Ameaças, detenções e secretismo marcam celebração dos 20 anos da passagem de Macau para a China - TVI

Ameaças, detenções e secretismo marcam celebração dos 20 anos da passagem de Macau para a China

  • HCL
  • 16 dez 2019, 22:29

A presença portuguesa naquele território nunca foi tão forte como a dos britânicos em Hong Kong e não deixou sementes democráticas. O Governo português e o Presidente da República não foram convidados para este aniversário

Na sexta-feira, cumprem-se 20 anos sobre a passagem de Macau para a soberania chinesa. Face às manifestações pró-democráticas dos últimos meses em Hong Kong, o governo de Pequim está a apresentar Macau como prova do sucesso da integração das antigas colónias europeias na República Popular da China.

A presença portuguesa naquele território nunca foi tão forte como a dos britânicos em Hong Kong e não deixou sementes democráticas. O Governo português e o Presidente da República não foram convidados para este aniversário.

A visita do Presidente chinês no 20.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), cujo programa é ainda desconhecido, obrigou ao reforço da segurança no território, numa semana marcada por detenções e denúncias de ameaças a jornalistas.

A poucos dias das celebrações no território pouco ou nada se sabe sobre o programa oficial, mas são crescentes os relatos de medidas adicionais de segurança das autoridades nas fronteiras que obrigaram a reduzir as ligações de e para Hong Kong, de inspeções policiais, mas também de ameaças a repórteres denunciadas pela Associação de Jornalistas de Macau (AJM), tudo antes da chegada do Presidente chinês, Xi Jinping.

A associação garantiu que “muitos jornalistas locais foram ameaçados por pessoas não identificadas”, que as avisaram para a forma como se deveriam expressar e agir, a poucos dias das cerimónias que assinalam os 20 anos da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, para as quais estão inscritos mais de 650 profissionais dos 'media', com as autoridades do território a declararem no sábado que a primazia da cobertura será dada aos repórteres provenientes do interior da China.

A mesma associação condenou qualquer intimidação e constrangimentos à liberdade de imprensa e apelou ao Governo Central e à RAEM para que cumpra os compromissos ao abrigo do princípio “Um país, dois sistemas”.

A posição da AJM surgiu no domingo, 48 horas após a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) ter apelado às autoridades do território para que "o livre exercício da profissão esteja assegurado na plenitude (…), perante situações recentes de jornalistas do exterior que viram a entrada negada ou que foram inquiridos prolongadamente nas fronteiras de Macau”.

Numa cidade cujas decorações dos espaços públicos assinalam já as festividades no Natal, mas não os 20 anos da RAEM, a visita de Xi Jinping, apenas anunciada oficialmente no sábado, tem motivado medidas de segurança adicionais, com inspeções na zona dos casinos, mas sobretudo nas fronteiras do território, dotadas de mais máquinas de raio-x à saída de Hong Kong e à chegada a Macau.

Desde terça-feira, de resto, as autoridades do interior da China contam com mais postos de controlo de segurança situados numa ilha artificial da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, de forma a proceder a inspeções sobre todos aqueles que se deslocam para a cidade chinesa de Zhuhai ou para a RAEM provenientes de Hong Kong, onde há mais de meio ano decorrem protestos do campo pró-democracia, que têm desafiado Pequim.

Terá sido num destes postos de controlo que “desapareceu” um residente de Hong Kong, um caso denunciado pelo filho aos ‘media’ da região administrativa especial vizinha.

O último contacto que teve com o pai foi por telefone, quando este lhe disse que tinha sido detido pelas autoridades do interior da China. Na RAEM não há registo da entrada do homem e as autoridades de Hong Kong estão a tratar o assunto como um desaparecimento, acrescentou o filho.

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