Adolescente palestiniana em tribunal por bofetada a soldado israelita - TVI

Adolescente palestiniana em tribunal por bofetada a soldado israelita

Ahed Tamimi foi detida quando tinha 16 anos, em dezembro de 2017. Arrisca uma pena de até 14 anos de prisão

Ahed Tamimi, uma jovem palestiniana que tem agora 17 anos completados a 31 de janeiro numa prisão israelita, começou esta terça-feira a ser julgada num tribunal militar judaico, acusada de crime contra a segurança. Símbolo da persistência palestiniana na luta contra a ocupação por Israel, a adolescente foi detida a 19 de dezembro do ano passado, depois de ter sido filmada, quatro dias antes, a esbofetear e pontapear um soldado israelita, junto à casa onde mora na Cisjordânia, numa aldeia que estava a ser ocupada pelas forças judaicas.

De acordo com a BBC News, a cena, que se tornou viral nas redes sociais, foi captada em vídeo pela mãe da jovem, Nariman, que também está detida, acusada de “incitamento”. Nas imagens, Ahed Tamimi surge junto a outra jovem, a prima, de 20 anos, a discutir e a empurrar dois soldados, que não retaliaram.

Agora Ahed Tamimi é presente a um juiz para responder por aquelas bofetadas e pontapés e por outras afrontas ao longo dos anos. A rapariga defende-se acusando os militares israelitas de dispararem balas de borracha.

No mesmo dia em que Ahed agrediu o soldado, o primo dela, Mohammed, levou um tiro na cabeça. A bala que atingiu o adolescente de 15 anos era de metal, revestida de borracha, e foi disparada por um soldado israelita. Mohammed perdeu parte do crânio. A jovem argumenta que, quando deu a bofetada ao militar, estava nervosa com a violência cometida contra o primo.

O exército israelita informa que os dois soldados que estavam na frente da casa de Ahed faziam parte de um grupo enviado à vila Nabi Saleh para controlar palestinianos que atiravam pedras às tropas e ocupavam uma estrada usada por motoristas israelitas.

Ahed Tamimi é vista pelos palestinianos como uma heroína, um símbolo da resistência à ocupação israelita, mas Israel encarou os atos da adolescente como uma humilhação aos militares.

O vídeo em que Ahed surge de punho cerrado a bater no soldado não é o primeiro em que a adolescente ativista aparece a fazer frente a israelitas. Há anos que a família Tamimi protesta contra as colunatos judaicos na Cisjordânia, onde 88% dos cerca de três milhões de pessoas que lá vivem são palestinianas, de acordo com a organização israelita Paz Agora. As imagens recorrentes da jovem e da família a participarem em protestos fazem com que os Tamimi sejam acusados de provocar deliberadamente soldados e, assim, promover a propaganda anti-Israel.

Quando tinha 11 anos, Ahed Tamimi foi filmada a ameaçar dar um soco a um soldado depois de o irmão mais velho ter sido preso. Há dois anos, a rapariga bateu num militar que tentava deter o irmão mais novo.

Agora que ela está na prisão, acho que vai pagar um preço, e vai ser um preço alto", diz à BBC Anat Berko, membro do Parlamento israelita e representante do Likud, o partido no Governo."Sinto muito que a família não tenha contido esse comportamento", diz Berko, ressaltando que, mesmo sendo provocados e agredidos, os soldados não reagiram.

Centenas de menores palestinianos presos em Israel

Ahed Tamimi está a ser julgada num tribunal militar, tratada como uma ameaça à segurança de Israel. A jovem responde por 12 acusações, entre as quais o arremesso de pedras e a interferência nos deveres de um soldado relativas a episódios passados anos antes da bofetada que a pôs atrás das grades. Arrisca uma pena de prisão entre os 12 e os 14 anos. 

O caso da adolescente atraiu a atenção internacional, mas apesar de Ahed se ter tornado um símbolo do conflito entre palestinianos e israelitas, ela não é a única pessoa menor de 18 anos presa em Israel. De acordo com um levantamento feito pela B'Tesselem, uma organização não-governamental de direitos humanos, a jovem é uma das mais de 300 crianças e adolescentes palestinianas que estão detidos em prisões judaicas por se insurgirem contra a ocupação da Cisjordânia.

O caso de Ahed Tamimi fez crescer a discussão em torno do tratamento discriminatório de crianças palestinianas, um tema para o qual as organizações internacionais de direitos humanos pedem atenção.

A Amnistia Internacional, citada pelo Jerusalem Post, apela, esta terça-feira, no início do julgamento, à imediata libertação de Ahed, lembrando Israel de que é signatário da Convenção de Direitos da Criança.

A organização de direitos humanos destaca que existem 350 crianças ou adolescentes palestinianos detidos pelo exército israelita, que os sujeita regularmente a “maus tratos, colocação de vendas nos olhos, ameaças, prisão solitária e interrogatórios sem a presença dos seus advogados ou familiares”.

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