Trump retira Estados Unidos do Acordo de Paris mas quer renegociá-lo - TVI

Trump retira Estados Unidos do Acordo de Paris mas quer renegociá-lo

  • Paulo Delgado
  • Atualizada às 22:00
  • 1 jun 2017, 21:15

Presidente norte-americano concretiza ameaça e promessa de campanha: vai retirar país do pacto para reduzir o aquecimento do planeta. Mas pretende renegociá-lo, só que a Europa diz-lhe: No way!

Donald Trump anunciou que os Estados Unidos da América vão sair do Acordo de Paris, um compromisso assumido em 2015, tendo em vista a redução das emissões de gases com efeito de estufa para conseguir baixar o aquecimento do planeta.

De forma a concretizar o meu solene dever de proteger os americanos, os Estados Unidos vão abandonar o acordo climático de Paris", anunciou Donald Trump.

Mas, na comunicação feita na Casa Branca, esta quinta-feira, revelou também que pretende negociar para "reentrar no acordo em termos que sejam justos para os Estados Unidos". Algo que as maiores economias do continente europeu, em comunicado conjunto, não se mostram dispostas a aceitar.

Os Estados Unidos tentarão fazer uma negociação climática justa", disse Donald Trump.

Apesar da intenção de negociar, Trump assumiu que "a partir de hoje, cessará toda a implementação de elementos não vinculativos do Acordo de Paris", o que inclui "a contribuição para um fundo que está a custar uma vasta fortuna aos Estados Unidos".

Qualquer novo acordo novo precisará de uma repartição equitativa de encargos e responsabilidades pelas nações do mundo", sublinhou Trump, acrescentando que deseja negociar com os democratas para tentar encontrar do que o Acordo de Paris.

Reações

Contra Trump, Alemanha, França e Itália divulgaram um comunicado conjunto, assumindo que o Acordo de Paris não é negociável.

Consideramos o impulso gerado em Paris, em dezembro de 2015, como irreversível e acreditamos firmemente que o Acordo de Paris não pode ser renegociado, pois é um instrumento vital para o nosso planeta, sociedades e economias", refere o comunicado assinando pelo primeiro-ministro Paolo Gentiloni, pelo presidente francês Emmanuel Macron e pela chanceler Angela Merkel.

Também a Comissão Europeia considerou o abandono do Acordo de Paris pelos Estados Unidos como “um dia triste para a comunidade global” e uma “decisão unilateral que se lamenta". Sem, contudo, os responsáveis europeus darem mostras de considerar que o pacto climático tenha ficado ferido de morte com a decisão.

Antes nos galvanizou do que enfraqueceu”, é uma citação de fonte da Comissão Europeia veiculada pela agência Reuters, onde se refere também que, para Bruxelas, o Acordo de Paris continuará e o mundo pode continuar a contar com a Europa para uma liderança global na condução contra as alterações climáticas.

Nos Estados Unidos, Barack Obama, anterior presidente norte-americano, que subscreveu o Acordo de Paris, nem deixou arrefecer a decisão de Trump. Ainda enquanto o seu sucessor falava, fez saber "estar confiante que os nossos estados, cidades e empresas se irão erguer para fazer ainda mais para proteger o único planeta que temos".

A administração Trump está a rejeitar o futuro ao sair do acordo climático de Paris”, diz ainda a declaração escrita de Obama, divulgada pela agência Reuters.

Pressões

A decisão assumida esta quinta-feira por Donald Trump terá apenas surpreendido na intenção de querer negociar um novo pacto climático, mas não tanto na decisão de abandonar o Acordo de Paris.

Durante a campanha eleitoral, no final do ano passado, o então candidato chocou meio mundo ao considerar que o problema das alterações climáticas não passava de um "embuste".

Já eleito, Trump manteve sempre a ameaça de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, descomprometendo-se do que o seu antecessor Obama tinha assumido. De forma simples, como é seu timbre, o novo presidente voltou a justificar a saída desse compromisso com a vantagem de criar mais empregos para os norte-americanos. Sobretudo nas indústrias, daquele que é o segundo país mais poluente do planeta.

Acresce que Trump foi também pressionado a não aceitar limites ecológicos para a economia norte-americana. Recentemente, 22 senadores republicanos dirigiram uma carta ao presidente, apoiando-o a descomprometer-se com o Acordo de Paris. Diz o jornal britânico The Guardian, que os signatários beneficiaram de apoios para campanhas eleitorais da ordem dos dez milhões de dólares (cerca de 9 milhões de euros). Oferecidos por empresas de petróleo, gás e carvão.

Além das críticas, a decisão de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris tem, contudo, procedimentos que deverão demorar o seu tempo.

Para sairem formalmente do Acordo de Paris, precisam de quatro anos. Só o podem fazer três anos depois de o terem ratificado - e eles ratificaram-no em setembro de 2016 - e depois ainda têm de esperar um ano. Agora, é claro que podem estar no acordo e não fazer nada", explicou na quarta-feira na TVI24, o ambientalista Francisco Ferreira, da associação Zero.

No plano internacional, vários foram os líderes mundiais que terão lembrado a Donald Trump que a saída do Acordo de Paris não é um ato imediato. Foi o caso do então presidente francês François Hollande e, no passado fim de semana, na cimeira do G7, dos restantes pariticipantes na reunião ocorrida na Sicília.

Tentaram explicar isto, em frases simples, ao senhor Trump, mas parecer que esta tentativa falhou (…), a lei é a lei”, contou na quarta-feira o presidente da Comissão Europeia.

Jean-Claude Juncker adiantou mesmo então que “se o Presidente dos EUA sair do acordo de Paris, como deve fazer nos próximos dias ou horas, então a Europa tem o dever de lhe dizer que não é assim que as coisas funcionam”.

Críticas

Antes mesmo de Trump anunciar a sua decisão, o mundo desdobrou-se em críticas e condenações.

Esta quinta-feira, foi a chanceler alemã Angela Merkel que juntou a sua voz ao coro de protestos e indignação, em que o secretário-geral das Nações Unidas tem sido um dos mais férreos. Na rede Twitter, Guterres escreveu que a "ação pelo clima não é só a coisa certa a faezr, mas a mais inteligente".

Por cá, antes mesmo de Trump anunciar a sua decisão, o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, foi também severamente crítico.

Se o sr. Trump decidir mal, no sentido de relaxar o compromisso dos Estados Unidos da América com o Acordo de Paris, há inevitavelmente um prejuízo para todos nós, ainda que eu esteja convencido de que se trata mais de um sobressalto do que de uma tendência", disse o ministro Matos Fernandes. 

Consequências

Diversos analistas acreditam, contudo, que por si só, a decisão dos Estados Unidos de sair dos Acordo de Paris não terá consequências de maior.

O jornal inglês The Guardian, numa análise anterior ao anúncio da decisão, lembra que mesmo que os Estados Unidos deixem de ter a preocupações com a redução de emissões, há indícios de que a Índia e a China, outros dois grandes poluidores estão a sair da dependência do carvão a um ritmo mais acelerado do que se esperava, segundo os dados do Climate Action Tracker, um índice científico que monitoriza as emissões à escala mundial.

A China anunciou mesmo a sua intenção no início deste ano que vai investir 360 mil milhões de dólares, 320 mil milhões de euros, em energias renováveis até 2020, criando mais de 13 milhões de empregos nesse setor.

Esta quinta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, reafirmou o compromisso do seu país, o maior poluidor mundial, com o Acordo de Paris.

Na China há um ditado: As promessas devem ser mantidas e as ações devem ser resolutas. É um apelo mundial para lidar com as mudanças climáticas. Não é algo inventado pela China", afirmou o primeiro-ministro chinês.

Acordo de Paris

Em Paris, a 12 de dezembro de 2015, 195 países acordaram em reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa, de forma a diminuir o aquecimento global. Desses, 147 já ratificaram o documento.

De fora, entre os participantes na reunião, ficaram a Síria, a viver uma guerra dentro de fronteiras, e a Nicarágua, que considerou o compromisso pouco ambicioso.

Entre os signatários, estiveram os países mais poluentes, casos da China, Índia e Estados Unidos, que subscreveu o Acordo de Paris, pela mão do então presidente Barack Obama.

Os Estados Unidos comprometeram-se assim, ao invés do que sucedera em 1997 na cidade japonesa de Quioto, quando ficaram fora do protocolo ambiental aí assinado. O que serviria de pretexto para que países coimo o Canadá, o próprio Japão e a Rússia fizessem letra morta desse acordo.

No Acordo de Paris, os países signatários comprometeram-se a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, de forma a conseguir que o aquecimento global não ultrapasse os dois graus Celsius acima dos níveis registados na era pré-industrial. E assumiram ainda fazer todos os esforços, através da maior utilização de energias renováveis, para que esse aumento se ficasse por apenas 1,5º Celsius, uma temperatura acima da qual, muitas ilhas do oceano Pacífico podem desparecer submersas.

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