Crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, aptos a serem adotados, desfilaram num centro comercial no estado brasileiro de Mato Grosso para uma plateia de possíveis adotantes, um evento que gerou revolta nas redes socais.
O desfile, denominado "Adoção na Passarela", foi promovido pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA), em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil do Mato Grosso (OAB-MT), e tinha como intuito dar visibilidade a menores aptos para adoção.
No entanto, o evento gerou controvérsia e foi alvo de duras críticas.
A "passarela da adoção", em Cuiabá, expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra.
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) May 22, 2019
A "passarela da adoção", em Cuiabá (Mato Grosso), expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra", argumentou o ex-candito à Presidência do Brasil pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Guilherme Boulos, na rede social Twitter.
Também a ex-candidata a vice-presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições de outubro passado, Manuela d'Ávila, declarou o seu desagrado com a iniciativa.
Acho que essa é uma das notícias mais tristes que li. Crianças numa passarela, cheias de sonhos e desejos, buscando a aprovação a partir de um desfile, como se para amar um filho tivéssemos que admira-lós fisicamente. https://t.co/8hJh6g3l8L
— Manuela (@ManuelaDavila) May 22, 2019
Acho que essa é uma das notícias mais tristes que li. Crianças numa passarela, cheias de sonhos e desejos, buscando a aprovação a partir de um desfile, como se para amar um filho tivéssemos que admirá-los fisicamente", escreveu Manuela d'Ávila no Twitter.
Em declarações à agência Lusa, o advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil Luciano Santoro lamentou que a ordem se tenha associado a um evento em que as "crianças são tratadas como objetos".
Não há como deixar de se indignar com o evento 'Adoção na Passarela'. Por mais nobre que fosse a intenção, é lamentável que crianças sejam vistas como objeto. A lei da adoção brasileira busca pais para uma criança e não o contrário. Lamentável saber que OAB-MT e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Mato Grosso tenham promovido esse evento", declarou o advogado, que é doutor em direito penal e professor universitário.
A criança jamais pode ser vista ou tratada como um objeto, como se a cor dos olhos, da pele ou do cabelo definissem a escolha dos pretendentes à adoção. Para estimular a adoção de crianças com idade superior a 4 anos é importante fomentar o debate na sociedade, encerrando o preconceito histórico com a adoção tardia. Que essa ação ao menos sirva de lição à sociedade brasileira”, concluiu.
A presidente da CIJ, Tatiane de Barros Ramalho, uma das organizadoras do desfile, afirmou, dias antes do evento, que a intenção era proporcionar "um dia diferenciado" aquelas crianças.
Trata-se de uma noite para os pretendentes a adotar poderem conhecer as crianças e os adolescentes. A população em geral poderá ter mais informações sobre adoção e os menores em si terão um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer o cabelo, maquilhagem e usar roupa para o desfile”, declarou Tatiane Ramalho, citada na página da internet da OAB-MT.
O desfile realizado na terça-feira foi já a segunda edição do evento "Adoção na Passarela".