30 anos após a queda do Muro, a história do herói desertor - TVI

30 anos após a queda do Muro, a história do herói desertor

Chama-se Sparwasser e marcou o golo da única vitória da Alemanha Oriental sobre a Alemanha Ocidental

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A história do futebol da Alemanha Oriental está intimamente ligada a um nome: Jurgen Sparwasser. Foi ele quem marcou o golo da única vitória sobre a Alemanha Ocidental. O que se tornou um feito capitalizado pelo regime comunista de leste.

Até ao dia em que também Sparwasser fugiu. Como cerca de cinco mil alemães orientais.

Mas por partes.

Primeiro o golo. Aconteceu em Hamburgo, no Mundial organizado pela Alemanha Ocidental. O pontapé vitorioso aos 77 minutos permitiu à Alemanha de Leste ganhar o grupo à frente da Alemanha Ocidental.

O que deixou às portas do céu o orgulho do bloco de leste. Até o defunto Estaline exultou na campa.

Sparwasser foi então convertido num menino-propaganda do regime. Uma distinção que o jogador nunca quis.

Por isso fugiu.

Aproveitou um jogo de veteranos e desertou. Estabeleceu-se em Frankfurt, onde trabalhou como adjunto do Eitracht. Foi na capital financeira da Alemanha que soube da queda do Muro de Berlim.

Ora no dia em que se completam trinta anos sobre a queda do Muro de Berlim, o Maisfutebol recorda uma conversa tida com Sparwasser, hoje um idoso de 71 anos a viver em Frankfurt.

Antes de mais, convém dizer que o herói da antiga Alemanha de Leste não quer ser lembrando como uma arma da Guerra Fria, .

«Na época existia uma grande rivalidade e eu fiquei obviamente feliz com o golo. Mas foi um jogo como outro do Mundial. Disseram que eu fiquei rico, mas não é verdade. O golo só me deu fama e a fama deu-me oportunidades».

As oportunidades surgiam porém condicionadas pelo regime e pela Stasi. O que Sparwasser nunca aceitou.

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Por isso em 1988, já depois de encerrar a carreira de jogador e um ano antes da queda do muro de Berlim, fugiu para a Alemanha Ocidental. Aproveitou uma viagem a Frankfurt e ficou lá.

«Dava aulas na universidade e fui indicado para treinador do Magdeburgo, o clube que representei toda a vida como jogador. Eu só queria dar aulas e o regime só queria que eu fosse treinador do Magdeburgo. Era um momento político diferente e não podia dizer-se que não. Para não acabar com as perspetivas de carreira académica, fui obrigado a sair. O regime não me dava hipótese de escolha.»

Curiosamente Sparwasser não foi o único desertor do regime. Lutz Eigendorf, defesa da selecção e do Dínamo de Berlim (o clube da Stasi) também fugiu. Aproveitou um jogo com o Kaiserlautern e nunca mais regressou ao lado oriental do Muro. Eigendorf teve porém um fim bem mais trágico.

A deserção aconteceu em 1979, numa altura em que o fim da divisão ainda estava longe. Pouco depois de fugir, Eigendorf morreu na sequência de um acidente de automóvel. Na altura disse-se que o jogador estava bêbado. Após a queda do Muro, descobriu-se que o acidente tinha sido provocado pela Stasi.

Trinta anos depois da queda do Muro, Sparwasser diz que são episódios da história.

«A Alemanha Oriental foi integrada na Alemanha Ocidental e as diferenças foram sendo absorvidas», sublinha, quem quer apenas enterrar o passado político e ser lembrado pelo que fez dentro dos relvados.

«Aquele jogo foi muito marcante e é um motivo de celebração independente de qualquer questão política.»

Veja o golo de Sparwasser:

 [Artigo originalmente publicado a 9 de novembro de 2009]

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