Conselheira portuguesa diz que Venezuela teme "uma guerra civil" - TVI

Conselheira portuguesa diz que Venezuela teme "uma guerra civil"

Nicolás Maduro [Reuters]

Representante portuguesa diz que situação no país "é muito grave" e que está "a caminhar para uma guerra civil"

A conselheira das comunidades portuguesas na Venezuela Maria de Lurdes Traça considerou hoje que a situação no país "é muito grave" e que a população teme mesmo "uma guerra civil".

"Este ano tem sido uma situação terrível porque tem-se agravado mais a escassez da comida, de medicamentos, os cortes de luz. Algumas zonas do país estão sete e oito horas sem luz e não quatro como anunciado", disse Maria de Lurdes Traça, em declarações à Lusa à margem da reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que termina hoje em Lisboa.

"[A situação] está insustentável e o nosso maior receio neste momento é que estejamos a caminhar para uma guerra civil. A situação é grave", disse.

Mais de uma centena de pessoas tentou na quarta-feira pilhar um supermercado em Los Teques, a sul de Caracas, levando ao encerramento de vários estabelecimentos comerciais, com a imprensa local a dar conta de vários feridos e de pelo menos 50 detidos.

Segundo fontes da comunidade portuguesa local, a tentativa de pilhagem ocorreu depois da chegada de produtos de primeira necessidade que entretanto se esgotaram.

Por outro lado, na localidade de Bello Campo (leste de Caracas) ocorreu hoje uma tentativa de pilhagem de uma sucursal da rede de supermercados Central Madeirense, propriedade de portugueses radicados na Venezuela.

Segundo a conselheira, a medida anunciada pelo Governo de que a administração pública passa a trabalhar apenas dois dias por semana para se poupar energia "não faz sentido porque está provado que as pessoas gastam mais luz em casa do que no trabalho".

"Os empresários também se queixam e com toda a razão porque quem tem uma empresa, como muitos na comunidade portuguesa, têm que pagar aos empregados e praticamente mandá-los embora porque não têm luz para trabalhar", disse a portuguesa, emigrada na Venezuela há 50 anos.

Maria de Lurdes Traça destacou ainda a mobilização popular para a recolha de assinaturas que permita a realização de um referendo para a revogação do mandato do Presidente Nicolas Maduro.

"As filas eram intermináveis, o pessoal deixou de fazer fila para comprar comida e foi fazer fila para as assinaturas para revogar o mandato porque a situação é insustentável", disse.

Questionada sobre se há portugueses a sair do país devido à instabilidade, a conselheira respondeu que "há muita juventude a abandonar o país, os pais estão a optar mandar os filhos para outros destinos, como Portugal, Canadá ou Estados Unidos porque os jovens estão a ver que não têm oportunidades de vida, de um futuro melhor" na Venezuela.

Maria de Lurdes Traça reclamou ainda do Governo mais atenção à comunidade portuguesa na Venezuela e lamentou que a embaixada não faça recomendações de segurança em caso de emergência.

"A embaixada não nos contacta para dizer nada, talvez também porque a situação não era tão grave, mas agora sim, acho que é tempo de alguém tomar a precaução de contactar a comunidade", disse, ressalvando, no entanto, que a embaixada pode estar a evitar alarmar as pessoas.

"Mas alarmadas já as pessoas estão", concluiu.

Apesar da situação, esta professora reformada não pensa sair da Venezuela.

Governo atento à situação na Venezuela

 O Governo está acompanhar com atenção a crise que se vive atualmente na Venezuela, onde está uma das maiores comunidades portuguesas no mundo, disse hoje o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.

“(…) A situação social, económica e política que se vive na Venezuela é acompanhada com toda a atenção, porquanto temos na Venezuela uma das maiores comunidades portuguesas no mundo”, afirmou José Luís Carneiro.

O secretário de Estado fez estas declarações aos jornalistas à margem da reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que termina hoje, na Assembleia da República, em Lisboa.

“Julgo que não haverá, digamos, circunstâncias de caráter excecional que conduzam para uma leitura de um quadro como aquele que foi transmitido pela senhora conselheira. De qualquer forma, não deixa de ser um alerta de uma conselheira das comunidades portuguesas, que naturalmente deve-nos fazer reforçar mais a atenção ao momento que se está a viver na Venezuela”, disse Carneiro.

O secretário de Estado disse que “os mecanismos e os instrumentos de apoio aos portugueses em circunstâncias de excecionalidade estão previstos na lei e está constituído” no caso de ser necessário retirar os portugueses da Venezuela.

“Nós acompanhamos a situação em vários países do mundo onde as circunstâncias económicas e sociais se têm vindo a agravar e basta estar atento ao que tem vindo a sair na comunicação social para se percecionar quais esses países, cujo as situações económicas e sociais se tem vindo a agravar por força de serem países onde as exportações, nomeadamente o petróleo, têm um peso muito especial no volume das exportações”, afirmou.

Para José Luís Carneiro, é preciso efetivamente “acompanhar estas comunidades, garantir que os serviços consulares estão atentos e os serviços diplomáticos em diálogo permanente com as autoridades institucionais dos países de acolhimento”.

O secretário de Estado falou dos vários mecanismos de apoio que Portugal dispõe para as comunidades portuguesas que vive na diáspora, nomeadamente o Apoio Social para o Idoso Carenciado (ASIC) e o Apoio Social para o Emigrante Carenciado (ASEC).

O governante apelou aos portugueses que vivem nos estrangeiro ou que se desloquem para fora do país temporariamente que façam a inscrição consular, informem sobre as movimentações dentro dos países e que consultem regularmente os alertas colocados pelo Governo na página da Internet da Secretaria de Estados das Comunidades.

José Luís Carneiro disse que pretende deslocar-se à Venezuela “tão breve quanto possível”.

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