Alterações climáticas na Antártida terão efeitos irreversíveis em todo o mundo - TVI

Alterações climáticas na Antártida terão efeitos irreversíveis em todo o mundo

  • SS
  • 13 jun 2018, 19:17
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Um estudo que é publicado na quinta-feira na revista Nature conclui que as escolhas feitas nos próximos anos para a Antártida determinarão o futuro da região

Um estudo que é publicado na quinta-feira na revista Nature conclui que as escolhas feitas nos próximos anos para a Antártida determinarão o futuro da região, cujas alterações climáticas terão impactos ambientais irreversíveis em todo o planeta.

Mudanças na região Antártica vão ter consequências no resto do planeta e na Humanidade e as escolhas feitas na próxima década vão certamente afetar a Antártida e o mundo a longo prazo”, revela o estudo, segundo a Universidade de Coimbra (UC).

Os autores da investigação são todos “vencedores do prestigiado prémio Tinker-Muse para a Ciência e Política na Antártida” e “especialistas em diversas disciplinas científicas, incluindo biologia, oceanografia, glaciologia, geofísica, ciências climáticas e política”, refere a UC, numa nota enviada à agência Lusa.

O único cientista português que participa no artigo é José Xavier, docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e investigador do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE), que venceu o Tinker-Muse 2011.

O estudo põe em contraste duas narrativas sobre o futuro da Antártida, a partir da perspetiva de um observador em 2070 olhando para trás, isto é, para os últimos 50 anos, explica a UC, adiantando que “cada narrativa realça as ramificações a longo prazo das decisões tomadas hoje”.

Os dois cenários, “baseados em ciência, representam futuros alternativos plausíveis, em vez de previsões”, salienta.

Num desses dois cenários, “as emissões de gases de efeito de estufa continuam a aumentar, o clima continua a aquecer e as ações políticas são poucas para responder aos fatores sociais e ambientais na Antártida”.

Nesse que é o pior dos cenários, o nível das águas dos oceanos subiria um metro, podendo chegar a 3,5 metros, as correntes oceânicas mudariam, a água do mar aquecia mais dois graus e a acidez dos oceanos alcançaria um ponto em que algumas criaturas marinhas seriam incapazes de formar as conchas adequadamente.

Neste contexto, “a Antártida sofrerá mudanças rápidas por toda a região, com consequências no resto do mundo”, descreve a UC, adiantando que, “em 2070, o aquecimento causou o degelo e acelerou o aumento do nível global do mar, alterou os ecossistemas marinhos e o aumento ilimitado do uso humano na Antártida degradou o ambiente e introduziu pestes invasivas”.

Na segunda narrativa, “ações ambiciosas são adotadas para limitar as emissões dos gases de efeito de estufa e estabelece políticas para reduzir a pressão antropogénica no ambiente, abrandando a taxa de mudança na Antártida”.

Nesta situação de baixas emissões – “ações rápidas e efetivas para a redução de emissões de gases e implementação de políticas para minimizar mudanças na Antártida” –, as plataformas de gelo “mantêm-se intactas, há um abrandamento do aumento do nível global do mar, os ecossistemas mantêm-se intactos e a pressão humana na Antártida é gerida apropriadamente”.

O estudo permitiu “compreender quais são as grandes ameaças que se enfrenta hoje na Antártida, como o degelo e a acidificação dos oceanos, e também as suas consequências no resto do mundo, como no nível da água do mar global”, destaca, citado pela UC, José Xavier.

Os cientistas defendem a importância de se manter o atual cenário de proibição de extração de recursos (como carvão ou minério de ferro) na Antártida, e de se minimizar os impactos do turismo e da pesca, e enfatizam a necessidade de cooperação internacional e a criação e aplicação de regulamentos para a Antártida, apoiados em programas de investigação.

“O que se decidir politicamente em relação ao ambiente na próxima década vai ter consequências para as gerações seguintes”, sublinha José Xavier, considerando que, no entanto, “ainda se está a tempo de agir”.

Mas o tempo para agir “está a escassear”, alerta o docente da FCTUC e coautor do artigo da Nature.

 

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