Caso único: parou um penálti a Bruno Fernandes e joga no Pêro Pinheiro - TVI

Caso único: parou um penálti a Bruno Fernandes e joga no Pêro Pinheiro

Miguel Soares (Foto Facebook)

Miguel Soares foi o último guarda-redes capaz de defender um castigo máximo do internacional português do Manchester United. «Obriguei-o a decidir o mais tarde possível»

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Um, dois, três… 17 penáltis consecutivos, sempre bem batidos e a acabar em golo. Bruno Fernandes tornou-se infalível a disparar da marca dos 11 metros. O estádio, a equipa adversária, o guarda-redes, nada mexe com os nervos de aço do médio do Manchester United.

Bruno parece diretamente trasladado das páginas do icónico livro de Peter Handke, A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty, para a relva dos campos de futebol. Nada nem ninguém parece ter o antídoto para combater os pontapés frios, certeiros e mortíferos do internacional português.

Nada? Ninguém? Vamos com calma. Há uma exceção a esta lei marcial imposta por Bruno Fernandes, um homem da Resistência, luvas e capa de super-herói. Um homem capaz de fazer o que nem Kasper Schmeichel, nem Pepe Reina, nem Hugo Lloris, nem Simon Mignolet conseguiram: defender uma grande penalidade batida por Bruno.

Senhoras e senhores, eis Miguel Soares. A 20 de outubro de 2018 e ao minuto 50 do Loures-Sporting, Miguel fez um pequeno movimento para a esquerda e lançou-se em voo para a direita. Uma grande defesa, o último e o único a ser capaz de anular Bruno Fernandes num castigo máximo em quatro anos. É preciso recuar a 2016 e aos tempos de Itália para encontrar outro penálti desperdiçado por Bruno Fernandes. 

VÍDEO: o último penálti falhado por Bruno Fernandes (aos 1m50s)
 

Depois dele, já 17 tentaram e todos caíram. «Foi um momento muito bom, fruto de muito trabalho de observação. O segredo foi o pequeno movimento que eu fiz para o lado esquerdo. Como o Bruno bate os penáltis a olhar para os guarda-redes, eu tive de fazer aquilo. Fingi ir para um lado e lancei-me para o outro», recorda Miguel Soares ao Maisfutebol.

Miguel, de 29 anos, já deixou o Loures, passou pelo Oriental e vai defender a baliza do Pêro Pinheiro na próxima edição do Campeonato de Portugal. Os anos avançam, mas aquela noite de há quase dois anos não lhe sai da cabeça. É normal. Miguel foi um herói.

«Ficámos a saber três semanas antes que íamos jogar contra o Sporting. Os treinadores tiveram tempo para preparar tudo e o Bruno Fernandes, por ser o homem das bolas paradas, foi muito estudado», conta o último guarda-redes a defender um penálti de Bruno.

«Tenho alguma experiência e quis obrigar o Bruno a decidir o mais tarde possível. Não lhe quis facilitar a vida. Esperei também eu até à última e dei, por instinto, aquele pequeno passo para a esquerda antes de voar para a direita.»

Até parece simples, mas não é. Nem para quem defende, nem para quem tenta marcar. A baliza e os seus 7,32 por 2,44 metros pode parecer enorme ou minúscula, dependendo do ponto de vista. Por segundos, aqueles 17,86 metros são um mundo abstrato e ininteligível.

Miguel Soares no Loures



«Ao decidir atirar-me, atirei-me com tudo. Nem pensei na queda. Foi bom e a verdade é que o Loures conseguiu chatear o Sporting até ao fim. Marcámos em cima dos 90 e ainda os assustámos.»

«Espero que o Bruno continue a não falhar penáltis»

O Sporting sobreviveu à batalha de Alverca – não confundir com a réplica de 2019 – e seguiu em frente na Taça de Portugal, até a vencer no Jamor. Miguel Soares entrou na história da competição e na vida de Bruno Fernandes.

«No final do tivemos uma conversa rápida. Deu-me os parabéns pela exibição, o Bruno é muito acessível. Mesmo antes do penálti só trocámos um sorriso, não dissemos nada um ao outro», confessa o novo guarda-redes do Pêro Pinheiro, ainda muito feliz por ser o detentor desta espécie de recorde mundial.

«Espero que o Bruno continue a não falhar para eu continuar com esta pequena vaidade e a ser falado (risos). Ele está na Premier League, certamente voltará a falhar um penálti qualquer dia, mas espero que não seja nos próximos tempos. Isso é melhor para mim.»

Miguel Soares não se considera um especialista a defender penáltis, mas garante defender «três ou quatro por época». Grande parte da sua carreira foi passada na baliza do Casa Pia – 2010 a 2017 -, passando depois dois anos pelo Loures e uma época pelo Oriental.

«Nessa época em que até defrontei o Sporting até fiz poucos jogos. O Filipe Leão era normalmente o titular. Depois fui para o Oriental, fiz os dois primeiros jogos e lesionei-me gravemente. Rompi os ligamentos de um joelho. Quando estava a voltar a treinar, a pandemia interrompeu os campeonatos.»

«Sou consultor imobiliário e quero pedir a camisola do Bruno»

Há dois anos, Miguel Soares percebeu que os rendimentos do futebol no Campeonato de Portugal não lhe seriam suficientes para dar a vida que considera ideal à sua pequena filha.

«Tive de arranjar outro emprego. Sou consultor imobiliário desde 2018, nem todos ganhamos milhões (risos). Se não fosse o meu emprego, teria sido muito complicado para a minha família aguentar os últimos meses», desabafa o guarda-redes.

A pandemia terminou os campeonatos em março e o Oriental, «clube bom pagador e honesto», não voltou a regularizar salários depois disso.

«Ganhava um ordenado razoável no Oriental – perto de 1000 euros -, mas o campeonato acabou em março e o clube não pagou mais nada. Tenho uma filha e preciso de estabilidade. Ainda bem que existe um plano B na minha vida.»

Miguel Soares pretende continuar nas balizas «por muitos anos», mas o maior pedido nem tem a ver com a carreira e uma eventual promoção a um escalão superior.

Alô, alô, caro Bruno Fernandes. Está a ler isto?

«No dia do jogo contra o Sporting não consegui ficar com a camisola do Bruno. Se ele puder e não se importar, gostava de lhe pedir a camisola que usa agora no Manchester United. No Loures-Sporting ele ofereceu uma ao Miguel Oliveira, um colega de equipa meu. Por isso, se o Bruno puder, adorava ter uma camisola dele em casa. Além de adversário, também sou um fã.»

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