um clube que transporta às costas uma história longa e plena de identidade. Esse ADN peculiar ajuda a explicar os 2500 bilhetes já vendidos em Famalicão para a visita ao Dragão.

O primeiro FC Porto-Famalicão realizou-se na época 46/47 e acabou empatado: 3-3. Entre 1978 e 1991 houve mais cinco duelos – dois para a taça e três para o campeonato – e o FC Porto venceu sempre.

O ciclo foi interrompido com a tal noite de glória de Tó Ferreira e logo um empate na temporada seguinte: 0-0 em setembro de 1993, seis meses após o golo de Vieira.

O Famalicão habituou-se a criar problemas na Invicta. Na última visita, já há 20 anos (janeiro de 1999), os minhotos empataram 2-2 para a Taça de Portugal e só caíram no prolongamento com golos de dois avançados já falecidos: Quinzinho e Miki Fehér.

Domingo há mais.

VÍDEO: o 0-0 entre FC Porto e Famalicão em setembro de 93 (imagens RTP)

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