Agência Europeia de Medicamentos contradiz Bruxelas sobre prazos para vacina - TVI

Agência Europeia de Medicamentos contradiz Bruxelas sobre prazos para vacina

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  • 19 mar 2020, 20:17
Vacina (Reuters)

Ursula von der Leyen anunciou esperar que a potencial vacina para o novo coronavírus, que está a ser investigada pela biofarmacêutica CureVac, esteja no mercado até ao outono, podendo “salvar vidas dentro e fora da Europa”. EMA fala em 18 meses

A Agência Europeia de Medicamentos contradisse hoje a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que falou na possibilidade de haver uma vacina para o Covid-19 no outono, estimando que o processo demore até 18 meses.

“Estimamos que demore seis ou mais meses até essas potenciais vacinas poderem ser testadas clinicamente, a uma maior escala, e entre 12 a 18 meses até a vacina contra o Covid-19 estar pronta para aprovação”, informa a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) numa resposta escrita hoje enviada à agência Lusa.

Frisando que estes prazos são, normalmente, “difíceis de prever”, a EMA indica à Lusa que, com base na informação dada à agência pelas empresas que estão a trabalhar nesta solução, “os testes clínicos deverão iniciar-se nos próximos meses”.

A EMA aponta, ainda, ter “uma equipa dentro da Agência a trabalhar sobre esta questão e [para garantir] as ferramentas regulatórias necessárias para acelerar a aprovação”, visando assim “uma resposta rápida ao Covid-19”.

Na terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou esperar que a potencial vacina para o novo coronavírus, que está a ser investigada pela biofarmacêutica CureVac, esteja no mercado até ao outono, podendo “salvar vidas dentro e fora da Europa”.

Confrontada nesse dia com o curto prazo, a responsável garantiu procedimentos regulatórios rápidos e lembrou a oferta norte-americana ao laboratório alemão que a desenvolve, o que “mostra reconhecimento”.

“Como estamos numa severa crise, podemos acelerar os processos que, normalmente, são mais lentos e demoram mais tempo por serem muito burocráticos”, disse Ursula von der Leyen, em declarações aos jornalistas nesse dia, em Bruxelas.

Apontando “o facto de outros países terem tentado comprar essa empresa, [que] mostra que ela está na linha da frente da investigação”, a líder do executivo comunitário vincou que a CureVac, uma empresa de Tübingen, na Alemanha, “é altamente especializada neste campo”.

“A estimativa que temos é que, no outono, possa haver uma vacina que combata o coronavírus”, insistiu.

Um dia antes, na segunda-feira, a Comissão Europeia anunciou um apoio de até 80 milhões de euros à CureVac, após esta ter, alegadamente, recebido uma oferta da administração norte-americana.

Este apoio financeiro foi divulgado depois de, também nesse dia, a CureVac ter negado haver recebido uma oferta do Governo dos Estados Unidos para reservar a sua descoberta para os norte-americanos, embora tenha confirmado uma reunião com a administração norte-americana.

Na resposta dada à Lusa, a EMA refere ainda estar a isentar os laboratórios de taxas de consultoria científica relativamente a possíveis tratamentos para o Covid-19, garantindo ainda “trabalhar com todas as empresas para progredir o mais rápido possível no desenvolvimento e aprovação da vacina”.

Sucesso de vacina depende da forma como sistema imunitário atua

Especialistas advertiram para o risco de uma eventual vacina contra a Covid-19 se revelar ineficaz se não se souber como é que o sistema imunitário pode combater o coronavírus que causa a doença que se tornou uma pandemia.

A observação é feita num artigo publicado na revista científica Nature, que cita virologistas dos Estados Unidos, onde se ensaia, em Seattle, uma vacina em 12 pessoas saudáveis.

"Não sabemos assim tanto sobre a imunidade a este vírus", assinalou o imunologista da Universidade de Washington Michael Diamond.

O virologista Stanley Perlman, da Universidade de Iowa, realçou que as pessoas podem ficar infetadas com o novo coronavírus mesmo se tiverem concentrações elevadas de anticorpos contra este tipo de vírus, que causa infeções respiratórias como pneumonia.

A vacina que está a ser testada em Seattle visa capacitar o sistema imunitário para produzir anticorpos que reconheçam e bloqueiem a proteína que o coronavírus SARS-CoV-2 usa para entrar nas células humanas.

Para Michael Diamond, especialista em imunologia viral, uma vacina assim concebida pode não chegar.

Os especialistas sugerem que uma vacina eficaz contra o novo coronavírus poderá ter que estimular o corpo a gerar anticorpos que bloqueiem outras proteínas virais ou fazer com que as células T (células que defendem o organismo contra agentes infecciosos) reconheçam o SARS-CoV-2 e matem as células que foram infetadas.

Num teste com ratos e porquinhos-da-índia, uma vacina desenvolvida pela farmacêutica Inovio induziu a produção de anticorpos e células T contra o novo coronavírus. Face aos resultados obtidos, o laboratório prepara-se para avançar com um ensaio clínico em abril.

O cientista Peter Hotez, da Universidade Baylor, considera que potenciais vacinas devem ser testadas primeiro em animais para se perceber, com segurança, a sua eficácia: por exemplo, se houve uma melhoria dos sintomas associados à infeção pelo novo coronavírus.

Por vezes, acontece que pessoas vacinadas desenvolvem uma forma mais severa de uma infeção, depois de infetadas por um vírus, do que as pessoas que não estavam vacinadas.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia de Covid-19, já infetou mais de 220 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.900 morreram.

Das pessoas infetadas, mais de 85.500 recuperaram da doença.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 176 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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