Jordi Mir contou à Associated Press que se apercebeu dentro de minutos que colocar as imagens da morte de Ahmed Merabet no Facebook tinha sido um erro. Mas quando o tirou, 15 minutos depois, já era tarde para impedir a sua propagação e divulgação nas redes sociais.
«Precisava de falar com alguém. Estava sozinho no meu apartamento, e pus o vídeo no Facebook. Esse foi o meu erro».
O engenheiro de 50 anos não se apercebeu logo do que estava a filmar na manhã daquela sangrenta de quarta-feira. Quando foi até à janela, perturbado pelo som dos tiros, pensou tratar-se de um assalto a um banco, e confundiu até os atacantes com elementos das forças especiais.
«Eu estava completamente em pânico», contou entrevistado no local onde o polícia foi abatido a tiro.
Bastou uma hora para que a filmagem de 42 segundos , em que se vê o polícia muçulmano no chão, a pedir clemência e a ser assassinado, estivesse a correr a maioria das estações televisivas e a espalhar-se pelo Youtube, o que deixou Jordi transtornado.
«Não há justificação», defendeu, atribuindo o «reflexo» ao hábito de uma década de interação nas redes sociais. «Eu tiro uma fotografia – um gato – e publico no Facebook. É o mesmo reflexo estúpido», afirmou, acrescentando que se pudesse voltar atrás nunca o faria novamente.
«No Facebook não há confidencialidade», «é uma lição para mim», acrescentou.
A publicação do vídeo que correu o mundo em televisões e jornais, levou a família do polícia a lamentar a sua divulgação em conferência de imprensa.
Malek pediu que não confundissem os terroristas com muçulmanos como o seu irmão, «um pilar da família», que estava orgulhoso de servir os franceses há oito anos na polícia e que suportava as suas ações nos princípios nacionais de «liberdade, igualdade e fraternidade».«Como se atrevem a divulgar aquele vídeo?», questionou os jornalistas o irmão de Ahmed, Malek, este sábado. «Eu ouvi a voz dele. Reconheci-o. Vi-o ser assassinado e ouço-o a ser assassinado todos os dias», acrescentou.
O investigador da Universidade de Londres, Asa Cusack, defendeu no Huffington Post que o vídeo despojou Ahmed Merabet da sua dignidade, uma opinião partilhada por muitos. Depois da erupção social de #JesuisCharlie, surgiu o «hashtag» #JesuisAhmed, uma homenagem ao polícia que morreu a defender um jornal que satirizava a sua fé.