Cabul: aviões partem quase vazios porque cidadãos não conseguem chegar ao aeroporto - TVI

Cabul: aviões partem quase vazios porque cidadãos não conseguem chegar ao aeroporto

Com o trânsito controlado por talibãs e multidões de afegãos nas entradas do aeroporto, quem tem autorização para sair de Cabul, muitas vezes não consegue chegar ao aeroporto. Um avião alemão com capacidade para 150 pessoas levantou voo com apenas sete a bordo.

O ex-fuzileiro naval Pen Farthing partilhou, esta quinta-feira, no twitter, a imagem de um avião, quase vazio, onde seguia depois de ter descolado da cidade de Cabul, no Afeganistão.

O americano explicou que reuniu todos os esforços para salvar a mulher que estava na cidade agora tomada pelos talibãs. E revelou a sua perplexidade por o avião ter seguido viagem, em direção à Noruega, com poucos passageiros.

O ex-fuzileiro relata as dificuldades em chegar ao aeroporto, o único sítio ainda controlado por forças ocidentais, pela noite, hora mais calma, evitando o confronto com os talibãs. 

Ir à noite obviamente tem riscos acrescidos, mas felizmente valeu a pena”, disse ao canal Sky News.

Farthing garante que vários aviões estão a sair da cidade mesmo sem estarem completamente ocupados, alertando para o facto de muitas pessoas estarem a ser deixadas para trás. 

Segundo o jornal The Independent, um avião alemão com capacidade para 150 pessoas levantou voo com apenas sete cidadãos a bordo. 

O secretário de defesa do Reino Unido, Ben Wallace, insiste que ninguém está a ser deixado para trás e que vários aviões têm feito viagens com a capacidade máxima, garantindo que todos os lugares estão a ser ocupados.

Garantiu ainda à BBC que os talibãs estão a "deixar o nosso povo passar".

Contudo, há vários relatos que desmentem o comunicado, dando conta de que os talibãs têm controlado todo o perímetro da cidade e policiam as ruas, não permitindo que as pessoas cheguem ao aeroporto.

O aglomerado de afegãos que estão à porta do aeroporto, não deixando passar quem tem permissão para entrar, é uma das razões que justifica os aviões quase vazios. 

A comunidade fundamentalista do Islão garante que não coloca entraves à passagem dos cidadãos que queiram dirigir-se ao aeroporto, mas fontes no local afirmam que não estão a deixar passar ninguém, a não ser que tenha passaporte estrangeiro. 

Mesmo quem tem os papéis necessários para se dirigir ao aeroporto não vê a viagem facilitada, já com alguns casos relatados de cidadãos que foram espancadas. 

O jornal El país relata episódios de vários tradutores que trabalhavam na embaixada espanhola, e que temem pelas suas vidas e as dos seus filhos, enquanto esperam por e-mails e chamadas telefónicas para serem evacuados. 

Cenas de desespero e confusão são relatadas, e os sons de disparos já não são barulhos estranhos à população.

Há vários relatos de episódios em que famílias foram contactadas para se dirigirem ao aeroporto, por volta das oito da manhã e onde permaneceram até às oito da noite, nas redondezas, por não conseguirem furar a multidão.

12 pessoas foram mortas à volta do aeroporto, desde domingo, segundo a agência Reuters

A BBC dá conta de que o aeroporto tem operado segundo um horário muito restrito, o que quer dizer que os aviões não podem esperar até que os lugares estejam todos ocupados, escreve Jonathan Beale, correspondente da BBC.

A NATO considera que o maior desafio no Afeganistão neste momento é precisamente assegurar chegada ao aeroporto dos que querem partir.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sublinhou, após uma reunião extraordinária, que  uma das principais mensagens da declaração adotada pelos chefes de diplomacia, dirigida aos talibãs, é no sentido de estes facilitarem a operação de retirada em curso, de cidadãos estrangeiros e afegãos que desejam partir.

Cerca de 4.500 soldados americanos estão a controlar temporariamente o Aeroporto Internacional de Karzai, em Cabul, e cerca de 900 soldados britânicos estão a fazer patrulhas, no local, como parte dos esforços para garantir os voos de evacuação.

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