Postiga e Vingada entre estrelas do críquete e de Bollywood - TVI

Postiga e Vingada entre estrelas do críquete e de Bollywood

Superliga Indiana

A Superliga Indiana arranca no próximo sábado e conta com dois portugueses ilustres, nomes bem conhecidos do futebol mundial e até ‘franchises’ de dois emblemas históricos do futebol europeu

Magnatas, vedetas de Bollywood, maior indústria cinematográfica do mundo, lendas do críquete e dois históricos clubes europeus… A Superliga Indiana arranca este sábado e se a diversa lista de proprietários das oito equipas não o chama desde logo à atenção, podemos acrescentar outros dois motivos de interesse: Hélder Postiga, contratado para a vaga de jogador-estrela do Atlético de Calcutá, franchise do Atlético de Madrid, e Nelo Vingada, treinador do NorthEast India, onde na época passada atuava Simão Sabrosa.

A competição criada em 2014 pela Federação de Futebol da Índia e pela IMG, empresa norte-americana promotora de megaeventos à escala global, decorre à margem da I-League, campeonato da I Divisão Indiana, como uma liga fechada que visa sobretudo promover o espetáculo e trazer grandes nomes do futebol ao subcontinente.

Manel Gonçalves Gomes, conhecido no futebol como Professor Neca, é agora é técnico adjunto do Arouca, mas em 2011/12 esteve na Índia a treinar o Churchill Brothers, de Goa, numa altura em que, recorda, «esta ideia estava a germinar» entende que com a Superliga «a Índia tenta fazer um percurso àquele que os Estados Unidos fizeram em meados da década de 70, quando contrataram jogadores consagrados como Pelé ou Eusébio, ou o Japão, com Zico, no início dos anos 90».

«Não é possível comparar isto com o avanço do futebol na China, mas com este novo modelo de Superliga, que para já conflitua com o campeonato nacional, vai acelerar o desenvolvimento do futebol na Índia e provavelmente dar origem a uma liga comum mais forte. Há dificuldades, como o facto de o futebol ainda estar a ganhar o seu espaço num país onde o críquete é dominador em termos de popularidade ou a resistência da sociedade, assente no sistema de castas que condiciona o avanço da estrutura organização do futebol, mas esta competição tem um suporte económico muito forte, com donos milionários e gente de Bollywood, o que ajuda à promoção cada vez maior do futebol em todo este país que mais parece um continente», destaca Neca ao Maisfutebol.

Cinema e críquete aliados ao mundo dos negócios

O mercado de 1 300 milhões de habitantes é imenso e a oportunidade de negócio juntou vontades.

A propriedade dos clubes é uma das particularidades desta prova. O Atlético de Madrid tem uma quota-parte minoritária no seu «franchisado» Atlético de Calcutá, que tem equipamento e símbolo inspirado no clube-mãe, tal como sucede com a Fiorentina e o Pune City.

Além dos históricos europeus estes dois clubes têm vedetas de Bollywood e do críquete, bem como grandes empresas sobretudo do ramo do imobiliário por detrás dos seus acionistas.

A conexão entre a fábrica de sonhos que é o cinema de Mumbai (antiga Bombaím) e o desporto mais popular na Índia, que se associa ao futebol não termina por aqui.

O campeão em título Chennaiyin FC tem como proprietários Vita Dani, sobrinha do milionário Dhirubhai Ambani, o ator de Bollywood Abhishek Bachchan e o capitão da seleção indiana de críquete Mahendra Singh Dhoni. Enquanto o Kerala Blasters, do sul do país, foi fundado e tem como dono o antigo capitão da seleção de críquete Sachin Tendulkar, tendo como coproprietários duas figuras da TV e do cinema.

O Mumbai City FC, clube da Meca do cinema indiano, é sem surpresa é detido pelo popular ator indiano Ranbir Kapoor, enquanto o North East India, de Nelo Vingada tem como seu homem-forte o ator e produtor de Bollywood John Abraham.

O ator de Bollywood Ranbin Kapoor (à direita), dono do Mumbai FC, com Sunil Chhetri, ex-Sporting B

Mais comum é a estrutura acionista do Dehli Dynamos FC, que é detido pela Den Networks, maior distribuidora de TV por cabo na Índia.

Por sua vez, o Goa FC, representante da antiga colónia portuguesa, único estado indiano onde o futebol é o desporto mais popular, deixou de ter como donos duas empresas ligadas ao setor dos minérios, uma delas fundada por descendentes de portugueses, sendo agora controlada por Jaydev Mody, empresário ligado ao jogo e ao turismo, Venugopal Dhoot, presidente da gigante de eletrodomésticos Videocon, bem como (claro está, não podia faltar) o internacional da seleção indiana de críquete Virat Kohli.

Neca, que viveu naquele território, sublinha precisamente essa herança na tradição goesa no futebol indiano:

«Goa tem diferenças muito grandes para o resto do país, não só em termos históricos e culturais, mas também no desporto. É um dos polos do futebol indiano, onde estão sediados clubes como o Dempo, o Salgaocar, o Sporting Goa, o Churchill Brothers… O outro é Calcutá, aí por via da colonização inglesa.»

Forlán, Riise e Lúcio entre as vedetas

Além dos proprietários, também as regras e o calendário deste minicampeonato com imensos recursos são pouco comuns.

Joga-se apenas uma partida em cada dia, cumprindo assim as 14 jornadas, seguindo-se um play-off para apurar o campeão, cuja final está agendada para 18 de dezembro. Cada equipa tem direito a um jogador famoso e pode ter no máximo onze estrangeiros, tendo no lote de jogadores nacionais de incluir uma quota de jogadores formados localmente.

Apresentação do Atlético de Calcutá, equipa da «estrela» Hélder Postiga:

Além do avançado internacional português Hélder Postiga, a estrela do Atlético de Calcutá, campeão em 2014, há outros nomes sonantes entre as vedetas selecionadas pelas restantes equipas, como Diego Forlán (Mumbai City), Jon Arne Riise (Chennaiyin), Malouda (Delhi Dynamos) ou Lúcio (Goa FC). Nos plantéis também há jogadores que passaram pelo campeonato português: do lateral-esquerdo ganês ex-FC Porto David Addy (Delhi Dynamos), ao guarda-redes ex-Sp. Braga Dani Mallo (Atlético de Calcutá), até ao indiano Sunil Chhetri (Mumbai FC), que teve uma passagem fugaz pelo Sporting B, ou Grégory (Goa FC), que por cá representou meia dúzia de clubes – Gil Vicente, V. Guimarães, Marítimo, Paços de Ferreira, Pedras Rubras e Atlético. E há também nomes consagrados sentados no banco: Zico (Goa FC), Alexandre Guimarães (Mumbai City), ex-selecionador de Costa Rica e Panamá, ou os ex-jogadores italianos Zambrota (Delhi Dynamos) e Marco Materazzi (Chennaiyin) assumem o papel de treinadores, tal como Nelo Vingada, no NorthEast United.

Apresentação do NorthEast United, orientado por Nelo Vingada:

É precisamente a equipa do técnico português que estreia a versão 2016 da Superliga Indiana no próximo sábado ao receber o Kerala Blasters.

À terceira edição o futebol e a Índia continuam a aprofundar o seu enredo comum. Resta saber se, tal como nos filmes de Bollywood, este início frenético corresponderá a um final feliz.

Continue a ler esta notícia