Voar nove mil quilómetros e chocar a França com um ex-Sporting - TVI

Voar nove mil quilómetros e chocar a França com um ex-Sporting

JS Saint-Pierroise (Foto Facebook)

O minúsculo JS Saint-Pierroise está a fazer história na taça gaulesa. Florent Sinama-Pongolle jogou no campeão da Ilha da Reunião e fala ao Maisfutebol de «um emblema de heróis», por onde já passaram Jean-Pierre Papin e Roger Milla

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Ilha da Reunião, uma das quatro regiões ultramarinas de França. 900 mil habitantes no Índico, vizinho menor de Madagáscar, território tocado pela presença dos navegadores portugueses no século XVI.

A mais de nove mil quilómetros da metrópole continental, a vida corre devagar. Da capital Saint-Denis à segunda maior cidade, Saint-Pierre, território vulcânico e montanhoso, misterioso, abençoado por praias de água diáfana, areia intocada, florestas impenetráveis. E futebol, claro.

A partir de 2015, o dominador da ilha é o Jeunesse Sportive Saint-Pierroise. Campeão insular já em 20 anos diferentes e com grandes nomes a enobrecer o palmarés. Jean-Pierre Papin (1999 a 2001), Roger Milla (1989/1990) e Dimitri Payet (1998/1999) vestiram a camisola preta e branca em fases distintas.

Roger Milla com a camisola do Saint-Pierroise

Mais recentemente, outro nome familiar defendeu os heróis de Reunião: Florent Sinama-Pongolle [à direita na foto de capa]. Lembra-se dele? Apareceu no Liverpool, jogou uma vez pela seleção de França, mudou-se para o Atlético Madrid e chegou ao Sporting em janeiro de 2010.

Em pouco mais de seis meses fez nove jogos e dois golos pelos leões. Saiu de mansinho de Alvalade, passou por clubes menores e desapareceu do radar. Redescobrimo-lo agora, nesta pesquisa sobre o JS Saint-Pierroise. É ele o guia do Maisfutebol por estas terras nunca antes desbravadas.

«A ilha é maravilhosa e o clube até é bem organizado. Eu estive nos primeiros três jogos com eles na Taça de França, mas em dezembro decidi parar. Tive um convite ótimo do Canal Plus para ser comentador residente no programa King of Ze Day», conta Sinama-Pongolle.

Esta é a altura para fazer a pergunta obrigatória: porquê o JS Saint-Pierroise?

Porque o minúsculo emblema está a conquistar vitórias heróicas na Coupe de France. A última, absolutamente improvável, foi garantida em Niort, casa de um clube da Ligue 2 (segundo escalão).

O triunfo significou a qualificação para os 16-avos-de-final da prova, 31 anos depois de outro emblema ultramarino ter feito o mesmo: o Geldar Kourou, da Guiana Francesa.

«O que mais me surpreendeu foi ver os meus antigos colegas a jogarem como jogaram numa cidade que tem temperaturas 25 graus mais baixas do que em Reunião. Reagiram como verdadeiros heróis.»

Resultado final: Niort, 1 – JS Saint Pierroise, 2. Golos de Gerard Hubert e Ryan Ponti para os forasteiros.

O próximo passo é já no fim-de-semana, na casa do SAS Epinal, equipa a militar no Championnat National 2 (quarto escalão). Como é fácil perceber, as regras ditam que os ilustres convidados dos estados colonizados por França joguem sempre longe de casa. Dura lex, Sed lex.

O estilo inconfundível de Papin com a camisola do Saint-Pierroise

«Estávamos a treinar e chegavam colegas ainda com a roupa de trabalho»

A sétima presença do Saint-Pierroise na taça gaulesa está a ser a melhor de sempre. Vitória por 1-0 em casa do Jura Sud Foot (quarto escalão), vitória no prolongamento frente ao ES Chaon (quinto escalão) e o tal 2-1 em Niort.

«Podem perfeitamente ganhar em Epinal e chegar aos oitavos-de-final. Isto é de loucos, este plantel é um emblema de heróis. Em Portugal não é fácil perceber a dimensão disto, mas lembrem-se que eles voam do Índico para cá, França, para jogar. Viajam meio mundo, chegam limitados e estão a conseguir isto», explica Sinama-Pongolle.

Com que meios sobrevive um clube da Ilha da Reunião? O antigo avançado fala num subsídio estatal (cerca de 350 mil euros) e em doações de simpatizantes. «Nos nossos jogos em casa não estavam mais de 700/800 pessoas. Há entusiasmo, mas é tudo bastante amador. Tinha colegas que chegavam ao treino com ele a decorrer e ainda vestidos com a roupa do trabalho.»

No plantel do JS Saint-Pierroise há quatro internacionais de Madagáscar, que chegaram aos quartos-de-final da CAN, mas a maioria dos atletas não vive do futebol.

«A única forma de o futebol de Reunião evoluir passa por integrar os clubes nas provas internacionais em África. Sei que a federação tem tentado, mas há muita resistência e também uma evidente falta de meios.»

Seja como for, o Jeunesse Sportive Saint-Pierroise está a atrair os olhos dos analistas e dos adeptos do futebol. Essa é a maior vitória dos pequenos heróis do Índico. Entre eles, Florent Sinama-Pongolle, um nome de escassas memórias em Alvalade.

JOGOS DOS 16-AVOS-DE-FINAL DA TAÇA DE FRANÇA:

Pau-Bordéus (quinta-feira)
US Granvillaise-Marselha (sexta-feira)
Epinal-JS SAINT PIERROISE (sábado)
Nice-Red Star (sábado)
Prix les Mezieres-FC de Limonest (sábado)
Belfort-Nancy (sábado)
Gonfreville-Lille (sábado)
Angouleme-Estrasburgo (sábado)
Paris FC-Saint Etienne (sábado)
Nantes-Lyon (sábado)
Ath. Marselha-Rennes (domingo)
Dijon-Nimes (domingo)
Montpellier-Caen (domingo)
Rouen-Angers (domingo)
Lorient-PSG (domingo)
St. Pryve St. Hilaire-Mónaco (segunda-feira)

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