Primeiro grupo de refugiados ‘rohingya’ chega a ilha remota no Bangladesh - TVI

Primeiro grupo de refugiados ‘rohingya’ chega a ilha remota no Bangladesh

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  • HCL
  • 4 dez 2020, 14:14
Quase 300 refugiados rohingya desembarcaram na Indonésia

Bangladesh investiu cerca 400 milhões de dólares (cerca de 328 milhões de euros) na construção de abrigos para instalar os refugiados

Um primeiro grupo de refugiados da minoria muçulmana ‘rohingya’, composto por 1.642 pessoas, chegou esta sexta-feira à ilha de Bhashan Char, ao abrigo de um controverso programa de realocação conduzido pelo Bangladesh que é contestado por organizações de direitos humanos.

Os navios que transportaram os refugiados atracaram na ilha remota de Bhashan Char eram 14:00 hora local (08:00 hora de Lisboa), segundo relatou, em declarações às agências internacionais, Shamsud Douza, um responsável que acompanhou a viagem.

A segurança na ilha, localizada na Baía de Bengala, foi reforçada com a criação de uma esquadra de polícia e o destacamento de cerca de 300 agentes, indicou à agência France-Presse (AFP) um membro das forças policiais.

O Bangladesh investiu cerca 400 milhões de dólares (cerca de 328 milhões de euros) na construção de abrigos para instalar os refugiados, bem como de um dique com três metros de altura em redor das instalações.

As autoridades de Daca garantiram que os refugiados terão instalações e equipamentos de apoio que irão garantir as necessidades básicas do dia-a-dia.

Na quinta-feira, funcionários governamentais do Bangladesh indicaram que cerca de 2.500 refugiados ‘rohingya’ seriam transferidos para Bhashan Char durante a primeira fase deste programa de realocação.

De acordo com os planos do Governo de Daca, pelo menos 100.000 refugiados ‘rohingya’ serão instalados nesta ilha, que é frequentemente afetada por condições meteorológicas adversas e, como tal, é considerada como perigosa por organizações de defesa dos direitos humanos.

A ilha, que nunca foi habitada, fica submersa regularmente pelas chuvas das monções e é frequentemente atingida por ciclones.

Várias organizações não-governamentais (ONG), como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, denunciaram ainda que alguns refugiados estavam a ser forçados a ir para a ilha, alegações que foram rejeitadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do Bangladesh, A.K. Abdul Momen.

Por seu lado, a representação das Nações Unidas no Bangladesh esclareceu que “não está envolvida” neste plano de realocação, indicando mesmo ter recebido "pouca informação" sobre o processo.

Numa nota, as Nações Unidas afirmaram igualmente que não tiveram autorização para fazer uma avaliação independente sobre a “segurança, exequibilidade e viabilidade” da ilha, sublinhando ainda que os refugiados "devem poder tomar uma decisão livre e informada sobre a reinstalação" e, uma vez instalados, devem ter acesso à educação, a cuidados de saúde e devem livres de partir se assim o desejarem.

Milhares de ‘rohingyas’ procuraram refúgio no Bangladesh, sobretudo na zona de Cox’s Bazar, desde meados de agosto de 2017, quando foi lançada, no estado de Rakhine (em Myanmar, a antiga Birmânia), uma operação militar do exército birmanês contra o movimento rebelde Exército de Salvação do Estado Rohingya devido a ataques da rebelião a postos militares e policiais.

Em outubro passado, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) estimava que 860 mil ‘rohingyas’ vivem no Bangladesh em campos próximos da fronteira com Myanmar, enquanto outros cerca de 150 mil se encontram refugiados em outros países da região.

Estima-se igualmente que cerca de 600 mil ainda vivem no território birmanês.

A campanha de repressão do exército de Myanmar contra esta minoria foi descrita pela ONU como limpeza étnica e um possível genocídio, incluindo o assassínio de milhares de pessoas, a violação de mulheres e de crianças e a destruição de várias aldeias.

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