Trump prepara-se para reconhecer Jerusalém como capital de Israel - TVI

Trump prepara-se para reconhecer Jerusalém como capital de Israel

  • AR - atualizada às 13:12
  • 6 dez 2017, 07:29

Presidente dos EUA vai anunciar esta quarta-feira a decisão e transferir para a Cidade Santa a embaixada norte-americana, atualmente em Telavive. Papa Francisco, Médio Oriente e Europa. Todos criticam a decisão e receiam as consequências, nomeadamente uma escalada da violência

O Presidente dos Estados Unidos vai reconhecer esta quarta-feira Jerusalém como capital de Israel, para onde vai transferir a embaixada, atualmente em Telavive, disseram responsáveis da administração norte-americana, citados pelas agências noticiosas internacionais.

A Casa Branca tinha indicado que Donald Trump vai anunciar esta quarta-feira, num discurso marcado para as 13:00 (18:00 em Lisboa), a decisão de considerar Jerusalém como a capital de Israel e de transferir a embaixada norte americana, atualmente localizada em Telavive.

O Presidente Trump vai reconhecer Jerusalém como a capital de Israel”, indicou um responsável da administração norte-americana, que pediu o anonimato, e avançar para o “reconhecimento de uma realidade” tanto histórica – Jerusalém figura como capital do Estado judeu desde a Antiguidade – como contemporânea – porque tem sido a sede do Governo israelita desde a fundação moderna daquele Estado em 1948 -, em vez de uma declaração política.

Os Estados Unidos vão transformar-se assim no único país do mundo a reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

Veja também: Portugal contra decisão de Trump sobre Jerusalém

De acordo com responsáveis norte-americanos, citados pelas agências noticiosas AP, AFP e Efe, Donald Trump vai, de seguida, ordenar ao Departamento de Estado que inicie a transferência da embaixada, de Telavive para Jerusalém, um processo que deve demorar anos.

Há cerca de mil pessoas a trabalhar na embaixada em Telavive, e não temos um espaço que possa acolhê-los em Jerusalém. Levará tempo a encontrar um lugar, a garantir que é seguro, a projetar uma nova embaixada e a construi-la”, afirmou um alto funcionário.

“Hoje em dia não se pode construir uma embaixada em nenhum lugar do mundo em menos de três ou quatro anos. Esse será também o caso” em Jerusalém, complementou outra fonte.

A comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital de Israel, nem a anexação da parte oriental conquistada em 1967.

Israel considera a Cidade Santa a sua capital “eterna e reunificada”, mas os palestinianos defendem pelo contrário que Jerusalém-leste deve ser a capital do Estado palestiniano ao qual aspiram, num dos principais diferendos que opõem as duas partes em conflito.

Os países com representação diplomática em Israel têm as embaixadas em Telavive, em conformidade com o princípio, consagrado em resoluções das Nações Unidas, de que o estatuto de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelitas e palestinianos.

Uma lei norte-americana de 1995 solicitava a Washington a mudança da embaixada para Jerusalém, mas essa medida nunca foi aplicada, porque os Presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama adiaram sua implementação, a cada seis meses, com base em “interesses nacionais”.

Dado o tempo que deve levar a transferência da embaixada para Jerusalém, Trump deve assinar, na mesma ocasião, uma ordem para prorrogar a aplicação dessa lei.

Manifestantes em Gaza queimam fotos de Trump e bandeiras dos EUA

Centenas de pessoas manifestaram-se esta quarta-feira na Cidade de Gaza contra a anunciada intenção do presidente norte-americano de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e queimaram fotos de Donald Trump e bandeiras dos Estados Unidos.

As manifestações de ira são um de uma série de passos que nós, países árabes e islâmicos, vamos dar contra a decisão norte-americana de tomar a cidade de Jerusalém”, afirmou o dirigente do Hamas Salah al-Bardaawil, numa intervenção durante o protesto.

Bardawil considerou a decisão dos Estados Unidos “muito perigosa para a causa palestiniana” e “uma violação da doutrina, da história, do coração e da alma” palestiniana.

O dirigente advertiu que o anúncio da decisão de Trump conduzirá a “um levantamento popular e, nessa altura, a resistência fará queimar a terra e cortar as mãos de quem quer que tente estendê-las para Jerusalém e para os lugares sagrados”.

O dirigente da Jihad Islâmica Khaled al-Batsh também interveio no protesto para assegurar que “o povo palestiniano, em casa e na diáspora, juntamente com todos os povos livres do mundo, rejeita a tendenciosa decisão norte-americana”.

A medida de Trump, acrescentou, “confirma o fracasso do processo de paz” e os países árabes e muçulmanos devem “romper os laços com os Estados Unidos e retirar o reconhecimento de Israel e dos Acordos de Paz de Oslo” de 1993.

Os manifestantes gritaram palavras de ordem em defesa da Mesquita de Al-Aqsa, situada na Esplanada das Mesquitas, na cidade velha de Jerusalém, território palestiniano ocupado sobre o qual Israel declarou em 1980 uma soberania não reconhecida por nenhum país.

As organizações palestinianas declararam três ”dias de ira” a partir desta quarta-feira e o Hamas apelou para uma jornada de luta na sexta-feira na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia e em Jerusalém.

Liga Árabe convoca reunião de emergência

 A Liga Árabe convocou esta quarta-feira uma reunião de emergência dos ministros dos Negócios Estrangeiros da região para discutir a intenção dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

A convocação da reunião foi solicitada pela Jordânia, após um pedido da Palestina, e depois de o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter comunicado a vários líderes árabes a intenção de mudar a sua embaixada de Telavive para Jerusalém.

Trump telefonou na terça-feira ao rei Abdullah II da Jordânia, ao presidente egípcio, Abdelfatah al Sisi, e ao presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, para lhes comunicar a decisão, que deverá ser anunciada hoje oficialmente às 13:00 locais (18:00 em Lisboa).

A Liga Árabe manifestou nos últimos duas a sua preocupação com a intenção dos Estados Unidos, considerando que pode “destruir por completo o processo de paz” e representar uma ameaça para a segurança e a estabilidade na Palestina e na região.

De acordo com uma fonte diplomática, citada pela agência France-Presse, a reunião da Liga Árabe deverá realizar-se no sábado.

Papa defende manutenção do estatuto de Jerusalém, pede "sabedoria e prudência"

O Papa Francisco pediu esta quarta-feira respeito pelo estatuto de Jerusalém e "sabedoria e prudência", numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos se preprara para reconhecer a cidade como capital de Israel.

Não posso calar a minha profunda preocupação perante a situação que se criou nos últimos dias" sobre Jerusalém, declarou o papa, sem citar diretamente o anúncio de Donald Trump.

 

Peço que todos se comprometam a respeitar o estatuto da cidade, em conformidade com as resoluções da ONU", sublinhou, durante a audiência semanal, perante milhares de fiéis, no Vaticano.

O Papa lembrou que "Jerusalém é uma cidade única, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, que ali veneram locais sagrados para as suas respetivas religiões, e ela tem uma vocação especial para a paz".

"Peço a Deus que esta identidade seja preservada e reforçada, em benefício da Terra Santa, do Médio Oriente e de todo o mundo, e que prevaleçam sabedoria e prudência, para evitar acrescentar novos elementos de tensão num panorama mundial já convulsivo e marcado por tantos conflitos cruéis", reiterou.

Síria: Intenção dos EUA "é perigosa" 

O plano do presidente norte-americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel “é perigoso”, considerou esta quarta-feira o Governo sírio.

A Síria condena fortemente a vontade do presidente norte-americano de transferir a embaixada norte-americana para Jerusalém ocupada e de reconhecer Jerusalém como capital da ocupação israelita”, afirmou uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio, citada pela agência oficial Sana.

De acordo com a mesma fonte, “esta iniciativa perigosa da administração norte-americana mostra claramente o desprezo dos Estados Unidos pela lei internacional”.

A diplomacia síria advertiu ainda que o presidente norte-americano e os seus aliados na região “assumirão a responsabilidade” da decisão.

A Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos na região, também já alertou que a transferência da embaixada para Jerusalém poderá provocar “a ira dos muçulmanos”.

Presidente turco organiza cimeira com líderes muçulmanos

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, vai organizar a 13 de dezembro em Istambul uma cimeira de dirigentes dos principais países muçulmanos na sequência da decisão dos Estados Unidos em reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

O nosso Presidente da República convocou uma cimeira extraordinária da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) para permitir que os países muçulmanos atuem de forma unificada e coordenada diante desses desenvolvimentos”, disse o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, afirmando que a reunião vai decorrer a 13 de dezembro em Istambul, na Turquia.

China preocupada com “escalar de tensões”

A China disse esta quarta-feira estar preocupada com o plano de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, afirmando temer um "escalar de tensões" na região.

Estamos preocupados com uma possível escalada de tensões", afirmou Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

"Todas as partes envolvidas devem ter em mente a paz e estabilidade regionais, ter cautela nas ações e declarações, evitar minar a base para uma resolução da questão palestiniana e abster-se de gerar um novo confronto na região", afirmou Geng, em conferência de imprensa.

Rússia, preocupada com reconhecimento, admite “deterioração”

A presidência russa está preocupada com a intenção dos Estados Unidos de reconhecerem Jerusalém como capital de Israel e teme uma ”possível deterioração” da situação no Médio Oriente, disse à imprensa o porta-voz do Kremlin.

A situação não é fácil”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, num encontro com jornalistas em Moscovo.

De acordo com Peskov, Putin falou do assunto com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, na terça-feira à noite, e manifestou a sua preocupação com “uma possível deterioração” da situação na região.

O porta-voz afirmou contudo que o presidente da Rússia não vai comentar uma decisão que não foi anunciada.

 

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