O adepto mais fiel viu 1503 jogos seguidos do seu clube e ama Taarabt - TVI

O adepto mais fiel viu 1503 jogos seguidos do seu clube e ama Taarabt

Chris Kemp (Foto Facebook)

Maisfutebol conta-lhe a inacreditável viagem do coração (e do corpo) de Chris Kemp por amor ao emblema londrino. O médio do Benfica foi o jogador «mais habilidoso» que viu em campo - e ele já viu milhares ao vivo

Dia 9 de setembro de 1989: o Queens Park Rangers visita o Manchester City em Maine Road e perde por 1-0. O golo é de Clive Allen, logo no primeiro minuto e no relvado passeiam-se nomes com pedigree internacional. Ian Bishop no City, David Seaman e Paul Parker no QPR. 

Dia 7 de março de 2020: o Queens Park Rangers joga em casa do Preston North End e vence por 3-1. Grant Hall, Ryan Manning e Eberechi Eze marcam para os londrinos, Daniel Johnson responde para os locais. 

As contas são fáceis de fazer. Mais de 30 anos passaram entre os dois jogos e nesse período o QPR jogou oficialmente 1503 vezes - incluindo estas duas partidas. Os protagonistas mudaram, o próprio jogo evoluiu para patamares quase inimagináveis, mas nesta variável incontrolável há uma constante. Fiel e perseverante. 

Senhoras e senhores, o verdadeiro craque/artista/génio desta história chama-se Chris Kemp e é, perdoem-nos a ousadia, o adepto mais fiel de todos os tempos. Chris tem 52 anos e no ciclo que ocupa os dois primeiros parágrafos não falhou um único jogo - repetimos, não falhou um único jogo! - ao vivo do seu clube do coração. O Queens Park Rangers. 

A palavra segue para quem mais merece. Com a humildade típica de quem se sente mais confortável no papel de figurante. «As pessoas falam destes 1503 jogos, mas já deviam ser 1507. Não sei o que me deu para marcar férias nos EUA no primeiro mês de jogos do QPR na época 89/90.»

Esses quatro jogos não tiveram o bom do Chris, mas o homem nem no dia do nascimento da sua filha faltou ao encontro com o QPR. Aconteceu em 1998. «Bem, o jogo era a quatro horas de Londres e a minha esposa avisou-me que me mandaria um sinal pelo pager (não, Chris ainda não tinha telemóvel) se a bolsa amniótica rebentasse. Ela, de acto, mandou esse sinal, mas com o barulho no estádio só o ouvi ao intervalo. E já não tinha hipóteses de chegar a tempo. Foi mau.» 

104 estádios, 95 adversários e o elogio a Adel Taarabt

Chris Kemp foi homenageado recentemente no relvado do seu mais do que tudo. O funcionário público vive na zona leste de Londres e possui uma memória quase tão boa como o seu registo de presenças. É uma verdadeira enciclopédia de quilómetros, estádios e clubes.

«Já visitei 104 estádios diferentes para ver o QPR e 95 adversários. Há mais estádios do que adversários porque alguns deles mudaram de campo desde 1989», diz, divertido, o homem que vive para os azuis e brancos. Pelo menos ao fim-de-semana. 

Ser adepto do QPR, garante Chris, é sobretudo ter a garantia de emoções fortes. Andar de montanha russa e nunca saber se chega ao fim da viagem inteiro.

«As melhores recordações? Escolho duas. O quinto lugar na Premier League em 92/93, porque acho que foi a melhor equipa que vi do QPR, e o play-off disputado em Wembley em 2014. Nunca tinha estado no estádio e é o mais majestoso de todos. Ver lá as camisolas azuis e brancas encheu-me de orgulho.»

Claro que em mais de 30 anos e em 1503 jogos de futebol há pormenores que se vão perdendo no tempo. Chris esforça-se por ter «na ponta da língua» todos os futebolistas que representaram o seu clube e há pelo menos um que nos é bastante familiar. 

«O Adel Taarabt foi o jogador mais habilidoso que vi jogar pelo QPR. O Eberechi Eze é muito bom, mas o Taarabt era outra coisa, outro nível, amo esse tipo. Fazia coisas com a bola impressionantes. Nunca vi ninguém como ele no Queens.»

Taarabt, médio do Benfica, jogou pelo QPR entre 2008 e 2013 e já não se cruzou «com o melhor avançado de sempre» do clube. «O Les Ferdinand, claro. Tinha força, velocidade e remate. Além disso, o Les é um tipo muito simpático. Já falámos um par de vezes.»

Mais jogos inesquecíveis, há? Chris Kemp hesita e dá mais dois exemplos. «A vitória em Old Trafford contra o United por 4-1, em janeiro de 1992. Ah, e um 3-2 ao Liverpool, depois de estarmos a perder 2-0. Foi a 21 de março de 2012.» 

A Covid-19 a parar o recorde e o sonho de um jogo na UEFA

Podemos ir aos fantasmas que atormentam Chris Kemp? Os pesadelos do passado, os jogos de terror e deceção. Kemp, assume, tem somado demasiados destes nos últimos anos. 

«Já estive numa derrota contra uma equipa chamada Vauxhall Motors para a FA Cup, mas a maior humilhação aconteceu em 2016. Levámos 6-0 do Newcastle em casa. Não pode ser», lamenta Chris Kemp, como se ainda estivesse na bancada de Loftus Road. 

«O meu coração tem de ser forte para aguentar tanta emoção. Uma das melhores coisas em apoiar o QPR é não fazer a mínima ideia se vou voltar para casa feliz ou arrasado no final do dia», brinca Chris Kemp. «Estou viciado nesta adrenalina, em ter todas as sensações possíveis em apenas 90 minutos.»

Mas como é que este amor obsessivo, no melhor dos sentidos, começou? «Em 1975, quando eu tinha sete anos, ouvi o nome do clube na televisão e gostei. Fui seguindo os resultados da equipa e três anos depois, com dez, fui ao estádio pela primeira vez. Um senhor que andava a pintar a casa da minha avó ofereceu-me um bilhete que tinha a mais.» Assim nascem os grandes amores. 

Chris adorava chegar pelo menos aos 2000 jogos seguidos, mas a pandemia de Covid-19 veio estragar-lhe os planos. «Se os jogos forem mesmo à porta fechada, não tenho como conseguir entrar», lamenta, ainda sem saber quando e de que forma o futebol voltará em Inglaterra. 

Neste futuro incerto, Chris Kemp pede sobretudo «saúde para a família» e a possibilidade de um dia «ver o QPR a jogar uma prova europeia». «Falta-me isso, estar com o QPR numa competição da UEFA, fora de Inglaterra. Já fui a Cardiff e a Wrexham, no País de Gales, mas não é bem a mesma coisa.»

(artigo originalmente publicado às 23h54 de 21/05/2020)

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