O parlamento do Kosovo aprovou hoje um novo Governo de coligação dirigido pela LDK (centro-direita) após meses de crise política, agravando as tensões com os apoiantes de Albin Kurti, primeiro-ministro cessante da esquerda nacionalista.
O Governo de Avdullah Hoti, um professor de economia de 44 anos, foi sancionado por 61 deputados, num total de 120, enquanto 24 votaram contra e um absteve-se, anunciou o vice-presidente do parlamento Kujtim Shala.
Os deputados do movimento Vetevendosje (Autodeterminação, VV), o partido nacionalista de esquerda de Albin Kurti que exigia novas eleições, boicotaram a sessão.
“Sinto-me responsabilizado perante os deputados, os cidadãos e a Constituição, pelas tarefas que nos aguardam”, declarou o novo primeiro-ministro, ao referir como prioridades a luta contra o novo coronavírus, a recuperação económica e o relançamento das conversações com a Sérvia.
“No diálogo com a Sérvia devemos estar todos juntos”, sublinhou ainda o chefe de Governo, numa alusão ao difícil e longo processo mediado pela Comissão europeia e que está paralisado desde novembro de 2018.
A aliança agora no poder é integrada pela Liga Democrática do Kosovo (LDK), que garante os principais ministérios, a nacionalista Aliança para o Futuro do Kosovo (AAK), do ex-primeiro-ministro e antigo combatente separatista Ramush Haradinaj, a formação social-democrata NISMA e o partido da minoria sérvia.
A antiga província do sul da Sérvia atravessa uma crise política desde a queda em março do governo de coligação formado pelo VV, vencedor as últimas legislativas em outubro de 2019, e a LDK.
O escrutínio de outono consagrou a derrota histórica dos antigos combatentes independentistas que dominavam a vida política desde a autoproclamação da independência em 2008.
A coligação VV-LDK sucumbiu em março após menos de dois meses no poder devido a divergências sobre a forma de abordar o combate à pandemia da Covid-19.
O partido de centro-direita assumiu na ocasião a iniciativa de uma moção de censura em plena pandemia do novo coronavírus, motivada em parte pelas pressões exercidas pelos Estados Unidos, o principal aliado do Kosovo, que se opunham à política de Albin Kurti em relação à Sérvia.
Em 20 de abril, Kurti, que lidera um movimento onde militantes de extrema-esquerda e nacionalistas albaneses coabitam de forma complexa com elementos mais moderados, denunciou a ingerência dos Estados Unidos no jogo político kosovar.
Na ocasião, o ex-primeiro-ministro interino denunciou em particular a ingerência do embaixador dos EUA na Alemanha, Richard Grenell – que se demitiu na terça-feira destas funções, mas permanece como enviado especial de Washington para as negociações entre a Sérvia e o Kosovo –, no derrube do seu governo.
“É lamentável que o embaixador Grenell se tenha colocado ao lado dos políticos corruptos que foram rejeitados pelo povo nas últimas eleições”, referiu na ocasião.
O Vetevendosje de Albin Kurti já iniciou a recolha de assinaturas para exigir eleições antecipadas, por considerar que um governo formado sem o vencedor das eleições legislativas carece de legitimidade.
A intervenção do exército da Sérvia no Kosovo a partir de 1998 para combater os pró-independentistas armados albaneses motivou o envolvimento da NATO através de intensos ataques aéreos contra a Sérvia, e ainda no Montenegro, entre março e junho de 1999, quando foi assinado um acordo de tréguas em Kumanovo.
A ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa tornou-se então num “protetorado” da ONU, com a presença de uma força militar da NATO.
O Kosovo autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e Reino Unido e, progressivamente, por 22 dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE).
A Sérvia recusa a secessão unilateral da sua antiga província do sul, que também não foi reconhecida pela Rússia, China, Índia ou África do Sul.
Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre são os países da UE que não legitimaram a independência do Kosovo.