Grão-mestre da Ordem de Malta demite-se a pedido do Papa - TVI

Grão-mestre da Ordem de Malta demite-se a pedido do Papa

Matthew Festing com o Papa Francisco

Matthew Festing deixa o cargo após uma polémica relacionada com a distribuição de preservativos, matéria em que os conservadores no Vaticano consideram Francisco demasiado liberal

O grão-mestre da Ordem Soberana e Militar de Malta, Matthew Festing, demitiu-se a pedido do Papa Francisco, anunciou esta quarta-feira o porta-voz da organização católica. O anúncio acontece na sequência de um braço de ferro sem precedentes no Vaticano.

“Na terça-feira à tarde, o Papa recebeu o Grão-Mestre e pediu que ele se demitisse. Ele aceitou”, referiu o porta-voz citado pela agência Reuters.

A Ordem de Malta foi fundada no século XI. O cargo de grão-mestre é, por tradição, vitalício, mas pode haver exceções.

Os conflitos entre a Ordem de Malta e o Vaticano começaram depois de Matthew Festing ter destituído, no início de dezembro de 2016, o alemão Albrecht von Boeselager, que ocupava o cargo de grão-chanceler da organização.

Matthew Festing acusou Albrecht von Boeselager de ter permitido a distribuição de de preservativos em três missões humanitárias na Birmânia., contrariando assim a doutrina da Igreja Católica sobre contraceção. Os preservativos destinavam-se a grupos de risco.

Instado a demitir-se, Boeselager recusou, negando as acusações, e acabou por ser suspenso. Alegadamente, Festing terá dito que a demissão de Boeselager correspondia à vontade do Papa Francisco.

O Vaticano manifestou dúvidas sobre o processo e cartas entretanto reveladas, entre a secretaria de Estado da Santa Sé e a Ordem de Malta, sublinham que Francisco não tinha pedido a demissão de ninguém, preferindo que o assunto fosse resolvido internamente.

Já o cavaleiro destituído, Albrecht von Boeselager, apontou que a sua saída forçada foi na verdade motivada por uma disputa pelo poder, que teve como um dos interessados o cardeal Raymond Leo Burke, um conservador que já acusou o Papa Francisco de ser muito liberal.

Alguns dias depois, após as contestações de Boeselager, o Sumo Pontífice nomeou uma comissão de investigação, com cinco membros, para esclarecer as circunstâncias da destituição do grão-chanceler. Os trabalhos foram concluídos este mês.

A Ordem de Malta opôs-se de forma categórica à investigação, alegando uma afronta à soberania da organização e ao controlo de questões internas. O conflito opôs, no Vaticano, alas reformistas e conservadoras da Igreja. Matthew Festing chegou inclusive a questionar a escolha dos investigadores, um desafio sem precedentes à autoridade do Papa, o que obrigou o Vaticano a reagir.

O Conselho Soberano da Ordem de Malta ainda tem de ratificar a renúncia de Matthew Festing.

Continue a ler esta notícia

EM DESTAQUE