Presidente da Argentina anuncia remodelação do Governo após crise política - TVI

Presidente da Argentina anuncia remodelação do Governo após crise política

  • Agência Lusa
  • NM
  • 18 set 2021, 10:17
Alberto Fernández

O novo chefe do gabinete será Juan Manzur, atual governador da província de Tucumán, substituindo Santiago Cafiero, um dos membros do executivo mais contestado por Kirchner

O Presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou na sexta-feira uma remodelação do Governo, após uma crise política iniciada com a derrota da maioria governamental nas eleições primárias, no domingo, que degenerou em conflito com a vice-presidente, Cristina Kirchner.

De acordo com um comunicado da Presidência argentina, citado pela agência Efe, o novo chefe do gabinete será Juan Manzur, atual governador da província de Tucumán, substituindo Santiago Cafiero, um dos membros do executivo mais contestado por Kirchner.

Cafiero assumirá no entanto a pasta dos Negócios Estrangeiros, até aqui nas mãos de Felipe Solá, que se encontra atualmente no México, para participar na Cimeira dos Estados da América Latina e das Caraíbas (CELAC), havendo ainda mudanças em mais quatro ministérios.

Na origem da crise política está a derrota da coligação no poder, "Frente de Todos" (peronismo de centro-esquerda), nas eleições primárias legislativas de domingo passado, nas quais obteve apenas 31% dos votos.

Criadas em 2009, as primárias, uma particularidade da Argentina, são consideradas um barómetro antes das eleições legislativas, agendadas para 14 de novembro, com os resultados a indicarem que a coligação governamental poderá perder a maioria no Senado, quando faltam dois anos para o fim do mandato do Presidente.

Acreditam realmente que não é necessário, depois de tamanha derrota, apresentar publicamente demissões?", questionou a vice-presidente argentina, numa carta aberta divulgada na quinta-feira. "O Presidente deve relançar o Governo e sentar-se com o ministro da Economia para rever números", alegou Cristina Kirchner, que foi Presidente entre 2007 e 2015.

Na quarta-feira, o ministro do Interior Eduardo "Wado" de Pedro demitiu-se, tal como mais quatro membros do executivo, considerados próximos de Kirchner, com as demissões a serem interpretadas como uma forma de pressão da vice-presidente sobre o chefe de Estado, para forçar uma remodelação do governo.

O Presidente não aceitou estas demissões, e os cinco ministros demissionários acabaram afinal por permanecer no cargo, tal como o titular da pasta da Economia e principal interlocutor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Martín Guzmán.

Os novos ministros são Aníbal Fernández (Segurança), Julián Domínguez (Pecuária, Agricultura e Pescas), Juan Perzyck (Educação) e Daniel Filmus (Ciência e Tecnologia).

Juan Ross é o novo secretário da Comunicação e Imprensa, em substituição de Juan Pablo Biondi, que a vice-presidente tinha criticado abertamente, acusando-o de organizar conversas com jornalistas a coberto do anonimato.

Apesar de a política económica ter sido fortemente criticada por Kirchner, que a considerou a principal causa da derrota eleitoral, não foram anunciadas alterações no Ministério da Economia.

A tomada de posse dos novos governantes está agendada para segunda-feira, segundo fontes oficiais, citadas pela Efe.

A Argentina atravessa uma enorme crise económica, agravada pela pandemia de covid-19, com elevadas taxas de pobreza (42%) e desemprego (10%) e uma das taxas de inflação mais altas do mundo (32% de janeiro a agosto), além de uma dívida pendente ao FMI de 44 mil milhões de dólares (cerca de 37 mil milhões de euros).

Na quinta-feira, o Presidente argentino cancelou todas as viagens ao exterior, para evitar que a vice-presidente, com quem trava um duelo político, assumisse o controlo do Governo.

Parceira maioritária na coligação de Governo e detentora do verdadeiro poder, Cristina Kirchner culpou Alberto Fernández pela "derrota eleitoral sem precedentes para o peronismo".

Sempre expus ao Presidente o que, para mim, constituía uma delicada situação social. Avisei-o que conduzia uma política de ajustamento fiscal errada que teria, invariavelmente, consequências eleitorais", acusou.

"Cansei-me de dizer o mesmo e a resposta foi sempre que eu estava errada", criticou, então.

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