As alterações climáticas vão causar mais 250 mil mortos todos os anos entre 2030 e 2050 em todo o mundo, devido a má nutrição, malária e outras doenças ou golpes de calor, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além da mortalidade estimada pela OMS, segundo dados deste ano, os custos diretos na saúde com os danos provocados pelas alterações climáticas vão situar-se nos dois a quatro mil milhões de dólares (1.700 milhões a 3.500 milhões de euros) por ano a partir de 2030.
Um relatório de especialistas da ONU advertiu hoje que o mundo terá de avançar com transformações "rápidas e sem precedentes" nos sistemas de energia, transportes, construção e indústria" para limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius.
Se o aquecimento "continuar a crescer ao ritmo atual", sob o efeito das emissões de gases do efeito estufa, "deve chegar a 1,5° Celsius (C) entre 2030 e 2052", de acordo com o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).
Limitar o aquecimento global a quase um grau pode significar a diferença entre a vida e a morte de muitas pessoas e ecossistemas, sublinharam os responsáveis pelo documento, manifestando "pouca esperança" de que o mundo seja capaz de enfrentar este desafio.
O relatório, de 400 páginas, foi divulgado na cidade sul-coreana de Incheon, após uma reunião de cinco dias, em que participaram 570 representantes de 135 países.
O documento foi encomendado pela ONU após o Acordo Climático de Paris de 2015, no qual os signatários se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2ºC e limitá-lo a 1,5ºC em relação ao século XIX.
Os cientistas descrevem, com base em seis mil estudos, os impactos de um aquecimento de mais 1,5º Celsius, um nível que a Terra poderá atingir já em 2030 (2030-2052) devido à falta de uma redução maciça das emissões de gases de efeito estufa.
"Terríveis consequências"
Para os ambientalistas da Zero, o novo relatório sobre alterações climáticas traz “novas evidências de que muitas das terríveis consequências futuras do aquecimento global podem ser evitadas, respeitando o limite de 1,5º Celsius”.
O relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) "também confirma que ainda é possível manter o aumento da temperatura global abaixo deste limite, mas requer uma mudança rápida e de longo alcance em todos os setores da economia", indicou a associação.
A Zero sublinhou que qualquer nível de aquecimento tem "impactos adversos", mas que há diferenças se os valores são de 1,5ºC ou de 2ºC.
Manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C significa uma diminuição das pessoas expostas a ondas de calor, chuvas fortes, secas, tempestades e inundações", assim como poder conter o aumento do nível do mar "10 centímetros abaixo do esperado até 2100, poupando as habitações de milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras ou em ilhas".
Para a Zero, manter esse nível de aquecimento requer mudanças, mas apenas se os decisores políticos "agirem agora", mas o relatório do IPCC "traz esperança" se houver um trabalho conjunto para repensar como se organizam as sociedades.
Em comunicado, o presidente da Zero, Francisco Ferreira, argumentou que este documento "reforça a necessidade de cada um dos países, incluindo Portugal, ir muito mais além e mais depressa em relação ao atualmente previsto".
"O roteiro para a neutralidade carbónica em 2050 que o Governo está a preparar é uma oportunidade única que tem de ser concretizada pelos próximos governos, num consenso alargado de todas as forças políticas e assumido por toda a sociedade", acrescentou.