«Não quis acreditar que Esquerdinha tinha morrido a jogar futebol» - TVI

«Não quis acreditar que Esquerdinha tinha morrido a jogar futebol»

Esquerdinha no FC Porto (Reuters)

Elpídio Silva soube da morte do antigo lateral através de um grupo de WhatsApp. Entrou no carro, percorreu mais de cem quilómetros para ir a casa da família do amigo Esquerdinha, alguém que era «como um irmão e uma pessoa muito boa.»

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«Acordei e vi no grupo de WhatsApp que o Esquerdinha tinha morrido a jogar futebol. Não quis acreditar, sinceramente. Por volta das 10h00 liguei para a família dele e disseram-me que era verdade. É muito triste, faltam-me as palavras.»

É assim que Elpídio Silva, antigo avançado de Boavista, Sp. Braga e Sporting, recorda Esquerdinha, antigo lateral-esquerdo do FC Porto, que morreu esta quinta-feira vítima de ataque cardíaco. O «Pistoleiro» percorreu 123 quilómetros entre Campina Grande (interior de Paraíba) e João Pessoa (litoral de Paraíba) para estar ao lado da família do amigo.

«Estou a sair agora de casa do Esquerdinha. Era gente muito boa, um cara espetacular. Era como um irmão para mim», diz. 

«Em casa dele estavam mulheres, crianças e homens a chorar. Todo o mundo estava a chorar. É natural, perdeu-se uma pessoa muito boa. O Esquerdinha ajudava muita gente. Caiu a principal pessoa da família. Ele era o chefe, metia toda a gente a trabalhar e ajudava quem não tinha emprego», lembra com a voz embargada.

«O Esquerdinha era um brincalhão, só vivia a sorrir. Nunca vi o Esquerdinha triste ou com má cara. Estava sempre a rir e a fazer rir, tinha um jeito muito humilde e dava-se bem com todo o mundo. Era uma pessoa muito carinhosa com os filhos», acrescenta.

Elpídio Silva jogou no Boavista entre 2000 e 2003.



Os dois conheceram-se no Paraguaçuense, um clube de São Paulo. Nesse período Esquerdinha dividiu casa com Elpídio Silva e tornaram-se amigos.

«Jogámos juntos no Paraguaçuense, na segunda divisão. Era um colega de equipa exemplar. O Esquerdinha já era profissional há três anos e ajudou-me imenso na altura. Deixava-me tranquilo, transmitia-me experiência e depois tinha um pé esquerdo de grande qualidade. Fiz muitos golos graças a ele», rememora.

O futebol separou-os. Esquerdinha continuou no Brasil, enquanto Elpídio Silva seguiu para o Japão. Anos depois encontraram-se na cidade do Porto e recuperaram a amizade.

«O Esquerdinha não dizia ‘não’ a nada. Quando ele estava no FC Porto e eu no Boavista passávamos muito tempo juntos. Sempre que os jogos nos permitiam, almoçávamos e jantávamos em casa um do outro. Claro que quando havia dérbi picávamo-nos, mas são coisas normais. Posso dizer que ainda hoje tenho guardadas todas as camisolas que ele me deu. Estou muito triste», relatou.

Esquerdinha partiu aos 46 anos e deixou dois filhos, Mateus (18 anos) e Marcelo, dez anos mais novo e Cláudia, a sua esposa há 24 anos.

«Além dos meninos, o Esquerdinha perdeu uma filha num acidente junto a uma piscina há onze anos», acrescenta Elpídio.

Esquerdinha deixou-nos boas recordações que vão perdurar no tempo pela voz e no coração de quem privou com ele.

«Quando ia a João Pessoa passava sempre em casa do Esquerdinha. Ele também me visitava. Tinha um coração enorme e sempre sorridente. É a memória que eu e a minha esposa vamos guardar dele», concluiu Elpídio Silva.

Foi precisamente o «coração enorme» que o traiu.

Recorde a última entrevista de Esquerdinha ao Maisfutebol

Os números de Esquerdinha em Portugal:

1998/99: FC Porto, 12 jogos (1 golo)

1999/2000: FC Porto, 44 jogos (3 golos)

2000/01: FC Porto, 31 jogos (5 golos)

2003/04: Académica, 3 jogos

(artigo publicado às 23h52 de 01/11/2018)

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