Scolari prepara-se para ser campeão (e o burro é ele?) - TVI

Scolari prepara-se para ser campeão (e o burro é ele?)

Scolari

Treinador pode vencer o título brasileiro pela segunda vez na carreira. Esta quarta-feira recebe o América Mineiro, precisando de vencer e esperar que Flamengo e Internacional não o façam. Fomos descobrir que Felipão é este, quinze anos depois de ter chegado a Portugal para treinar a seleção.

Vinte e dois anos.

Exatamente vinte e dois anos depois, Scolari prepara-se para ser novamente campeão brasileiro. Da última vez que o fez, ao serviço do Grémio, numa fase muito inicial da carreira, ainda Fernando Henrique Cardoso era presidente do Brasil.

Não havia youtube, facebook ou instagram, os telemóveis eram um bem raro e Éder Militão ou Gabriel Jesus ainda não tinham nascido. Anitta tinha três anos e estava muito longe de imaginar que um dia se tornaria famosa com o Show das Poderosas.

Foi numa outra vida, portanto.

É certo que entre o título com o Grémio em 1996 e este que se prepara para ganhar com o Palmeiras muita coisa aconteceu na carreira do treinador.

Foi campeão mundial com o Brasil, por exemplo. Foi vice-campeão europeu com Portugal, venceu o título japonês pelo Jubilo Iwata, ganhou a Libertadores com o Palmeiras, foi duas vezes campeão uzbeque com o Bunyodokor e ergueu três vezes o título chinês com o Guangzhou Evergrande

Teve uma carreira de sucesso, portanto, mas foi preciso esperar vinte e dois anos para celebrar a conquista do campeonato brasileiro. Esta quarta-feira tem a primeira hipótese de o fazer.

Precisa de vencer o América Mineiro em casa, o que não é difícil, mas precisa também que Flamengo e Internacional não vençam o Grémio e o Atlético Mineiro, respetivamente. Não é impossível, mas torna o sucesso dependente de terceiros. Se os dois adversários diretos ganharem os respetivos jogos, então precisa de mais uma vitória no jogo a seguir. Se o Internacional ganhar e o Flamengo não o fizer, precisa apenas de uma vitória e um empate nos dois jogos seguintes.

As perspetivas são boas, portanto. O que reforça o bom trabalho de Scolari.

A verdade é que o treinador foi contratado à 17ª jornada, quando estava quase jogado meio campeonato. O Palmeiras tinha então 26 pontos, menos oito do que o líder Flamengo. Exatamente uma volta depois, Scolari ainda não perdeu, somou 13 vitórias e seis empates, fez 45 pontos e subiu ao primeiro lugar, com mais cinco pontos do que exatamente o Flamengo.

Scolari fez mais pontos desde que entrou do que nove equipas em todo o campeonato, entre elas o Corinthians, o Fluminense e o Vasco da Gama.

O que torna obrigatória a pergunta: o que fez Felipão de especial?

«O Palmeiras tinha um plantel muito grande, com mais de trinta jogadores, e não tinha uma equipa efetiva. O que ele fez foi recuperar os jogadores que estavam em baixa, como o Deyverson ou o Dudu, colocando todos os jogadores a jogar. O Palmeiras disputava o Brasileirão, a Copa do Brasil e a Libertadores, e todos jogavam numa competição ou outra. Isso deixou o grupo feliz. No fundo ganhou o grupo, ganhou a confiança dos jogadores», diz Felipe Zito, jornalista do GloboEsporte.

«Ele é o paizão da equipa. É uma nova família Scolari que ele ali construiu. Todos os jogadores elogiam o trato dele.»

Para os portugueses, este discurso não traz nada de novo. Este é o Scolari que conhecemos há quinze anos. O que nos permite fazer outra conclusão: o treinador mudou pouco.

Thiago Ferro, jornalista do Lance, corrobora as palavras do colega.

«Os jogadores quando falam dele tratam-no por paizão. Um exemplo disso é Dudu. Quando Scolari chegou, o Dudu estava em baixa e semanas antes tinha pedido para ser negociado para a China. O bom relacionamento entre os dois existe desde os tempos do Grémio, em 2014, ele ajudou o avançado e tornou-o num dos principais jogadores do Brasil.»

Ora o título que o Palmeiras se prepara para conquistar, mais tarde ou mais cedo, serve também para reforçar a força do treinador do clube. Scolari já treinou a equipa por três vezes, entre 97 e 2000, entre 2010 e 2012 e agora em 2018. Ganhou uma Libertadores e uma Copa Brasil.

«Ele já era um ídolo para os adeptos, é o segundo treinador com mais jogos na história do Palmeiras, vencedor da única Libertadores do clube. Este regresso serviu para fortalecer ainda mais esta imagem de figura histórica e apagar um pouco os problemas da segunda passagem, quando conquistou a Copa do Brasil, mas fez parte da campanha da descida de divisão.»

Felipe Zito, no entanto, diz que não é possível comparar o Palmeira atual com o de há seis anos.

«Ele foi vice-campeão do Brasileiro e venceu a Libertadores em 97. Na segunda passagem, entre 2010 e 2012, ele não tinha condições para disputar o título. O Palmeiras estava em crise, não tinha dinheiro para nada. Mesmo assim conquistou uma Copa do Brasil. O que mudou é que o momento do Palmeiras agora é diferente, é um clube com dinheiro, bons jogadores, um clube forte», frisa.

No atual Palmeiras podem encontrar-se estrelas como Felipe Melo e Lucas Limas, mas também bons jogadores como Marcos Rocha, Edu Dracena, Mayke, Jean, Deyverson, Dudu e Willian.

Um plantel de jogadores experientes, com alguns internacionais brasileiros e outros jogadoes com passagem por clubes europeus. Um plantel bom, portanto, um plantel rico.

«Scolari soube usar a qualidade do plantel para criar competitividade entre os jogadores. Como tinha uma equipa para o mata-mata e outra para o Brasileirão, ambas fortes, conseguiu manter-se vivo nas três provas por muito tempo. Quando saiu da Copa do Brasil e Libertadores, a equipa tornou-se mista e fez um ótimo trabalho, levando o Palmeiras à liderança», diz Thiago Ferro.

No plantel, de resto, há elementos bem conhecidos dos portugueses. Deyverson jogou no Belenenses, Fernando Prass jogou na U. Leiria e Paulo Turra jogou no Boavista e V. Guimarães, antes de se tornar o número dois de Scolari, em substituição de Murtosa.

Deyverson, de resto, esteve na origem de uma zanga de Scolari com os jornalistas.

«Ele ficou irritado depois de um jogo, quando Deyverson dava uma entrevista logo depois de se envolver numa confusão. Mas foi só.»

Nada comparável com a segunda passagem pelo clube, quando Scolari se envolveu em enormes discussões com jornalistas, que inclusivamente insultava, tornando alguns vídeos virais na internet.

«Desta vez Scolari diz que decidiu não assistir nem ler nada do que se diz sobre ele. Até brincou que é como se ainda vivesse na China. Os treinos são fechados para os jornalistas durante a maior parte do tempo e o contacto só acontece nas entrevistas depois dos jogos, basicamente.»

Há coisas que nunca mudam e os problemas de Felipão com os jornalistas é um delas. Outra coisa que não muda é a tendência do velho paizão para somar conquistas.

Esta quarta-feira, pelas 23.45 horas de Portugal, pode somar mais um título de campeão. O segundo do Brasileirão: exatamente 22 anos depois do primeiro.

Recorde como era Scolari em 2010 no Palmeiras:

 

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