Histórias da Casa Branca: A saúde de Hillary é assunto político - TVI

Histórias da Casa Branca: A saúde de Hillary é assunto político

  • tvi24
  • Germano Almeida
  • 12 jan 2013, 15:01
Hillary Clinton em campanha eleitoral

As hospitalizações da secretária de Estado inquietam as hostes democratas para 2016. Estará em condições de começar ciclo tão longo?

Hillary Clinton tinha tudo para ser uma candidata imbatível em 2016.

Mesmo gostando de Barack Obama, muitos setores democratas ainda continuam a achar que o melhor desfecho para a América teria sido o triunfo esperado de Hillary nas primárias de 2008.

O comportamento exemplar que Hillary teve para com Barack Obama depois de ter perdido uma das primárias mais equilibradas da história das eleições americanas teve como consequência quatro anos de cooperação produtiva.

No Departamento de Estado, Hillary mostrou ser uma figura de topo do sistema político americano. Representou, de forma elevada, os Estados Unidos nos momentos mais difíceis dos últimos quatro anos. E foram muitos.

Sem nunca se ter notado um resquício sequer da fricção que terá ficado do duelo das primárias, a coabitação Obama na Casa Branca/Hillary no Departamento de Estado foi, como muito bem disse Bill Clinton na Convenção Democrata, uma prova de que «a política não tem que ser um ensanguentado combate de boxe, pode ser um exemplo de cooperação construtiva».

Atempadamente, Hillary Clinton fez saber que não estava interessada em cumprir um segundo mandato como secretária de Estado.

Algo que, só por si, não causou impacto especial, uma vez que essa decisão surgia alinhada com o que tinham feito Warren Christopher (primeiro mandato de Bill Clinton) ou Colin Powell (primeiro mandato de George W. Bush), antecessores de Hillary na chefia da diplomacia americana.

Passou, a partir daí, ser legítimo pensar que Hillary estaria a preparar, com o devido tempo e com a embalagem de quem esteve a um passo de ser a nomeada do Partido Democrata em 2008, uma nova candidatura presidencial para 2016.

Por muito que ela fosse repetindo que não está a pensar nisso, esse tipo de respostas valem o que valem em política.

Certo, certo é que qualquer sondagem ou estudo de opinião junto de eleitores democratas ou numa base mais alargada aponta Hillary Rodham Clinton -- Primeira Dama entre 1993 e 2001, senadora por Nova Iorque entre 2001 e 2009, secretária de Estado dos EUA desde 2009 ¿ a vencedora antecipada das próximas presidenciais.

O problema é que falta muito tempo para 2016. E a saúde da ainda secretária de Estado dos EUA é um assunto que começa a preocupar a base democrata.

As últimas semanas foram particularmente difíceis para a chefe da diplomacia norte-americana. Hillary foi hospitalizada duas vezes num curto espaço de tempo. Um coágulo sanguíneo que lhe foi detetado entre o crânio e o cérebro forçou-a a um internamento e a uma baixa de cinco dias do cargo de secretária de Estado.

Hillary Clinton foi recordista de viagens ao serviço da diplomacia americana. Nestes quatro anos no State Department, fez 112 deslocações ao estrangeiro.

O número, espantoso, foi recordado pela sua equipa, que lhe ofereceu uma camisola com «112» estampado nas costas, como presente no regresso ao trabalho, após a hospitalização.

Aos 65 anos, sobram dúvidas sobre os desejos de Hillary: quererá mesmo avançar para uma longa e desgastante corrida presidencial, que começaria a ser preparada a sério daqui a um ano e duraria mais três?

É um dilema interessante para os analistas, mas ingrato para a protagonista: será possível não avançar, com tantas perspetivas de vitória? Por outro lado, dá para voltar a arriscar, sob pena de poder perder pela segunda vez, com o estigma de ser a favorita que depois não consegue cumprir no terreno?

É cedo para antecipar o cenário que se colocará em 2014/2015, quando começarem a existir posicionamentos dos diversos candidatos, mas o boletim clínico de Hillary Clinton talvez venha a ser um dos assuntos políticos mais relevantes nos próximos anos nos EUA.

Num palco tão exigente como o da política americana, tudo, mas mesmo tudo, pode contar.

Germano Almeida é jornalista do Maisfutebol, autor do livro «Histórias da Casa Branca» e do blogue Casa Branca
Continue a ler esta notícia