Morreu Max Stahl, o jornalista que documentou o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli - TVI

Morreu Max Stahl, o jornalista que documentou o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli

Max Stahl

Cristopher Wenner encontrava-se no local no momento em que o ataque foi ordenado por militares indonésios contra uma multidão de timorenses, que protestava contra a ocupação do país

O jornalista Christopher Wenner, mais conhecido como Max Stahl, morreu esta quarta-feira, avança José Ramos-Horta, ex-Presidente da República Democrática de Timor-Leste, na sua página de Facebook.

De acordo com a Agência Lusa, que cita fonte familiar, o britânico e timorense morreu num hospital da cidade australiana de Brisbane, vítima de doença prolongada.

 

 

Max Stahl tinha 66 anos e nasceu a 6 de dezembro de 1954. O seu nome tornou-se essencial na história de Timor-Leste depois de, em 1991, ter documentado o massacre no cemitério de Santa Cruz, em Díli, onde terão morrido mais de 300 pessoas. 

"Disfarçado de turista", Stahl entrou no território, ocupado pela Indonésia, para filmar um documentário para uma televisão independente inglesa. Entrevistou vários líderes da resistência e, depois de sair por causa do visto, acabou por regressar, entrando por terra, acabando, a 12 de novembro de 1991 ano por filmar o massacre de Santa Cruz.

Max Stahl encontrava-se no local no momento em que o ataque foi ordenado por militares indonésios contra uma multidão de timorenses, que protestava contra a ocupação do país.

O jornalista conseguiu sair do país com as imagens e mostrá-las pelas televisões de todo o mundo, o que fez com que o caso de Timor fosse recolocado nas agendas diplomáticas e, mais tarde, pressionou a Indonésia a realizar um referendo sobre a independência.

O referendo terminou com uma vitória daqueles que defendiam a liberdade, que foi oficializada em 2002.

Para além do reconhecimento internacional que recebeu pela importância na luta do povo timorense, Max Stahl reportou a partir da guerra em Beirute, no Líbano, tendo mesmo ficado desaparecido durante 18 dias. O jornalista esteve ainda no centro da cobertura dos conflitos na Chechénia, Geórgia e Jugoslávia.

Mais tarde, em 1998, numa durante outra reportagem, foi espancado por civis sérvios numa altura em que os balcãs atravessavam tempos forte convulsão na então Jugoslávia.

Em 2019, o jornalista foi sujeito a uma intervenção cirúrgica em Londres. Em dezembro do mesmo ano, o Parlamento Nacional deliberou, por unanimidade, atribuir-lhe a nacionalidade timorense, em reconhecimento pelo seu papel na luta pela libertação de Timor-Leste.

Na sua publicação, que foi entretanto partilhada pelo Centro Audiovisual Max Stahl, o quarto presidente de Timor-Leste afirma que "o Rei morreu".

"É com imensa tristeza que vos escrevo para comunicar que Max morreu durante esta manhã por volta das 04:30 horas (hora local - 20:30 em Lisboa). Sei que é uma dor terrível e uma perda incalculável. O legado de coragem e amor pela família e por Timor-Leste continua presente", escreve Ramos-Horta.

Max Stahl estava na Austrália há algum tempo, para onde teve que viajar para tratamentos médicos.

Ana Gomes recorda jornalista Max Stahl como "herói da libertação" de Timor-Leste

A antiga diplomata portuguesa em Jacarta Ana Gomes manifestou esta quarta-feira “tristeza” pela morte do jornalista britânico e timorense Max Stahl, que recordou como “um herói da libertação e independência” de Timor-Leste.

RIP [descanse em paz] querido Max! Curvo-me de tristeza, admiração e respeito por este colosso do jornalismo ativista contra a injustiça, pela democracia e direitos humanos”, escreveu na rede social Twitter a ex-embaixadora de Portugal em Jacarta, na altura do referendo de independência de Timor-Leste, em 1999.

Timor-Leste, acrescentou Ana Gomes, “perde mais que um amigo: perde um herói da sua libertação e independência”.

Que dedicadamente escolheu ser timorense”, sublinhou Ana Gomes, antiga eurodeputada e ex-candidata à Presidência portuguesa.

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