Ambulâncias: mais de metade dos transportes não são urgentes - TVI

Ambulâncias: mais de metade dos transportes não são urgentes

Reportagem: «um dia com o INEM»

INEM está a servir de táxi gratuito aos utentes. Casos de perigo ficam a descoberto, dizem técnicos

Mais de metade (60 por cento) dos casos transportados pelas ambulâncias do INEM não são urgentes.

Há quem chame uma ambulância «para ir a uma consulta externa no hospital» ou porque tem «uma dor nas costas» ou mesmo devido a «uma unha encravada», refere ao tvi24.pt, o vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Ambulância e Emergência.

Pedro Louro garante que isto só acontece porque, primeiro: «as pessoas ligam para o INEM e mentem» e seguidamente porque, mesmo que a equipa da ambulância verifique, no local, não estar perante uma urgência, «a indicação da direcção anterior, e que não foi revogada, é a de que, uma vez a ambulância no local, a pessoa deverá sempre ser transportada».

Há situações «caricatas» em que o doente «vai sentado na ambulância e a família vai atrás no carro particular», conta o vice-presidente do STAE, acrescentando «que temos casos destes em todos os dias do ano».

Doentes pensam que se forem de ambulância são atendidos mais depressa

Situações como estas apenas se explicam «com o facto de as pessoas estarem erradamente convencidas de que se chegarem de ambulância ao hospital, são mais rapidamente atendidas», diz. «Ao chegarem ao hospital, são submetidos à triagem e se, por exemplo, uma pessoa entrar de carro particular, estando a fazer um enfarte, terá obviamente prioridade».

Mas há também quem use as ambulâncias como táxi social. «Dou-lhe um exemplo: uma pessoa que resida em Espinho e precise de ir a uma consulta ao Hospital Santos Silva, em Gaia, se for de táxi, paga, mas se for de ambulância vai gratuitamente». São os chamados «casos sociais».

Não faltam clientes habituais destes táxis gratuitos e que, com a prática, até começam a aprender os termos técnicos. «Ligam para o INEM e dizem que estão com dispneia (falta de ar)...chegamos lá e vemos que não se confirma».

A utilização das ambulâncias para serviços não urgentes, coloca necessariamente «em perigo a resposta adequada aos casos verdadeiramente urgentes», garante este responsável, acrescentando que enquanto as ambulâncias do INEM perdem tempo com as falsas urgências, os casos graves ficam unicamente nas mãos da rede complementar, dos bombeiros e da Cruz Vermelha.

Ao contrário dos bombeiros que cobram o transporte, sempre que são chamados para serviços não urgentes, o INEM não o pode fazer «porque se trata de um serviço público gratuito». Cada transporte custa em média 25 euros ao Estado.

O facto de ninguém ser penalizado por solicitar uma ambulância para uma situação não urgente, impede o combate eficaz a este problema.

INEM nega cifra de 60 por cento

Confrontado com as críticas, o actual director do INEM, Abílio Gomes, referiu ao «Jornal de Notícias» não existir uma norma interna que obrigue as ambulâncias a transportarem todos os casos, falando apenas numa recomendação para que, em caso de dúvida, o doente seja transportado.

A mesma fonte classifica de exagerada a cifra de 60 por cento, apontada pelo sindicato, acrescentando que a maioria das queixas para o INEM são precisamente de pessoas a lamentarem o facto de não terem sido transportadas.

Pedro Louro insiste que a percentagem está correcta e até anuncia que «a actual direcção demonstra abertura para melhorar os critérios de transporte».

O tvi24.pt solicitou uma reacção ao INEM, e aguarda uma resposta.

De acordo com os números do INEM, citados pelo «JN», em 2008, 3861 doentes foram atendidos diariamente no CODU, tendo sido accionados, por dia, 2178 meios.

Os meios de socorro do INEM dispõem de 289 ambulâncias, estando 202 sediadas nas corporações de bombeiros.
Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE