Ainda havendo dúvidas sobre as intenções de Carles Puigdemont, nomeadamente se pretende pedir asilo político após ser alvo de uma acusação por rebelião, sedição e desvio de fundos, sabe-se que o destituído presidente do governo da Catalunha chegou esta segunda-feira à Bélgica, onde contratou o advogado que ficou conhecido por defender membros da organização armada do País Basco, a ETA.
Sim, sou advogado de Carles Puigdemont", afirmou Paul Beckaert, ouvido pelo jornal espanhol El Mundo.
O advogado ficou conhecido ao longo dos anos por defender vários elementos da ETA refugiados na Bélgica, batendo-se por impedir a sua extradição para Espanha. Irá agora assessorar o destituído presidente do governo catalão.
Não lhe posso dizer o que falámos porque estou sob o segredo profissional. Está na Bélgica, falei com ele e desde hoje é meu cliente", afirmou Beckaert ao El Mundo, acrescentando ainda, quanto à questão se Puigdemont pretende pedir asilo político, que "nada está decidido".
O advogado tem escritório na localidade flamenga de Tielt, mas adiantou não poder "dar pormenores da localização" de Puigdemont.
Tenho mais de 20 anos a tratar de casos sobre Espanha, tenho muita experiência sobre extradições e pedidos de asilo", concretizou ainda o advogado.
De acordo com a imprensa espanhola, Carles Puigdemont saiu de manhã de Barcelona rumo a Marselha, em França, e daí seguiu de carro para a Bélgica. Ia acompanhado por cinco dos seus colegas do destituído governo.
Asilo à vista?
As agências noticiosas Efe e Associated Press confirmaram a vaigem de Puigdemont, uma hora depois de o procurador-geral, José Manuel Maza, ter anunciado a acusação contra os principais membros do ex-governo catalão por rebelião, sedição e fraude e contra a presidente do Parlamento regional e os membros da mesa que processaram a declaração de independência.
Segundo o jornal espanhol La Vanguardia, além de Puigdemont, encontram-se também na Bélgica “outros membros do Governo destituído”. Esta tarde Puigdemont e os membros de seu governo poderão fazer uma aparição conjunta, de acordo com o mesmo jornal espanhol. As fontes do Ministério do Interior disseram que não estão "preocupadas" com a viagem de Puigdemont a Bruxelas, porque o que lhes interessava "mais hoje" é que não fossem ao Palau de la Generalitat - sede do governo da Catalunha.
Mas o El Periódico vai mais longe e diz que o ex líder do governo da Catalunha e mais cinco membros do seu executivo se preparam para pedir asilo político na Bélgica, um país também às voltas com questões separatistas.
Ontem o secretario de Estado belga de Migração e Asilo, Theo Francken, ofeceu asilo político a Puigdemont, o que provocou uma grave crise no governo belda e obligou o primeiro-ministro, Charles Michel, a pedir ao secretário de Estado para que não colocasse mais achas numa fogueira que continua a arder.
Francken: "Catalaanse minister-president Puigdemont mag politiek asiel aanvragen" https://t.co/TLi1DS54Dh
— Theo Francken (@FranckenTheo) 29 de outubro de 2017
Na acusação, anunciada esta segunda-feira, Maza não solicitou qualquer medida cautelar, ou seja não pediu a detenção dos visados, mas poderá ainda vir a acontecer no âmbito da investigação, e como investigados. Nesse caso, as suas detenções serão feitas carácter de urgência. Dada a gravidade dos alegados atos cometidos espera-se que o caso avance o mais rápido possível.
Só depois de ouvir os visados é que a Procuradoria poderá solicitar medidas cautelares, entre as quais a que a acusação assinala: “as responsabilidades pecuniárias, em que podem incorrer os acusados, incluem a imposição de uma fiança e, nesse caso, o arresto de bens numa quantia prudencialmente fixada em 6.207.450 euros”, refere o La Vanguardia.