Shell adivinhou mudanças climáticas mas pouco fez para as evitar - TVI

Shell adivinhou mudanças climáticas mas pouco fez para as evitar

  • PD
  • 28 fev 2017, 19:29
Complexo petrolífero da Shell - Singapura (2011)

Cassete de 1991 produzida pela petrolífera alertava para os perigos de se continuar a explorar desenfreadamente as energias fósseis. Alertava-se para o aquecimento global, fome, migrações e refugiados

Mais de meio quarto de século e percebe-se que acertaram na mouche. Em 1991, os cientistas que produziram o documentário "Clima de preocupação" para a petrolífera anglo-holandesa alertavam para os perigos da exploração de combustíveis fósseis, como o petróleo.

O vídeo informativo de 28 minutos, destinado a ser mostrado em escolas e universidades, avisava para as consequências, que passavam pelas "variações extremas de temperatura, inundações, fome e suas vítimas".

A cassette foi agora redescoberta pelo jornal online holandês De Correspondent, que o visionou e ouviu o alerta para a necessidade de se "agir imediatamente". Isto, em 1991.

"Quem vai cuidar dos refugiados"?

No vídeo, os cientistas responsáveis pelo documentário avançavam com previsões que, inquiridos hoje pelo jornal, consideraram terem sido infelizmente acertadas.

Ilhas tropicais hoje pouco acima da água [em 1991] tornar-se-ão inabitáveis para serem posteriormente inundadas pelas águas (...) aquíferos nas planícies costeiras do mundo, essenciais para a agricultura e abastecimento urbano, serão contaminados", ouve-se na locução do documentário da Shell.

Tom Wigley, que chefiou o departamento de Pesquisa Climática da Universidade britânica de East Anglia entre 1978 e 1993, foi um dos cientistas que ajudaram a desenvolver o vídeo para a Shell. Confrontado pelo jornal holandês, afirmou estar "espantado com o acerto das previsões tendo em conta o que se sabia há 25 anos".

O vídeo adverte para "as variações extremas de temperatura, inundações, fome e suas vítimas", que afetariam "todo o mundo continuando a queimar energia fóssil". E adiantava mesmo outras consequências, para as quais apenas deixava perguntas:

Quem vai cuidar dos refugiados das mudanças climáticas num mundo superpovoado sujeito a estas mudanças extremas de temperatura?"

Resposta da Shell

Além das previsões, que se estão a revelar acertadas, os cientistas responsáveis pelo vídeo defendiam então, em 1991, por exemplo, a necessidade de apostar na energia eólica.

Sucede que, segundo a organização não-governamental britânica InfluenceMap, a "Shell investiu em 2015 cerca de 20,7 milhões de euros em lobbying contra as políticas destinadas a conter a mudança climática".

Do lado da companhia, a visão é inevitavelmente diferente. Reagindo à publicação do vídeo de 1991, a Shell acrescentou que lidera a produção de gás natural e etanol obtido a partir da fermentação da cana-de-açúcar, o hidrocarboneto e biocombustível menos poluente, respectivamente.

Além disso, a Shell respondeu que "reconhece os desafios das alterações climáticas e o papel da energia na manutenção da qualidade de vida das pessoas".

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