Último avião americano já deixou Cabul. Estados Unidos saem do Afeganistão 20 anos depois - TVI

Último avião americano já deixou Cabul. Estados Unidos saem do Afeganistão 20 anos depois

Membros ligados aos talibãs festejaram de imediato a saída da última ligação

Um oficial dos talibãs disse que o último voo norte-americano deixou na noite desta segunda-feira o solo do Afeganistão. Segundo o guarda do aeroporto de Cabul, citado pela agência Associated Press, terminou a missão dos Estados Unidos, depois de 20 anos no país (a guerra mais longa do país), nos quais se gastaram cerca de dois biliões de dólares (1,69 biliões de euros).

A saída norte-americana foi depois confirmada pelo chefe do Comando Central dos Estados Unidos, o general Kenneth McKenzie, a partir do Pentágono. A bordo do último avião seguiram alguns militares e também funcionários diplomáticos, entre os quais o general Chris Donahue e o mais alto representante diplomático norte-americano no Afeganistão, Ross Wilson.

Estou aqui para anunciar a completa retirada do Afeganistão e o fim da missão para retirar os cidadãos norte-americanos, outros cidadãos e os afegãos vulneráveis. O último C-17 saiu do Aeroporto Internacional Hamid Karzai no dia 30 de agosto, às 15:29 [23:59 no Afeganistão e 20:29 em Portugal Continental]", afirmou.

Apesar disso, e segundo o general, de todos os últimos cinco voos que partiram de Cabul, nenhum deles tinha cidadãos americanos, o que significa que aqueles que quisessem deixar o país já não o podem fazer.

Mantivémos a possibilidade de os trazer até à última hora, mas não conseguimos tirar mais nenhum americano. Essa atividade terá terminado cerca de 12 horas antes da nossa saída. Continuávamos preparados para os trazer, mas nenhum conseguiu chegar ao aeroporto", acrescentou, garantindo que no aeroporto não ficou ninguém para trás.

Antes da oficialização da saída, fonte do Departamento de Estado disse que perto de 250 americanos ainda estavam a tentar sair do Afeganistão, pessoas que provavelmente terão ficado para trás, segundo as palavras de Kenneth McKenzie, que afirmou acreditar que estes cidadãos ainda podem deixar o país.

Refugiados afegãos chegam a solo seguro

Segundo a agência France-Presse, mal se soube da saída dos norte-americanos, membros dos talibãs festejaram com vários tiros para o ar.

Mais de 123 mil pessoas foram retiradas de Cabul desde o dia 14 de agosto, altura em que a capital afegã foi tomada pelos talibãs. Grande parte dessas pessoas foram retiradas pelos Estados Unidos, que ajudaram a transportar 79 mil civis, segundo o general Kenneth McKenzie, que destacou a "maior evacuação não-combatente" da história, referindo ao período que decorreu nos últimos 17 dias. Entre as 79 mil pessoas retiradas, cerca de seis mil eram americanos.

Ao todo, os Estados Unidos e os aliados conseguiram retirar mais de 123 mil civis", reiterou.

Joe Biden agradece às tropas 

O presidente dos Estados Unidos já reagiu à total retirada da missão norte-americana, destacando os 17 dias de missão para resgatar as milhares de pessoas do Afeganistão.

Guardando explicações sobre a decisão de não estender a missão para lá de 31 de agosto para esta terça-feira, o presidente norte-americano afirma que teve o apoio de todos os especialistas das forças armadas, que apresentaram a sua visão de acabar de imediato a missão para proteger a vida dos militares e assegurar a partida de civis que eventualmente queiram deixar o país nas semanas e meses que se seguem.

Joe Biden diz que encarregou o secretário de Estado, Antony Blinken, disso mesmo, prometendo que os Estados Unidos e a comunidade internacional vão fazer de tudo para que os talibãs cumpram os acordos alcançados.

Os talibãs fizeram promessas de passagens seguras e o mundo vai assegurar-se de que cumprem. Isso inclui a continuação da diplomacia no Afeganistão e a coordenação com parceiros na região para reabrir o aeroporto e permitir a partida daqueles que queiram sair e daqueles que queiram prestar ajuda humanitária", pode ler-se na nota.

Durante os 20 anos em que o país esteve no Afeganistão, mais de 77 mil pessoas perderam a vida. Dessas, cerca de 66 mil eram membros das forças armadas e da polícia afegãs.

Das últimas mortes registadas, 13 foram de militares norte-americanos, a maioria com 20 anos de idade, e que morreram depois de um bombista suicida atacar uma área perto do aeroporto.

Corpos dos soldados americanos regressam a casa

Ao longo de todo esse período, os Estados Unidos viram ser eleitos quatro presidentes (George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden).

O país invadiu o Afeganistão em 2001 na sequência do atentado do 11 de setembro, que atingiu o World Trade Center, em Nova Iorque, e no qual mais de três mil pessoas morreram.

George W. Bush decidiu então seguir para aquele país do Médio Oriente, onde acreditava que apoio era dado à Al-Qaeda, organização terrorista liderada por Osama Bin Laden, e que foi responsável pelos ataques do 11 de setembro.

A retirada das forças internacionais foi negociada com os talibãs, em fevereiro de 2020, e ocorre 15 dias depois de o movimento rebelde ter conquistado Cabul, depondo o presidente Ashraf Ghani.

A vitória dos talibãs desencadeou uma operação das forças internacionais que permitiu retirar do país mais de 100 mil estrangeiros e afegãos a partir do aeroporto de Cabul.

Com a capital afegã controlada pelos talibãs, a operação foi marcada pelo desespero de milhares de afegãos a querer fugir do país e por ataques do grupo extremista Estado Islâmico, incluindo um atentado bombista que matou cerca de 200 pessoas.

Veja também: os números da maior guerra da história dos Estados Unidos.

A intervenção dos EUA e dos seus aliados no Afeganistão começou em 7 de outubro de 2001, e contou com o apoio no terreno de forças afegãs que combatiam o regime extremista.

Apesar do derrube do governo dos talibãs, os seus combatentes e elementos da Al-Qaeda continuaram a enfrentar as forças afegãs e internacionais, sobretudo no sul do país.

Osama Bin Laden, que tinha motivado a invasão, conseguiu escapar ao cerco de forças afegãs em dezembro de 2001, e refugiou-se no vizinho Paquistão.

O líder da Al-Qaeda viria a ser morto no Paquistão quase 10 anos depois, em 1 maio de 2011, por militares norte-americanos.

A presença estrangeira no Afeganistão chegou a envolver um pico de 115 mil tropas de uma coligação de 38 países da NATO (sigla do nome inglês da Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Portugal participou com 4.500 militares desde 2002 até maio deste ano, e registou duas baixas.

Segundo dados da ONU citados pela agência France-Presse, mais de 38 mil civis foram mortos no Afeganistão desde 2009, quando a missão das Nações Unidas começou a registar as baixas, até 2020.

Globalmente, segundo dados citados pela Associated Press, a guerra no Afeganistão terá causado mais de 170 mil mortos, incluindo 47 mil civis afegãos, 66 mil membros das forças de segurança afegãs, e 51 mil combatentes dos talibãs e de outros grupos.

As forças internacionais registaram mais de 3.500 mortos, das quais mais de 2.300 norte-americanos.

Os 20 anos de guerra provocaram também mais de 2,7 milhões de refugiados e mais de 3,4 milhões de deslocados internos, segundo a ONU, num país com 37 milhões de habitantes.

Afeganistão: Talibãs proclamam "independência total" após retirada das forças dos EUA

Os talibãs proclamaram esta segunda-feira “independência total” do Afeganistão, depois de os últimos soldados dos Estados Unidos da América (EUA) terem deixado o país, após 20 anos de presença das forças norte-americanas em território afegão.

Os soldados americanos deixaram o aeroporto de Cabul e a nossa nação obteve a sua independência total”, disse o porta-voz do grupo extremista islâmico, Zabihullah Mujahid.

Os EUA confirmaram esta segunda-feira que os seus últimos soldados abandonaram o país antes do prazo de terça-feira, encerrando a guerra mais longa da história do país e o esforço para retirar cidadãos afegãos e estrangeiros, ao longo das últimas duas semanas.

Os talibãs conquistaram a maior parte do Afeganistão no início do mês de agosto.

Por volta das 00:00 de terça-feira (hora de Cabul, menos 03:30 em Lisboa), os combatentes do grupo extremista islâmico viram os últimos aviões dos EUA a desaparecerem no céu e dispararam tiros para o ar, celebrando a vitória.

Os últimos aviões partiram, acabou. Não consigo expressar a minha felicidade em palavras… Os nossos 20 anos de sacrifício resultaram”, disse Hemad Sherzad, um combatente dos talibãs, no aeroporto internacional de Cabul.

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