A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmou hoje que o Irão cumpre os seus “compromissos em matéria nuclear” definidos no acordo com as grandes potências.
O Irão está submetido ao regime de verificação mais fiável do mundo em matéria nuclear”, afirmou Yukiya Amano, diretor-geral da agência da ONU, num comunicado.
O acordo de 2015 representa um “progresso importante em matéria de verificação”, disse.
Um porta-voz da AIEA já tinha afirmado na semana passada “não haver qualquer indicação credível de atividades no Irão relacionadas com o desenvolvimento de armas nucleares após 2009”, depois de Israel ter evocado “provas contundentes” de um programa nuclear secreto iraniano.
Segundo a agência, os seus inspetores passaram até ao momento um total de 3.000 horas no terreno no Irão, tendo colocado 2.000 selos invioláveis em equipamentos e materiais nucleares e tido acesso a centenas de milhares de imagens "recolhidas diariamente por sofisticadas câmaras de vigilância".
O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na terça-feira que os Estados Unidos abandonam o acordo nuclear assinado entre o Irão e o grupo 5+1, constituído pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) e a Alemanha.
O acordo, concluído em 2015, permitiu o levantamento de parte das sanções internacionais em troca do compromisso de Teerão de limitar o seu programa nuclear a fins civis.
Uma das justificações de Washington é a de que o acordo não é eficiente na vigilância das atividades nucleares do Irão.
Europeus “tudo farão”
A chanceler alemã Angela Merkel frisou, entretanto, que os europeus “tudo farão” para manter o Irão no acordo nuclear, depois de o guia supremo iraniano ter pedido garantias aos europeus na sequência da decisão dos EUA de sair do acordo.
Vamos respeitar o acordo e tudo faremos para que o Irão cumpra as suas obrigações”, disse Merkel.
A chanceler alemã, que discursava perante membros do seu partido conservador, considerou também que a retirada norte-americana do pacto aumenta a responsabilidade da União Europeia na segurança mundial.
O dia de ontem mostrou-nos, mais uma vez, que vamos enfrentar mais responsabilidades na Europa, na política externa, em termos de garantir a paz, em termos das soluções políticas que temos de encontrar”, disse.
"Garantias práticas"
Em Lisboa, o presidente da comissão de Segurança Nacional do parlamento iraniano defendeu que o cumprimento pelo Irão do acordo nuclear, abandonado pelos EUA, depende das “garantias práticas” da União Europeia de que resistirá às exigências norte-americanas.
A manutenção do compromisso de Teerão com o acordo nuclear “depende das garantias da parte da União Europeia”, declarou hoje aos jornalistas Alaeddin Boroujerdi, presidente da comissão de Segurança Nacional e Relações Externas do parlamento do Irão, que foi recebido de manhã pelo vice-presidente da Assembleia da República, Jorge Lacão e pelos deputados da comissão de Negócios Estrangeiros.
Não queremos testemunhar os mesmos erros que os EUA estão a cometer por parte da União Europeia”, disse o deputado, que chefia uma delegação de parlamentares iranianos em visita a Lisboa.
As autoridades iranianas exigem que a União Europeia (UE) dê “garantias práticas” de que manterá o acordo, até porque “existem dúvidas de que a União Europeia, no seu conjunto, tenha a capacidade de continuar a trabalhar com o Irão e de manter este acordo”, indicou Boro Jerdi.
Se a UE tem essa capacidade de preservar esse acordo, tem de passar garantias práticas. Para nós, não é aceitável que esta violação dos EUA seja repetida por parte da UE”, acrescentou.
Questionado sobre que garantias são pedidas por Teerão, o deputado respondeu: “Respeitar e cumprir os compromissos assumidos contemplados no acordo nuclear, não aceitar a pressão dos EUA, não ter receio de sanções que os EUA possam aplicar aos bancos europeus que trabalham com o Irão”.
Queremos exigir uma garantia muito prática e não apenas uma conversa oral sobre a sua determinação” de manter o acordo nuclear, acrescentou.
No entanto, Boroujerdi ressalvou que a capacidade do bloco europeu de resistir a pressões dos Estados Unidos é “fraca”.