Portugal não é o país dos referendos. Já foram feitos ao aborto e à regionalização. E é só. Com a recente polémica das touradas, há uma petição pública a circular para a questão ir a referendo e que conta, até ao momento, com quase 54 mil assinaturas. Já na Suíça, fazem-se amiúde, às vezes até sobre assuntos algo peculiares. No próximo domingo, por exemplo, são os cornos das vacas e das cabras a ser alvo de consulta popular.
Claro que se pensarmos na questão à luz dos suíços, percebemos melhor. É que as vacas com chifres são símbolo, imagem de marca do país. Facilmente as associamos a embalagens de chocolate, emblemas e postais ilustrados.
O referendo pretende questionar as pessoas sobre a possibilidade de subsidiar os agricultores que não cortam os chifres destes animais. Tudo começou com um agricultor e ativista animal, Armin Capaul, que ao constatar que apenas 10% das vacas no país os têm, quis insurgir-se e recolheu mais do que as 100 mil assinaturas necessárias.
Mas há ainda outros temas que foram a referendo, alguns incomuns, inusitados até:
Reservas de ouro
Há precisamente quatro anos, em novembro de 2014, mais de três quartos dos eleitores rejeitaram uma proposta para exigir que o banco central suíço mantivesse um quinto das reservas em ouro.
Se o sim tivesse ganho, o banco nacional ver-se-ia obrigado a comprar enormes quantidades de ouro, o que poderia inflacionar o preço do metal precioso.
Imigração
No mesmo mês daquele ano, a iniciativa “Ecopop” procurou limitar a imigração a 0,2% da população suíça total, na altura de cerca de 8 milhões de habitantes, em cerca de 16.000 imigrantes por ano (1/5 do que até ali).
A proposta foi rejeitada por quase três quartos dos eleitores.
Advogados para animais
Em 2010, passou pelo escrutínio popular uma proposta para nomear advogados especiais para animais que sofreram abusos por seres humanos - replicando no país inteiro um sistema já em vigor na maior cidade suíça, Zurique.
O não acabou por ganhar.
Referendos sobre referendos
Em 2012, foi a vez de um referendo sobre referendos. O que se propunha era que todos os tratados internacionais fossem a votos do povo. Um grupo nacionalista queria que os eleitores tivessem sempre uma palavra a dizer, em vez de o governo assinar o que bem entendesse.
Três quartos dos eleitores recusaram. Seriam ainda mais referendos do que os já muitos que se fazem.
Renda básica incondicional
Em junho de 2016, foi a referendo uma proposta para garantir que todos os suíços recebessem uma “renda básica incondicional”, financiada pelo estado. Isto porque o custo de vida no país é muito alto e será necessário um mínimo de 2.500 francos suíços (cerca de 2.200 euros) para uma pessoa sobreviver. Ainda para mais num país em que a lei exisge um seguro de saúde feito no setor privado.
O não acabou por ser o mais votado (por mais de 3/4 da população). Ganhou a pressão dos críticos que diziam que isso faria implodir o orçamento do Estado.