Menina de 9 anos troca máscara por alimentos em semáforo do Rio de Janeiro - TVI

Menina de 9 anos troca máscara por alimentos em semáforo do Rio de Janeiro

Ana Júlia

Ana Júlia foi fotografada por um condutor com um cartaz que dizia "Troco uma máscara por um alimento". A imagem foi partilhada nas redes sociais e gerou uma onda de solidariedade no Brasil

Chama-se Ana Júlia e tem apenas nove anos, mas é já a imagem dos efeitos da pandemia no Brasil. A menina foi fotografada, num semáforo da Avenida Alfredo Balthazar da Silveira, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, por um condutor com um carta que dizia "troco uma máscara por um alimento".

Segundo o jornal Globo, a imagem foi partilhada nas redes sociais e rapidamente se tornou viral. Pouco depois, dezenas de pessoas dirigiram-se ao local onde Ana Júlia se encontrava com a mãe para lhes levar alimentos, água e produtos para higiene.

Em tempos de pandemia, a mãe de Ana Júlia, Silvana Costa, perdeu os dois empregos: o de empregada doméstica e o de vendedora de gelados na praia. 

Ao ficar sem dinheiro e sem comida para alimentar os filhos, a brasileira pegou nas crianças - porque não tinha com que as deixar - e nos doces que tinham sobrado da venda de praia e percorreu 30 quilómetros para vender no semáforo no sábado.

"Como tinha alguns doces que vendia na praia, decidi tentar vendê-los aqui. Também pedi a uma vizinha que fizesse umas máscaras para vender. Era o que me restava. Recebi os 600 reais (94 euros) de ajuda do governo, mas não foi suficiente", conta Silvana.

A mãe voltaria ao local nos dias seguintes para vender mais doces e conseguir colocar comida na mesa para os filhos.

"Vim no sábado, no domingo e na segunda-feira para vender os doces.Geralmente, saímos de casa pouco depois das 7:00 e volta às 13:00. Viemos porque estavam a faltar alimentos para eles", acrescenta.

Na terça-feira, quando Ana Júlia foi fotografada, as duas estavam a vender máscaras e doces para conseguirem comprar comida. 

Rúbio Santana, o responsável pela imagem, contou ao jornal brasileiro que tirou a fotografia não para expor a menina, "mas para mostrar que ela é um símbolo da realidade do que muitas pessoas estão passando e muita gente não está a ver esse problema".

"Naquele momento que ela passou, segurando a placa, me deu um nó na garganta. Doeu no coração porque tenho uma criança de seis meses. Foi uma mistura de sentimentos".

A publicação tornou-se viral e rapidamente se formou uma onda de solidariedade para encontrar Ana Júlia e ajudar a menina e a família. Entre as centenas de pessoas, estava o apresentador Luciano Huck.

Esta quarta-feira, o apresentador conseguiu entrar em contacto com Silvana e afirmou que as vai ajudar de forma integral, tendo pedido à mãe de Ana Júlia que volte para casa e que não venda mais produtos na rua.

Em declarações ao jornal Globo, Luciano Huck, que também partilhou a história no Instagram, disse que ficou emocionado com a imagem e que imaginou os filhos naquela situação.

"Como eu tenho dito com bastante frequência: a solidariedade tem que ser mais contagiosa que o vírus. A Ana Júlia e a família dela são a materialização das consequências dessa pandemia nas famílias (brasileiras). A mãe trabalhava a vender gelados na praia. Hoje, não há ninguém na praia. A mãe trabalhava como empregada doméstico, acabou o trabalho também. (Ela) cuida dos filhos sozinha e pela primeira vez na vida abriu o frigorífico e o armário e não tinha comida para as crianças e nem para ela. E, por isso, foi para a rua tentar ajuda. Graças a Deus, hoje em dia as pessoas estão olhando a sua volta e percebendo que estamos mais conectados do que nunca e que um problema na favela é o mesmo problema do asfalto", afirmou o apresentador.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Ana Julia, que bom que nos encontramos pelo caminho. 🙏🏻

Uma publicação partilhada por Luciano Huck (@lucianohuck) a

O Brasil tem registados 13.149 óbitos e 188.974 casos confirmados desde o início da pandemia.

Continue a ler esta notícia