Caso de adolescentes que mataram o pai após anos e anos de abusos gera onda de revolta - TVI

Caso de adolescentes que mataram o pai após anos e anos de abusos gera onda de revolta

  • Sofia Santana
  • 5 jul 2019, 12:05
Adolescentes russas mataram o pai após anos e anos de abusos

Maria, Angelina e Krestina foram agredidas e abusadas sexualmente pelo pai durante anos, na Rússia. Um dia esperaram que o pai adormecesse e atacaram-no com uma faca de cozinha e um machado. A defesa diz que as raparigas foram levadas ao limite, mas os procuradores acusaram-nas de homicídio premeditado

Era uma sexta-feira, um final de tarde de Verão, em Moscovo, na Rússia, e os acontecimentos que se sucederam iriam mudar a vida da família Khachaturyan para sempre. Nesse dia, uma sexta-feira, o pai, Mikhail Khachaturyan, achou que a sala não estava bem arrumada, convocou as três filhas adolescentes e pulverizou-as, uma a uma, com gás pimenta. As irmãs, Maria, Angelina e Krestina, esperaram que o pai adormecesse e atacaram-no com uma faca de cozinha e um machado. O homem ainda tentou resistir, mas morreu em poucos minutos.

A pulverização com gás pimenta, em julho do ano passado, foi apenas mais um episódio de violência do russo, veterano de guerra, sobre as filhas. Mikhail não só batia nas três adolescentes, como abusava sexualmente delas. Tinha sido diagnosticado com uma doença neurológica, mas mantinha armas e caçadeiras em casa, disparava na residência e era conhecido pelos vizinhos pelas ameaças constantes.

A violência e os abusos que aconteceram na casa desta família russa, durante vários anos, são relatados em documentos do processo que corre em tribunal e no qual as irmãs, agora com 18, 19 e 20 anos são acusadas de homicídio premeditado, segundo a Associated Press.

A acusação foi divulgada no mês passado e está a causar uma onda de indignação, com associações e ativistas a apontarem o dedo à forma como o sistema judicial russo lida com casos de violência doméstica.

Mais de 200.000 pessoas assinaram uma petição online para que os procuradores deixem cair a acusação de homicídio premeditado contra as jovens, que, assim, podem se condenadas a penas até 20 anos de prisão.

O caso também tem gerado vários protestos junto a embaixadas da Rússia, pelo mundo. Foram registadas manifestações em pelo menos 20 embaixadas. Um grande protesto estava convocado para sábado, em Moscovo, mas foi cancelado porque a câmara recusou garantir condições de segurança.

O caso Khachaturyan mostra como a violência doméstica é generalizada e como os russos respondem a este problema”, afirmou Yulia Gorbunova, autora de um extenso relatório da Human Rights Watch sobre violência doméstica.

A defesa diz que as adolescentes foram levadas ao limite.

No primeiro dia que nos conhecemos, ela disse que estava melhor aqui, na cadeia, do que a levar a vida que tinha em casa”, afirmou Alexei Lipster, advogado de Krestina.

Ir à polícia não era uma opção para as jovens, que temiam que a violência se agravasse caso o fizessem.  

No ano antes do ataque, as raparigas frequentaram a escola apenas durante dois meses, mas a administração do estabelecimento não interferiu.

Os procuradores afirmam que compreendem as circunstâncias extraordinárias que levaram as jovens a atacar o pai, mas insistiram que as irmãs devem ser julgadas por homicídio.

Maria, Angelina e Krestina aguardam julgamento em liberdade, mas não se podem ver. Estarão tranquilas. “Pelo menos agora ninguém lhes pode bater”, sublinhou o advogado.

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