Chuteiras roubadas e mais: quando o equipamento falha - TVI

Chuteiras roubadas e mais: quando o equipamento falha

França com equipamento do Kimberley

A propósito da rábula das chuteiras roubadas do balneário do Sp. Braga , recordamos mais seis episódios mais ou menos conhecidos na história do futebol mundial em que o equipamento foi o protagonista

Que importância tem o que vestimos ou calçamos num jogo de futebol? A resposta pode variar de boca para boca, mas terá um coro gigante a gritar «MUITA!» se a pergunta for feita, por estas horas, ao plantel do Sp. Braga.

É verdade que a rábula das chuteiras roubadas no Velodrome, no dia do jogo com o Marselha (ou na véspera, quem sabe), não explicará, por si só, a derrota, a primeira na fase de grupos na competição. Mas, certamente, não foi o melhor despertar para os homens de Paulo Fonseca, que deveriam estar focados exclusivamente no que tinham para fazer e não no que (não) tinham para calçar.

O clube chegou a ponderar a hipótese de fazer um jato privado descolar de Portugal rumo a Marselha com novos exemplares, mas esse seria um problema acrescido: pares novos implicam tempo de adaptação. Algo que já trouxe dissabores a cores lusas noutros tempos. Mas já lá vamos.

Ora, para que o Sp. Braga não se sinta sozinho, recuperamos nesta edição mais seis histórias em que o protagonista foi o equipamento. Botas, meias, camisolas. Ou falta delas…

Os ingleses costumam chamar a estes percalços «wardrobe malfunction» (cuidado com as pesquisas no Google...), mas o português não tem uma palavra ou expressão tão a jeito. Falhou o equipamento. Entende-se, não? Então recorde connosco alguns episódios. 

-Índia: impedida de jogar um Mundial descalça

Quando surgiu a notícia do roubo das chuteiras bracarenses nunca se colocou a hipótese de não haver substitutos para as mesmas. Seria impossível ver o Sp. Braga a entrar em campo descalço, como é óbvio.

O mesmo, contudo, foi problema para a Índia e custou mesmo a participação no Mundial de 1950. Na altura, a FIFA convidou quatro seleções asiáticas para disputar uma qualificação para o torneio que se realizava no Brasil (Índia, Birmânia, Indonésia e Filipinas). As três últimas não aceitaram a proposta o que dava à Índia bilhete direto para o Mundial.

Mas os indianos acabaram por não marcar presença no evento também. No site da FIFA surge a explicação: «A Índia recusou porque a FIFA não permitia que os jogadores competissem descalços.»

A verdade é que, dois anos antes, nos Jogos Olímpicos de Londres, a Índia tinha deixado boa impressão jogando descalça. No Mundial não foi autorizado e nunca mais uma seleção indiana teve a oportunidade de disputar o torneio.

-Taça da Irlanda: duas equipas obrigadas a mudar a camisola

Em 1952, a final da Taça da Irlanda foi disputada entre o Ards e o Glenteran, mas também se pode dizer que foi entre o Linfield e o Cliftonville. Confusos?

Já aconteceu várias vezes de o árbitro do encontro obrigar uma equipa a mudar o equipamento por considerar demasiado parecido com o do adversário, mas naquele jogo, o juiz foi mais longe: as duas equipas tinham de mudar.

O Ards surgiu em campo com uma camisola com riscas vermelhas e azuis, ao passo que o Glentoran usava riscas vermelhas e verdes. Muita confusão no entender do árbitro. A solução passou por pedir camisolas emprestadas.

Assim, o Ards disputou a final da Taça com a camisola do Linfield e o Glentoran com a camisola do Cliftonville…

-Brasil: um equipamento alternativo comprado na feira

Até ao Maracanazo o Brasil sempre equipou de branco, mas o trauma da derrota com o Uruguai foi tão grande que até um equipamento novo foi pensado. Nasceu, então, a canarinha.

O verde e amarelo foi idealizado pelo jornalista Aldyr Schlee e estreado no apuramento para o Mundial de 54. Estava tudo bem até, quatro anos mais tarde, o Brasil ter de enfrentar a Suécia na final do Mundial. Suécia que, como se sabe, também equipa de amarelo.

Obrigados a mudar e com o branco vetado, os brasileiros recortaram o símbolo das camisolas amarelas e coseram nas novas…compradas na feira de Estocolmo no dia anterior à final. Eram azuis, cor que, até hoje, o Brasil tem como alternativa ao amarelo.



-França: quando o Kimberley bateu a Hungria

O cenário foi o Argentina 78 e o protagonista inesperado foi o Kimberley, clube modesto de Mar del Plata, onde se realizou o França-Hungria. A história é contada no livro do Maisfutebol «O essencial dos Mundiais para ler em 90 minutos».

«A França e a Hungria baralharam as recomendações sobre quem devia apresentar-se em campo com o equipamento de reserva e ambas foram de branco para o estádio de Mar del Plata. Alguém tinha de trocar. Só que nenhuma das equipas tinha levado camisolas alternativas, que estavam a dezenas de quilómetros, onde as seleções estavam alojadas.

O impasse resolveu-se de improviso, com a ajuda do clube local: o Kimberley cedeu as suas camisolas a uma das equipas. Estava sanada a crise, o jogo podia começar, ainda que com 40 minutos de atraso. A França, que foi considerada responsável pela confusão, equipou então nesse jogo de camisolas às riscas verticais verdes e brancas».


E ganhou, já agora, por 3-1, mesmo que com Platini e companhia a usarem números diferentes entre as camisolas e os calções, que se mantiveram os originais…



-Benfica: tudo a estrear na final com o PSV

A final da Taça dos Campeões Europeus de 1988, entre Benfica e PSV Eindhoven é uma das espinhas atravessadas na garganta da nação benfiquista, que caiu nos penáltis frente a Koeman e companhia.

Mas o jogo, que se traduziu num espetáculo pobre, teve também por trás uma rábula envolvendo equipamentos. Shéu, capitão do Benfica, na altura, contou a história no livro do Maisfutebol «Sport Europa e Benfica».

«Estreámos o equipamento, que era bonito, mas as meias eram novas e deslizavam. Nem todos sabiam que molhando as chuteiras e as meias, a goma se dilui e a aderência volta a ser normal»
, comentou.

Quem viu o jogo não esquece as vezes em que Pacheco, por exemplo, foi obrigado a voltar a calçar a chuteira que saía pela fraca aderência no contacto com a meia…



-Sporting contra Sporting em Bissau

Esta história remonta a 2002, altura em que dois Sportings se apresentaram em campo para jogar no Estádio 24 de setembro, em Bissau, para a 7ª jornada do campeonato local.

De um lado, o Sporting de Bissau que equipa de verde e branco. Do outro, o Sporting Bafatá, que equipa de verde e branco.

O árbitro não autorizava, naturalmente, o pontapé de saída enquanto um dos Sportings não abdicasse do traje principal. Mas ambos fizeram finca-pé até ao limite.

E o que fica para a história é que, naquele dia, não houve jogo para ninguém.
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