Amnistia denuncia enforcamentos arbitrários em prisão da Síria - TVI

Amnistia denuncia enforcamentos arbitrários em prisão da Síria

  • Paulo Delgado
  • 7 fev 2017, 12:29

Relatório acusa governo sírio de ter executado 13 mil pessoas em cinco anos na cadeia de Saydnaya, nos arredores da capital, Damasco. Vítimas eram na maioria opositores do regime. Cinquenta eram enforcadas por semana

"Política de extermínio", pura e simples, é a conclusão do relatório da Amnistia Internacional sobre o que se passa na prisão de Saydnaya, após ter ouvido 84 testemunhas, incluindo guardas, prisioneiros e juízes.

Desde setembro de 2011 até dezembro de 2015, 13 mil pessoas, na sua maioria civis e opositores do regime do presidente Bashar al-Assad, foram enforcadas na cadeia.

O relatório, intitulado "Matadouro Humano: Enforcamento em massa e extermínio na prisão de Saydnaya", refere que, pelo menos uma vez por semana, 50 detidos eram retirados das celas para julgamentos arbitrários. Eram espancados e posteriormente enforcados "no meio da noite e em total sigilo".

Durante todo esse processo, eles permaneciam com os olhos vendados. Não sabiam quando ou como iriam morrer, até lhes porem a corda à volta do pescoço", refere o relatório, com base nos testemunhos recolhidos.

Um antigo juiz sírio que diz ter visto execuções, relatou à Amnistia que os enforcados ficavam pendurados durante "10 a 15 minutos".

No caso dos mais jovens, quando o seu peso não era suficiente para os matar, os guardas puxavam-nos para que partissem o pescoço", relata o juiz.

Obrigados a violar outros presos

A Amnistia Internacional sustenta que, na prisão militar de Saydnaya, as condições dos detidos eram miseráveis. Eram obrigados a violar companheiros e os guardas, por regra, atiravam-lhes a comida para o chão, normalmente sujo de sangue e lixo.

Todos os dias havia dois ou três mortos na nossa ala. Lembro-me do guarda perguntar quantos éramos. "Dizia: cela número um, quantos? Cela número dois, quantos? E assim por diante", contou um ex-prisioneiro, identificado no relatório com o nome falso de Nader.

Além de prisioneiros, o relatório da Amnistia Internacional revela também testemunhos de antigos oficiais do exército sírio, que acabaram presos.

Dormíamos por cima do som de pessoas sufocando até à morte. Então, isso era normal para mim", refere um oficial identificado como Hamid, que foi detido em 2011.

Negociações a prazo

Para a Amnistia Internacional - que além do relatório criou mesmo uma animação virtual mostrando os locais onde ocorrem os horrores na cadeia de Saydnaya - o regime sírio continua a levar a cabo execuções em massa, que equivalem a crimes de guerra e contra a humanidade.

O relatório do grupo de defesa dos Direitos Humanos ocorre a duas semanas de uma nova ronda de negociações de paz para a Síria, que deverá ocorrer na Suíça.

As próximas negociações de paz para a Síria, em Genebra, não podem ignorar estas revelações", sustenta Lynn Maalouf, uma das responsáveis da Amnistia Internacional na capital libanesa, Beirute, para quem "o fim destas atrocidades nas prisões do governo sírio tem de ser avaliado".

De acordo com anteriores denúncias da organização, mais de 17.700 pessoas terão sido mortas nas prisões da Síria, desde o início da guerra, em março de 2011. Sem incluir as 13 mil que terão sido executadas em Saydnaya.

Os horrores descritos neste relatório revelam uma campanha oculta e monstruosa, autorizada ao mais alto nível pelo governo sírio, com o objetivo de esmagar qualquer forma de dissidência no seio da população", acusa Lynn Maalouf.

 

 

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